23 novembro 2024
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
Quase dez anos se passaram desde que foi instituído o Bolsa Família, com o título de maior programa de transferência de renda do país. Não há dúvida que muitos brasileiros desprovidos de qualquer ganho conseguiram sobreviver graças à entrada desse recurso. Hoje são mais de 13 milhões de famílias contempladas. Uma segunda geração cresceu como testemunha ocular do benefício sendo recebido pelos pais. A grande questão no ar é: será que esses adolescentes entenderam bem o significado do programa ou se acomodaram definitivamente a ele?
Algumas reportagens produzidas país a dentro detectaram que milhares de jovens mulheres colaboraram para o aumento da taxa de natalidade pois sabiam que havia o Bolsa Família e deixaram nascer os netos para morar todos juntos na casa das matriarcas – primeiras beneficiadas, o que gera uma dependência contínua e questionada.
O valor do benefício é proporcional ao número de filhos e isso pode ser um gatilho impulsionador para a consolidação da miséria. Ora, com a prole, não vai sobrar muito tempo para a garota ainda muito jovem estudar. Certamente, em pouco tempo, ela vai terminar alimentando os crescentes índices de abandono escolar.
O subemprego vai se perpetuar em algumas famílias, especialmente nos municípios mais longínquos, e poucas perspectivas de mudarem suas vidas terão milhões de jovens daí pra frente.
Ensinar a pescar ou dar o peixe? Eis a questão que atormenta muita cabeça pensante e de execução no país que tem se habituado a ver brasileiros contarem com o assistencialismo e não com uma educação de qualidade onde as crianças possam, ao invés dos oitos anos, mas aos seis anos de idade já estar alfabetizadas. Ler e interpretar um texto, dispor de um vocabulário recheado de novas palavras e entender o mundo com mais amplitude. Esse é o desejo da maioria dos professores para o futuro de seus alunos.
Para completar o quadro, um Projeto de Lei que exigia o acompanhamento dos pais ao rendimento escolar dos filhos não foi aprovado no Congresso Nacional recentemente – em função do trabalho do governo para que fosse rejeitado. A proposta, do senador Cristovam Buarque, se baseava na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação que estabelecem a participação da comunidade escolar no processo pedagógico elaborado pelas escolas. Dessa forma, como dito linhas atrás, as famílias ficam longe da escola, os adolescentes com filhos também e o assistencialismo que causa dependência permanece firme e forte.
Seria esse benefício, que reduz a fome das famílias, também um estímulo à inércia, uma motivação às avessas?
Será que, talvez, não fosse melhor, mais benéfico e proveitoso a geração de empregos, o estímulo ao trabalho, a criação de cursos profissionalizantes remunerados, tudo isso aliado a uma educação de base forte e sólida, para suprir a falta de mão de obra qualificada, que se tornou carência evidenciada em todo o Brasil? Quem sabe assim poderíamos superar a dependência econômica e moral da população?