Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Contrastes

Durante a crise econômica que se abateu sobre os EUA em 2008 as autoridades da cidade de Nova York começaram a se preocupar com a grande dependência do setor financeiro e bancário. Foi neste contexto que o prefeito Michel Bloomberg lançou o desafio de planejar e construir do zero um campus tecnológico para a cidade, um hub para inovação, tecnologia e empreendedorismo. Afinal, empresas como Facebook e Google eram a prova viva de que o Vale do Silicone e os arredores da Boston eram áreas muito mais dinâmicas que a cidade de Nova York. O desafio foi vencido por uma parceria entre a Universidade de Cornell e o Technion Israel Institute of Technology. O campus ainda se encontra em fase de construção, mas já dá provas de que será um sucesso. O Google decidiu que abrigará a universidade nas suas instalações até 2017, de graça.

Já nas terras de Caramuru e Catarina, Leidiane, 26 anos, acorda 4:30. Ela mora em Paripe e precisa pegar o ônibus das 5:30 para que possa chegar às 7:00h na Vitória onde trabalha como empregada doméstica. Seu filho dorme na casa da babá desde que as professores passaram a reclamar que ele dormia durante as aulas. No ano passado ela decidiu que voltaria à escola, essa era a possibilidade de buscar de um futuro melhor. Ela se matriculou em colégio estadual em um programa de educação de jovens adultos, uma versão dos antigos supletivos. Este ano Leidiane decidiu abandonar a escola. Não foi a jornada dupla, nem foram as pressões familiares que a afastaram dos bancos escolares, da mesma forma não foram os banheiros sem água nem o professor de física que só apareceu uma vez em todo o ano passado, foi a violência.

O que começou como um sonho virou pesadelo. Na escola Leidiane se deparou com colegas que fumam maconha e cheiram cocaína em plena sala de aula. O ambiente da está dominado e dividido por duas gangues rivais, os EA e os NÓIS, que disputam o domínio do lugar e constantemente abordam os alunos perguntando a qual dos grupos eles pertencem. Não é preciso nenhum grande esforço para perceber que a resposta errada termina em uma seção de espancamento. Já as meninas sofrem duplamente, já que as ameaças de estupro são constantes. Leidiane diz que as rondas escolares passaram por lá duas vezes, mas isso já faz um bom tempo. A vice-diretora é bem intencionada e tenta controlar a situação, mas o carro dela já teve os pneus furados duas vezes.

Leidiane diz que ela é muito jovem para morrer e que o filho ainda precisa muito dela, frequentar a escola não vale o risco. Ela não completará sua formação e não terá o tão sonhado diploma. Ela não cursará a universidade tecnológica de Nova York ou qualquer outra. De qualquer forma, Leidiane não precisa se preocupar, afinal, seu ”futuro” está garantido com a PEC das trabalhadoras domésticas…

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