Ernesto Britto Ribeiro

Turismo e Economia criativa

Ernesto é mestre em Administração Estratégica e trabalha com foco em desenvolvimento turístico desde 2001. Foi professor de disciplinas de Planejamento Turístico e Políticas Públicas de Turismo na Faculdade Visconde de Cairu e na Factur. Foi secretário municipal em Itaparica e sub-secretário em Salvador. É sócio da SOBRETURISMO CONSULTORIA, empresa especializada em projetos de desenvolvimento setorial, com inúmeros trabalhos na Bahia e no Piauí, sempre na área de turismo e economia criativa. Ele escreve às sextas-feiras neste Política Livre.

Bahia, França, Portugal e Espanha

Acontecido o sorteio dos jogos da Copa FIFA 2014, nos hotéis da Costa do Sauipe, resta-nos analisar nosso turismo receptivo para esses países e trabalhar com foco para gerar o máximo de legados com esse público já definido pela sorte. E que sorte!

As seleções sorteadas para jogos iniciais na Arena Fonte Nova são França, Portugal, Espanha, Alemanha, Holanda, Suíça, Bósnia e Irã. Temos que considerar que teve um sopro da sorte nessa escolha de países. Poderíamos receber apenas países que não representam nada em nosso turismo receptivo, mas não, se Papei Noel existe, foi ele que nos trouxe Portugal, Espanha, França e Alemanha.

Conheço bem os franceses e seu lindo país. Eles adoram a Bahia. Podemos contar com milhares de franceses vestidos de azul, vermelho e branco, gritando, cantando, dançando, se misturando com nosso povo multicolorido. Muitos franceses moram na Bahia, são proprietários de hotéis e pousadas, trabalham como professores e se relacionam muitíssimo bem com nossa terra. Aqui, muita gente fala a língua de Napoleão, haja vista que a Aliança Francesa está instalada há décadas na Bahia oferecendo cursos regulares e de conversação. Que venham os franceses.

Quanto à vinda da Espanha, será uma festa só. Temos a maior colônia de galegos do Brasil. Espanhóis e seus descendentes fazem parte de nossa sociedade já há muito tempo. São Fidalgos, Kikos, Vidal, Oubinhas, Faro e tantos espanhóis que dominam o comércio, a hotelaria e as padarias aqui em nossa terrinha, que nem percebemos mais os sobrenomes ibéricos. Falando do jogo especificamente, teremos uma réplica da final da última copa com Espanha e Holanda se enfrentando sob nossos olhos. Os turistas espanhóis também adoram a Bahia e, em especial, Carlinhos Brown e o Candeal. Será muita gente falando espanhol nas vielas do Candeal e de toda a cidade.

Para concluir o triunvirato dos apaixonados pela Bahia, aparece Portugal, terra natal de D. Pedro I e tantos outros heróis brasileiros. Os portugueses desejam visitar o Brasil e, sobretudo, a Bahia e, mais ainda, a cidade de Porto Seguro. Para se ter uma ideia, 19% dos turistas estrangeiros que visitam Porto Seguro são Portugueses, conforme pesquisa Setur/FIPE USP. É o maior índice de Portugueses em qualquer cidade brasileira. Eles querem retornar ao início e isso é muito bom.

Além de Espanha, França e Portugal, a Alemanha vai passar por aqui para jogar contra nossos irmãos portugueses. Os germânicos e os três anteriormente citados formam um quadro que representa quase 35% dos turistas estrangeiros que visitam a Bahia. Pensando somente em Salvador, esses países representam aproximadamente 42% do total de visitantes. Pena que não teremos a Itália, mas o fato é que fomos sortudos no sorteio dos jogos.

Se tivermos o mínimo de preparação para receber esse público que já adora nossa terra e virá em massa para a Copa, faremos bonito e deixaremos neles o desejo do retorno. Se saírem daqui falando bem, será o céu. Para isso, coisas simples podem ser intensificadas, agora que já sabemos as línguas faladas pelas principais seleções que visitarão a Bahia. Fortalecer a língua espanhola e francesa, sem se esquecer da inglesa, é um primeiro passo. Sinalização, impressos e cardápios nessas línguas também ajudará um montão. Instalar postos de informações turísticas com profissionais fluentes em espanhol, francês e inglês também será necessário.

E depois da Copa, o que termos de legado no fluxo de turistas na Bahia? Para começar, o visual aqui é lindo mesmo. Um passeio pela Baía de Todos os Santos é suficiente para derrubar de amores qualquer europeu. Mas precisamos de mais do que simplesmente as belezas naturais ou arquitetônicas históricas. Precisamos ser muito bons para alguns visitantes, esquecendo de querer ser bons para todos. Sinceramente, eu daria especial atenção aos visitantes portugueses, espanhóis, franceses e alemães, que são grandes polos emissores de turistas e que já têm uma queda especial por nossa terra. Querer ser bom para todos é o primeiro passo para não ser bom para ninguém, portanto, foco em quem voltará com mais intensidade.

E você, profissional de turismo e da economia criativa, já começou a se comunicar em espanhol, francês ou inglês?
Aproveito este artigo para desejar um ano novo de muita saúde e alegria para você, leitor. ‘Au revoir’

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