Jacó Lula da Silva

Economia

Mario Augusto de Almeida Neto (Jacó) é técnico em agroecologia. Nascido em Jacobina, aos 17 mudou-se para Irecê, onde fundou e coordenou o Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) e a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). Como deputado estadual (2019-2022), defende as bandeiras do semiárido baiano, agricultura rural e movimentos sociais. Ao assumir a cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia, incorporou o "Lula da Silva" ao seu nome, por reconhecer no ex-presidente o maior líder popular do País. Na Alba, é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública e membro titular das Comissões de Saúde, Defesa do Consumidor, Agricultura e Política Rural e Promoção da Igualdade.

Direitos Humanos e acesso ao conhecimento, uma utopia possível

Os Direitos Humanos são sempre fruto do seu tempo, isto é, fruto da capacidade de aliar indignação e organização de um povo, tendo sempre em vista o que temos e o que queremos nesse instante.

Venho do sertão de nosso estado, onde a água sempre foi um direito humano negado e, não por acaso, entendida como um favor dos senhores para que este e os seus se elegessem, mantendo assim as dinastias das famílias “nobres”. Isto resume tempos recentes da nossa história, onde a máxima era “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

A primavera que começará a florir no início da década de 1980, com a luta dos trabalhadores e trabalhadoras na CUT, as CEBs, os novos movimentos sociais e os partidos progressistas, é mensageira de um novo tempo. Com ele ressurge a esperança, a esperança que vence o medo, colocando no comando deste país um ex-metalúrgico, líder sindical e nordestino.

O Brasil iniciará a partir das décadas seguintes um processo de reconquista da soberania internacional, quebrando a dependência externa e iniciando o pagamento de dívidas sociais históricas com o povo brasileiro.

Exemplo disso é a mudança da cor da universidade pública, que passa a oferecer a jovens pobres (a maioria negros), indígenas e minorias a rara oportunidade de trilhar os caminhos acadêmicos.

Vale destacar nesse período a capacidade extraordinária de nossa economia e o volume de investimentos. O presidente Lula chama a crise mundial de “marolinha”, deixando os teóricos do capitalismo atordoados, pois se trata de uma quebra do discurso falacioso do “crescer para dividir” para emplacar o “crescer dividindo”.

Impossível falar de plenos Diretos Humanos sem falar em acesso ao conhecimento: não por acaso a educação foi negada aos escravizados e seus filhos mesmo após a “abolição”, aos jovens pobres, mulheres e indígenas.

Hegemonicamente as pessoas excluídas eram pardas e, em sua maioria, pessoas pretas, e isso se dava porque a sociedade brasileira implementava as suas políticas na perspectiva eugenista, que acreditava que o país só teria sucesso se existisse um clareamento da população através de uma seleção da humanidade e o sufocamento das raças inferiores.

Sabemos que o período citado se refere ao século 19, mas a todo instante precisamos realizar a prática da sankofa, filosofia do povo akan. Que diz que para compreender algumas questões atuais é necessário “pegar e voltar”. Peguem as informações atuais e voltem ao passado, façam esse exercício!

A reforma da instrução primária de 1837 cita a proibição de ingresso na educação básica de pessoas negras, população que foi escravizada ou africanos libertos que viviam no Brasil. Dessa forma, conseguimos entender por que o EJAI, ProUni, cotas racias e tantas outras políticas educacionais que fazem parte de uma série de ações afirmativas vêm sofrendo riscos. Basta ver os milhares de cortes de verbas promovidos pelo atual governo.

A elite covarde, mesquinha e incompetente não suporta chamá-los de doutores e doutoras; muito menos ver seus filhos de colégios de bairros nobres serem derrotados pelos jovens descalços da periferia, e Luís Inácio sabia disso.

Essa mesma elite que pariu os jovens “infratores”, e que os levou a ter que “roubar” para comer, agora aplaude a chacina na favela do Jacarezinho (RJ) e os assassinos do Atakarejo, em Salvador.

Mas uma nova primavera há de surgir. A elite vai se pelar de medo ao ver o Brasil sorrindo novamente: com jovem preto e pobre estudando no exterior, com a universidade pública forte e aberta para a sociedade, com o ensino técnico sendo um caminho viável para qualificação profissional, com educação digna para todas e todos.

E defendo, como bom militante dos Direitos Humanos, que essas politicas compensatórias devem ser transitórias, porém compreendo que elas são necessárias e determinantes para garantir direitos diferentes para os diferentes, pois só assim conquistaremos uma sociedade de iguais.

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