Ernesto Britto Ribeiro

Turismo e Economia criativa

Ernesto é mestre em Administração Estratégica e trabalha com foco em desenvolvimento turístico desde 2001. Foi professor de disciplinas de Planejamento Turístico e Políticas Públicas de Turismo na Faculdade Visconde de Cairu e na Factur. Foi secretário municipal em Itaparica e sub-secretário em Salvador. É sócio da SOBRETURISMO CONSULTORIA, empresa especializada em projetos de desenvolvimento setorial, com inúmeros trabalhos na Bahia e no Piauí, sempre na área de turismo e economia criativa. Ele escreve às sextas-feiras neste Política Livre.

Fazer turismo com criatividade em Salvador

Tem um papo antigo de que os atrativos turísticos de Salvador são antigos, cansados e exauridos pelo tempo de uso. Quando um visitante chega a Salvador para passar uns dias, o caminho natural é conhecer os grandes atrativos, como o Largo do Pelourinho, a Igreja de São Francisco, o Mercado Modelo, a Igreja do Bonfim, o Farol da Barra e tantos outros que compõem os cenários mais famosos da Bahia. Até aí tudo bem. O problema é quando esse turista volta mais uma, duas, três vezes na mesma cidade. Ou até mesmo quando essa estada por aqui é mais longa do que os tradicionais três dias de visita. Passarei por esse suposto problema entre fevereiro e março, quando meus amigos franceses virão pela terceira vez e chegarão para passar quinze dias.

Entendo que em primeiro lugar é preciso identificar o perfil do visitante, para depois lhe propor alternativas criativas para ocupar o seu tempo na terrinha. Por falar em alternativas criativas, hoje em dia costumam-se chamar de Turismo Criativo os programas turísticos nos quais o visitante pode desenvolver a sua própria criatividade, onde ele aprende, cresce e se envolve com as pessoas e participa das atividades criativas que acontecem no lugar.

Aqui em Salvador nós temos diversas atividades, bem típicas dos baianos, em que o visitante pode aprender muito. Se a pessoa quiser conhecer um pouco das religiões de base africana, por exemplo, uma visita orientada no Curuzu pode ser um programa inesquecível. Lá os terreiros fazem parte da cotidianidade e algumas pessoas entendem muito dessa temática e, melhor ainda, se dispõem a explicar e orientar os visitantes. Se a visita incluir uma feijoada no Wa-jeum de Mainha, de Valdiria Lopes, com samba de roda e tudo mais, ai o sujeito não vai querer sair do Curuzu nunca mais.

Mantendo-se ainda no lado das religiões, outro programa imperdível é o lindo Memorial de Irmã Dulce, com uma exposição permanente sobre o legado deixado pelo Anjo Bom da Bahia, assim como o Santuário Bem-aventurada Dulce dos Pobres, com a sala circular onde estão as suas relíquias. Tudo isso fica ao lado do Hospital Santo Antônio, no largo de Roma, e tem uma visitação guiada muito bem feita. Essas duas alternativas, Terreiros e Memorial Irmã Dulce são ótimas para mexer com as crenças, a fé, a religião, seja ela qual for. Ninguém sairá desse rio de fé da mesma forma que entrou. Pra quem não sabe, o Curuzu e o Largo de Roma são pertinho um do outro. Peça ajuda. Para terminar o programa não deixe de tomar um sorvete na Ribeira, ali pertinho do Largo de Roma.

Outra coisa típica da Bahia é participar de uma aula de capoeira, no Forte Santo Antônio. Estão instaladas no Forte pelo menos sete das academias de capoeira mais importantes da Bahia, tanto de capoeira Angola quando Regional. O Santo Antônio Além do Carmo, onde fica o Forte, tem se tornado um centro das artes visuais de Salvador. Muitos artistas estão no bairro com seus ateliês abertos, como Murilo, Leonel Matos e Aline, do Bangalô das Artes. Uma grande pedida é o Brechó Cabral Descobertas, famoso entre os famosos. Para quem gosta de arte, moda e design, um passeio atento no Santo Antônio pode ser um grande programa. Aqui e ali é sempre bom ter cuidado e estar com alguém que conheça mais o lugar e as pessoas.

Mas, e se o nosso visitante quiser comer bem e comer coisas diferentes? Aí leve o cabra pra comer uma maniçoba no A Venda, na Boca do Rio, bem em frente ao Aeroclube. Outra opção cultural bem antiga e que não perde a linha é o Porto Moreira, na Carlos Gomes. Ali um carneirinho assado é uma coisa. Agora se quiser derrubar o sujeito de amores pela gastronomia alternativa baiana, o Armazém do Reino, no Rio Vermelho é a pegada certa. Dia desses conheci um maravilhoso risoto de cogumelos no uísque. Quem sabe aplicando nossa criatividade baiana possamos receber nossos amigos com programas mais legais.

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