Eduardo Salles

Setor Produtivo

Eduardo Salles é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Está no seu terceiro mandato de deputado estadual e preside a Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, além da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo. É ex-secretário estadual de Agricultura e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (CONSEAGRI). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e da Câmara de Comércio Brasil/Portugal. Há 20 anos é diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre mensalmente.

Falta de uma política nacional para o preço do gás coloca a agropecuária e a indústria petroquímica em risco

O alto custo do gás natural fornecido pela PETROBRAS fez mais uma vítima recentemente. A UNIGEL AGRO, antiga FAFEN, acaba de anunciar a demissão de 264 trabalhadores e a paralização de suas atividades na Bahia. A empresa fabrica fertilizantes nitrogenados e matéria-prima para indústrias do Polo de Camaçari.

É lamentável para o país considerado celeiro da produção de alimentos do mundo não possuir uma estratégia em relação ao preço do gás, o que inviabiliza a produção de fertilizantes nitrogenados e coloca em risco a agropecuária e a indústria petroquímica nacional, responsáveis pela geração de milhares de empregos e o superávit da balança comercial.

Mas esse desastre não é surpresa para ninguém que acompanha atentamente a situação. Em março, durante reunião na Assembleia Legislativa da Bahia, pontuei com o presidente da empresa, Jean Paul Prates, sobre o grave problema que deixa a agropecuária nacional refém da compra de fertilizantes do mercado internacional e a provável decadência da indústria petroquímica.

Deixo claro que a falta de uma política nacional de preço de gás natural não começou agora. É um problema histórico que diversos governos, das mais variadas bandeiras partidárias, negligenciaram. A ideia agora não deve ser apontar culpados, mas tomar providências urgentes para buscarmos resolver o problema.

O presidente da República e o ministro de Minas e Energia têm um compromisso com o país: sentarem com suas equipes e implantarem uma política estratégica para este segmento, sob o risco de fecharmos diversas indústrias, inclusive a petroquímica, o que pode inviabilizar o Polo Petroquímico de Camaçari.

Em 2019, quando as FAFENs da Bahia e Sergipe anunciaram as paralizações das atividades, realizei audiência na Assembleia Legislativa para chamar a atenção da importância da implantação de uma política nacional para o gás e da necessidade de as fábricas voltarem às atividades. Logo depois a plantas industriais foram concedidas à UNIGEL AGRO e voltaram a funcionar.

Há cerca de quatro anos, quando a UNIGEL AGRO adquiriu as unidades das FAFENs, o preço do gás era de US$ 7,00 por um milhão de BTUs. Agora chega por US$ 14,00, enquanto parte dos concorrentes pagam US$ 3,00.

Sem a produção dos fertilizantes nitrogenados, fósforo e potássio, elementos básicos à produção de alimentos, a agropecuária brasileira precisa importar cerca de 85% desses insumos, o que aumenta os custos e diminui a competividade do setor.

Apenas o que importamos da Rússia, da China, do Marrocos, do Canadá, dos Estados Unidos, do Catar e de Belarus, segundo dados da Comex Stat de 2021, representa 70% das 41,6 milhões de toneladas do insumo que chegaram ao país, representando um déficit de US$ 15 bilhões na nossa balança comercial. O aumento no frete marítimo é mais um complicador nesta equação.

A falta de uma estratégia nacional para o gás natural vai causar, a curto e médio prazo, o fechamento das portas das poucas indústrias de fertilizantes nitrogenados do país, obrigando a agropecuária nacional aumentar o volume de importação do insumo e tornando o país totalmente dependente e vulnerável ao risco de falta de fornecimento destes insumos imprescindíveis à produção de alimentos, seja por questões de guerras ou mesmo estratégicas de países fornecedores.

O aumento desse custo de produção obrigatoriamente chegará ao consumidor, causando inflação e dificuldade de os pobres terem acesso a uma maior diversidade de alimentos, ao mesmo tempo que faz o Brasil diminuir a competitividade com outros países exportadores de grãos, algodão e muitos outros produtos que fazem parte da cesta de exportação nacional.

A agropecuária nacional já deu provas que, mesmo com todas as dificuldades logísticas e alto custo de produção, é um dos setores mais importantes da economia nacional. Imaginem o que o país pode ganhar se oferecermos ao homem do campo melhores condições de produção?

É incrível como seguidos governos brasileiros sigam míopes.

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