Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Estímulos e Respostas

Nesta semana fiquei preso em um engarrafamento gigantesco na BR 116 perto de Feira de Santana decorrente das obras de melhoria da estrada que estão sendo desenvolvidas pela concessionária Via Bahia. Levei cerca de duas horas para percorrer não mais do que trinta quilômetros.

Esperar na fila é muito, muito chato, mas aceitável quando percebemos que esta é a regra do jogo, que os problemas são temporários e os benefícios futuros são significativos. Agora, quando você está na fila e percebe que existe um conjunto de “espertos”, que querem levar vantagem em tudo, dirigindo pelo acostamento ou pela pista de barro ainda em construção, aí o sangue ferve e é necessária uma boa dose de educação e autocontrole para que você mantenha o comportamento cidadão de obediência às regras. Pois, foi neste contexto, entre um palavrão mental e outro, que me peguei pensando nas razões que levam ao indivíduo a transgredir regras básicas de comportamento social. Ainda que várias explicações tenham vindo à cabeça, me fixei nas teorias clássicas de aprendizagem que foram estudadas, principalmente, pelos comportamentalistas americanos (Isso dá uma boa noção do que um engarrafamento pode fazer com a mente de um pacato cidadão)!

De forma absolutamente simplificada, os teóricos propõem que, na busca de satisfação de suas necessidades básicas, os indivíduos se lançam em uma série de comportamentos exploratórios das diversas possibilidades existentes em cada situação. No nosso caso, como sair do engarrafamento. Quando o indivíduo identifica um curso de ação (a saída pelo acostamento) que traz ao final um estímulo positivo (entendido como um estímulo que atende às suas necessidades de passar na frente dos outros, levar menos tempo na fila…), ele aprende que esta é a forma “certa” de se comportar para solução de sua necessidade. Assim, cada vez que um sujeito desses fura a fila, e ele consegue atingir seus objetivos, isso aumenta a probabilidade de que ele desenvolva este mesmo comportamento no futuro.

A explicação acima dá conta do porquê do comportamento, mas a necessidade de manutenção de um convívio social pacífico e harmônico diz que certos comportamentos precisam ser inibidos e desestimulados. Neste ponto, os estudiosos dizem que devem aparecer os chamados estímulos aversivos que são aqueles (estímulos) que diminuem a probabilidade de que o comportamento aconteça porque eles estão associados com coisas/situações que queremos que não aconteçam.

É nessa hora que deveria entrar em cena a mão forte do Estado para punir os sujeitos que não seguem as regras básicas de conduta com as multas e punições de praxe. Todavia, é preciso que o aparato repressivo do Estado (polícia) se faça presente. A alternativa à inação do Estado neste campo são os comportamentos das outras pessoas.

Aí nós temos duas respostas possíveis: a psicologia social nos diz que o grupo social tem um papel importante em estabelecer o que é ou não um comportamento aceitável. Em outras palavras, não devemos aceitar ou concordar com as tentativas de se querer levar vantagem nas coisas, mesmo que partam de nossos amigos e conhecidos. Bonito, mas de eficácia duvidosa na questão específica. A outra possibilidade de desestimular estes comportamentos reside naqueles que, ao se sentirem atingidas pelo panacas que querem levar vantagem em tudo, “surtam”, e ao melhor estilo Michael Douglas em Um Dia de Fúria, saem fazendo justiça com as próprias mãos. Entretanto, a generalização deste tipo de comportamento nos levaria para perto da barbárie.

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