Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

E agora José?

Uma das notícias mais interessantes da semana que passou foi a divulgação da pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias sobre as dificuldades de contratação de mão de obra que o setor vem experimentando, mesmo diante de uma virtual estagnação no crescimento da atividade industrial. Entretanto, ainda que vários veículos tenham divulgado esta notícia, todos apresentaram o mesmíssimo texto, em uma clara indicação de que o conteúdo foi extraído de um serviço de produção de notícias ou foi recebido como um press release.  De uma forma ou de outra, a informação original parece não ter sido lida e, por este motivo, o conteúdo conhecido foi muito menor e menos rico do que a informação originalmente produzida.

Dos elementos perdidos no CTRL+C/CTRL+V de nossos formadores de opinião, dois me chamaram particular atenção: o primeiro diz respeito às consequências menos obvias das dificuldades identificadas; e a segunda aponta para as estratégias adotadas pela indústria para superar este problema.

No campo das consequências há uma clara percepção, compartilhada por 74% dos entrevistados, de que o quadro atual gera entraves sérios para ganhos de produtividade, seja por aumento de eficiência, seja por redução de desperdícios. Ou seja, em um setor submetido à forte concorrência internacional, a falta de mão de obra qualificada equivale a uma real perda de mercado e, consequentemente, perda de postos de trabalho. Neste contexto, o consumidor também sai prejudicado, já que uma segunda consequência importante diz respeito a incapacidade de expandir e mesmo garantir níveis de qualidade do produto, conforme indicado por 61% dos entrevistados.

Já no campo das estratégias que a indústria tem utilizado para suprir a falta de pessoal técnico qualificado, encontramos a realização da capacitação no próprio ambiente de trabalho como a ação mais preponderante (81% das respostas). Aqui temos duas situações graves: a primeira, diz respeito ao fato de que as empresas precisam desenvolver competências e gastar recursos para realizar atividades educacionais que não deveriam ser desenvolvidas por elas. É importante observar, que em muitos casos não estamos falando de treinamentos para operação de máquinas específicas, nem treinamentos em processos de trabalho.  E aqui temos o segundo problema, os números não deixam claro a real extensão das dificuldades. Voltemos….

Em uma conversa que tive com o pessoal do RH de uma grande indústria multinacional localizada no Polo Petroquímico de Camaçari, me foi dito que eles têm que ensinar noções básicas de português e matemática, pois faltam este conhecimentos aos possíveis candidatos às vagas de emprego. Entretanto, muito pior do que isso, foi a revelação de que uma turma inteira foi recentemente desligada dessa atividade de qualificação por problemas de comportamento dos canditatos. Ou seja, eles não sabiam como se comportar uns em relação aos outros.

No quadro específico da Bahia, a tendência é que esse problema de contratação piore nos próximos anos, já que a implantação das fábricas da JAC Motors e do Boticário exercerá uma forte pressão por mão de obra em um mercado onde não existe mais oferta disponível. Já existem indicações da existência de um fluxo de trabalhadores, vindos do vizinho Sergipe, que começam a se deslocar para suprir essas dificuldades. Enquanto isso, a região metropolitana de Salvador apresenta uma das taxas mais levadas de desemprego do país, perto dos 20%. Como diz o ditado, “ e agora José?”.

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