Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Democracia e Participação

Na coluna da semana passada, mobilizado pela previsibilidade dos desastres que seguem às chuvas nesta cidade tropical e pela repetição das eternas desculpas de sempre para o óbvio, deixei passar em branco o primeiro de Maio, um fato indesculpável para uma coluna que se pretende focada no trabalho.

Vou aproveitar para pongar na agenda política atual e tratar de uma questão fundamental, mas que considero ausente (ou pelo menos muito pouco visível) do debate, a questão da democracia e da participação no ambiente de trabalho compreendida como a aplicação de práticas democráticas como consultas, debates, votação e participação no processo decisório ao contexto de trabalho ou ao envolvimento do trabalhador na gestão. Existem várias maneiras de se fazer isso, que vão desde a caixa de sugestão ao controle total do empreendimento passando pelos vários mecanismos de comunicação e cogestão.

De um modo geral, podemos identificar duas origens bastante distintas para o tema da participação no contexto de trabalho. De um lado, temos os movimentos organizados de representação (sindicatos) que trazem em suas agendas políticas o aumento do poder e da influência dos trabalhadores como uma forma de superação da divisão do trabalho e um maior equilíbrio de força com o poder econômico. Essa vertente tem sua expressão ideológica ancorada em diversas tradições políticas de esquerda como, por exemplo, o socialismo, o anarquismo, o mutualismo, o anarco-sindicalismo.

Esse movimento já foi mais forte em nosso país sem que tenha chegado a ser verdadeiramente significativa. Dizem que o baixo nível de organização de algumas categorias e a tradição “peleguista” de nossos sindicatos seria uma das explicações para a pouca força e prevalência dos ideais de participação e democracia no trabalho. Por outro lado, o movimento sindical tem uma associação muito estreita com a atividade industrial que demanda, por suas características particulares, um trabalhador mais qualificado e mais sensível a questões de natureza política. Sendo um país de industrialização tardia e desigual, isso explicaria a baixa prevalência e a pouca visibilidade desse tema.

Uma segunda origem desses movimentos pode ser localizada no processo de reestruturação produtiva que se segue à crise do petróleo na década de oitenta. Dito de outra forma, a participação surge como reação à crise do modelo fordista taylorista de produção, com o desmantelamento das grandes estruturas burocráticas em prol de organizações mais enxutas e flexíveis e que passam a demandar um maior envolvimento do trabalhador, seja na busca por níveis mais elevados de qualidade, seja na solução imediata de problemas que emergem do processo produtivo ou ainda na busca pela satisfação dos clientes.

Alguns estudiosos, especialmente aqueles que esposam uma perspectiva marxista do trabalho, criticam essa vertente pela sua origem gerencial e sua ideologia, fundamentalmente, pró capital. Em grande medida essa vertente se manifesta em várias das modernas práticas de gestão, muitas das quais, ainda não estão largamente difundidas em nosso país.

O fato é que, independentemente de sua origem teórica/social, existem evidências de que uma maior participação traz benefícios tanto do ponto de vista do trabalhador, que se sente mais valorizado e com maior autonomia, quanto para a organização, que alcança níveis mais elevados de desempenho em função de um ambiente organizacional mais saudável e com mecanismos mais efetivos de resolução de conflitos e tomada de decisão.

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