23 novembro 2024
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
Que tipo de programação escolar seria capaz de motivar os mais de 3 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 17 anos ainda cursando o ensino fundamental? Esse é um dos maiores desafios da educação brasileira. Não é um problema novo, sem dúvida, mas tem se agravado nos últimos anos. Os tempos são outros e o mundo gira cada vez mais rápido com internet, aplicativos, redes sociais. E as escolas? Especialmente as unidades públicas ainda não alcançaram preparo suficiente para oferecer atrativos a alunos exigentes e ávidos por novidades de todos os tipos.
Especialistas e professores mais inquietos têm se esforçado em criar currículos diferenciados que estimulem os estudantes a concluir o ensino fundamental e entrar no ensino médio para corrigir o atraso. Mas por que esse jovens estão retidos durante tanto tempo no ensino fundamental? De acordo com recente pesquisa do IBGE menos da metade dos jovens entre 18 e 24 anos (48,1%) estão na universidade.
Declarar a escolaridade composta por 11 anos de estudo é considerado ponto crucial para avaliar a eficácia do sistema educacional de um país, segundo a mesma pesquisa. No Brasil o nível de escolaridade médio da população é pouco maior que 6 anos de estudo, muito abaixo do considerado ideal. Os jovens se matriculam, começam a frequentar as aulas mas não concluem o curso ficando pra trás por causa de sucessivas repetências que também inspiram uma evasão definitiva.
Com isso, especialmente nos estados mais pobres, é comum perceber um alto índice de adolescentes cursando o ensino fundamental em salas de crianças. É o que se chama distorção idade-série, na qual a Bahia infelizmente figura entre os primeiros lugares com 352 mil alunos no ensino fundamental.
Torna-se então desinteressante para rapazes e moças de tamanho avantajado dividir o mesmo espaço com alunos menores. À medida que a idade avança há uma perda de produtividade do sistema educacional e é fácil verificar que existem grandes disparidades regionais. No Sudeste, por exemplo, o índice de adequação idade-série é maior (44%), enquanto que no Nordeste é de 31,8%. Além disso a renda familiar exerce grande influência para não haver a distorção.
Sobra, portanto, para os jovens de famílias mais pobres outra desvantagem histórica que precisa ser revertida. Estudar ainda é o melhor remédio contra as desigualdades. Apesar do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa ter sido criado pelo governo federal há muito a ser pensado e executado.
Aumentar o número de escolas com jornada ampliada ou unidades que ofereçam educação integral são alternativas valiosas para serem colocadas em prática. Até mesmo direcionar os jovens identificados nessa situação em salas preparadas para realfabetização com número menor de alunos e currículo reforçado pode fazer uma grande diferença quando se quer conjugar com vontade política o verbo desenvolver.