24 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Juro que tentei de todas as formas fugir de qualquer referência sobre a copa neste texto de quinta, mas forças ocultas poderosíssimas me puxaram para este tema, de uma forma ou de outra. Não pretendo tratar de propriamente do (jogo de) futebol, mas não vi como fugir da Alemanha, afinal… A pergunta que não quer calar estes dias é: como a Alemanha pode ser um país (time) tão forte, tão eficiente? Assim, resolvi refletir um pouco sobre o modelo alemão de produção que expressa algumas características próximas àquelas observadas no time que nos arrasou.
O modelo alemão combina elevados níveis de produção com uma utilização intensiva de tecnologia apoiada em uma força de trabalho altamente qualificada, criando uma economia baseada em altos salários e alta produtividade. Ainda hoje, a Alemanha é o terceiro maior exportador de produtos industrializados do mundo perdendo apenas para os EUA e, apenas recentemente, pela China. Os produtos alemães são de elevada qualidade voltando-se principalmente para os segmentos superiores de mercado. São oito finais de copa e doze semi-finais!
Um dos aspectos primordiais deste modelo é o sofisticado e elaborado sistema de educação profissional que garante a formação de um trabalhador altamente qualificado e apto para atuar nas mais variadas funções. Este característica é reforçada por uma rede de instituições da qual participam conjuntamente patrões e empregados o que permite o ajustamento negociado às necessidades e flutuações econômicas e à introdução de inovações gerenciais e tecnológicas nas organizações. Dessa forma, a rigidez da regulamentação externa é compensada por um elevado grau de flexibilidade interna nas organizações. Não é a toa que a maioria dos jogadores atua no próprio campeonato alemão.
Da perspectiva da gestão da produção, o modelo parece se assentar na redundância de equipamentos o que leva à redução dos tempos de ajustamento e dos níveis de estoque, já que a linha de produção tem um alto grau de flexibilidade. Esta característica é reforçada pelo uso intensivo de tecnologia que permitem a redução dos níveis de equilíbrio da produção e uma maior flexibilidade na utilização de equipamentos. Pois é, os alemães não dependem de um único jogador, eles são conjunto, um time.
Essa forma de organizar o ambiente de trabalho é bem sucedida em um contexto específico. Entretanto, os mesmos elementos que lhes marcam o sucesso parecem se constituir em obstáculos para sua aplicação mais genérica e para sua utilização na produção em contextos organizacionais distintos daqueles em que eles surgem, uma vez que os arranjos institucionais que os apoiam não podem ser transplantados de um país para o outro. Ou seja, se o Brasil quiser alcançar o hexa, algum dia, terá que descobrir e desenvolver um modelo próprio de gestão que esteja de acordo com as características de seu ambiente institucional. Falar é fácil, fazer é difícil, mas como somos um país de duzentos milhões de técnicos, fica aqui a minha análise sobre a eficiência alemã.