Eduardo Salles

Setor Produtivo

Eduardo Salles é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Está no seu terceiro mandato de deputado estadual e preside a Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, além da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo. É ex-secretário estadual de Agricultura e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (CONSEAGRI). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e da Câmara de Comércio Brasil/Portugal. Há 20 anos é diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre mensalmente.

Elevação dos juros asfixia setor produtivo

A diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Essa conhecida crença popular pode ser utilizado, acredito, para a política adotada pelo Banco Central desde que a instituição resolveu aumentar a SELIC. Em março de 2021 a taxa era de 2,75%. Desde então, em menos de um ano, chegamos a dois dígitos. Na última reunião, ocorrida agora no início de fevereiro, chegamos a impressionantes 10,75%.

São sete altas consecutivas aplicadas sobre uma economia que ainda não se recuperou dos efeitos causados pela pandemia da COVID-19. O aumento dos juros, até o momento, não conseguiu debelar a inflação, mas já causa danos ao setor produtivo.

Os resultados econômicos mostram que a dose do remédio receitada pelo Banco Central não está correta. Dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostram que no segundo semestre de 2021 houve desaceleração da geração de emprego e queda do faturamento e da utilização da capacidade instalada.

Conforme a CNI, entre janeiro e junho de 2021 o índice de emprego avançou 3,2%, enquanto de junho a dezembro o índice foi de 0,5%. E vale lembrar que a referência é com 2020, ano de extrema dificuldade por causa das restrições causadas pela pandemia.

É óbvio que esses números não têm como motivo único a elevação da SELIC, mas deveria ligar o alerta do Banco Central, até porque há outros fatores preocupantes, como a trajetória do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), que está 0,6% abaixo do registrado em junho.

É claro que precisamos combater a inflação alta, que corrói o poder de compra, principalmente dos mais pobres. Mas a elevação da SELIC a dois dígitos pune o setor produtivo, e o resultado é a estagnação econômica, o que também é terrível para os mais carentes.

A elevação da inflação não tem suas causas no aumento da demanda, o que seria corrigida com alta da SELIC, mas por causa da pressão dos custos de produção, seja na indústria, no comércio, na agricultura ou nos serviços.

Punir com juros altos a indústria da transformação e a agropecuária, por exemplo, pode ser o caminho para uma recessão em 2022, segundo todas as entidades do setor produtivo alertam.

Enquanto a SELIC sobe, os cuidados com a responsabilidade fiscal têm sido esquecidos, causando preocupações nas contas públicas e aumento do risco país. A equação está completamente desbalanceada.

Na lista de 40 países compilados pelo portal MoneyYou e a gestora Infinity Asset Management, o Brasil é o líder da maior taxa de juros ao ano, descontada a inflação. Isso significa que temos o acesso ao crédito mais caro deste ranking, com juros reais de 6,41% ao ano.

Sei que a elevação de juros tem sido política recorrente em diversos países para conter a inflação neste período de retomada econômica com o início da vacinação contra a COVID-19, mas é preciso que o Banco Central brasileiro tenha cuidado com a dose.

O Brasil não pode cair no canto da sereia de aumento de juros apenas para atrair investidores de renda fixa dos Estados Unidos, receita recorrente de países emergentes em momento de crise. Essa política econômica significa asfixiar o nosso setor produtivo, que gera milhões de empregos.

Sou engenheiro agrônomo com mestrado em irrigação e, obviamente, tenho poucos conhecimentos de Ciências Econômicas. Mas, como presidente da Frente Parlamentar do Setor Produtivo, e uma vida inteira à frente da gestão de grandes empresas, posso afirmar que os juros acima de 10%, como é o caso atual, precisam ser revistos porque é uma dura punição a quem gera empregos no Brasil.

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