17 julho 2025
Eduardo Salles é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Está no seu terceiro mandato de deputado estadual e preside a Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, além da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo. É ex-secretário estadual de Agricultura e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (CONSEAGRI). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e da Câmara de Comércio Brasil/Portugal. Há 20 anos é diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre mensalmente.
O Brasil é uma das maiores potências agroalimentares do mundo. É líder global na produção e exportação de alimentos, proteínas animais, fibras e biocombustíveis. Essa posição de protagonismo, no entanto, esconde uma vulnerabilidade crítica: mais de 85% dos fertilizantes utilizados no território nacional são importados.
Esse alto grau de dependência externa compromete a soberania nacional e representa um risco estratégico à segurança alimentar do país e de diversas nações que dependem das exportações brasileiras para alimentar suas populações. O cenário se agrava em momentos de instabilidade geopolítica, quando cadeias de suprimento são interrompidas ou os preços internacionais disparam. Tomemos como exemplo os três pilares da fertilidade do solo: nitrogênio, fósforo e potássio.
O nitrogênio é essencial ao crescimento vegetal e nosso país importa 75%, geralmente em forma de uréia ou nitrato de amônio, da Rússia, Catar, Estados Unidos e Trinidad & Tobago; , fósforo e potássio. Apesar de ser tecnicamente possível sua produção no Brasil a partir de gás natural, o custo do insumo atualmente é um entrave: aqui o milhão de BTUs custa cerca de US$ 14 e em outros países fica em torno de US$ 3, o que torna economicamente inviável. Precisamos de um programa estratégico de subsídio para que ao menos possamos reduzir a dependência do mercado externo.
As FAFENs da Bahia e de Sergipe estão com suas atividades paralisadas neste momento. O retorno de suas atividades o mais rápido possível é necessário porque as duas juntas têm capacidade de atender 20% do consumo nacional de uréia, com cerca de 1.800 toneladas produzidas diariamente.
Os 55% de fósforo importado vêm majoritariamente do Marrocos, China e Rússia. Embora o Brasil possua jazidas relevantes, a produção nacional atende menos de 25% da demanda. O problema está na burocracia ambiental, baixo investimento em pesquisa e infraestrutura deficiente, o que impede a viabilização de novos projetos de extração.
Cerca de 95% do potássio consumido no Brasil é importado, sobretudo do Canadá, Rússia e Bielorrússia. Paradoxalmente, o país possui grandes reservas, especialmente em áreas da Amazônia e sob terras indígenas, como na região de Autazes (AM).
A exploração dessas jazidas, entretanto, está paralisada por embates legais e ambientais, enquanto importamos de reservas localizadas em terras indígenas canadenses, onde as comunidades são sócias dos empreendimentos e vivem com qualidade de vida e autonomia econômica.
Essa incongruência exige uma reavaliação responsável e ética da exploração de recursos minerais em território nacional, com diálogo amplo com as comunidades indígenas brasileiras, que muitas vezes vivem em situação de pobreza, sem acesso a benefícios socioeconômicos que tais recursos poderiam proporcionar.
O atual cenário global, com guerras, sanções comerciais e conflitos diplomáticos, reforça a fragilidade da dependência de insumos estratégicos. Se as cadeias de fornecimento de fertilizantes forem interrompidas, o Brasil poderá ver sua capacidade de produção de alimentos severamente comprometida, o que afeta diretamente a segurança alimentar de mais de um bilhão de pessoas em diversos continentes.
O agronegócio brasileiro representa mais de 25% do PIB nacional e cerca de 40% das exportações, e seu desempenho depende diretamente da oferta contínua e acessível de fertilizantes. A falta de insumos pode provocar encarecimento dos alimentos, colapso de cadeias produtivas e desemprego em massa.
É urgente que o país comece a subsidiar o gás natural para a produção de fertilizantes nitrogenados, invista em pesquisa, viabilize a exploração de jazidas nacionais de fósforo e potássio, com base no diálogo e respeito aos direitos das comunidades locais, e criar uma política pública de longo prazo para garantir a segurança dos insumos agrícolas.
A dependência de fertilizantes é uma vulnerabilidade estratégica que precisa ser enfrentada com urgência e visão de futuro. O Brasil, que alimenta o mundo, não pode depender de fatores externos para garantir sua produtividade agrícola. A soberania alimentar brasileira — e global — exige decisões corajosas, planejamento estratégico e respeito ao equilíbrio entre produção, meio ambiente e justiça social.