João Carlos Bacelar

Educação

João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.

Fracasso educacional

Um número que diz muito sobre nós e que contraria a propaganda plastificada do governo de que no Brasil o analfabetismo já quase não existe. Na vida real, o analfabetismo cresceu, depois de 15 anos em queda. Sabe aquela tese criada pelo ministro da Propaganda de Hitler que diz: “uma mentira contada mil vezes termina virando verdade”? Pois é. Visto (e revisto) isso, muitos brasileiros passaram até a acreditar que a ‘falta de letramento’ no país beirava a erradicação. Mas não. Tal qual doença incurável, o analfabetismo saltou de novo aos nossos olhos, no final de setembro, após divulgação do IBGE que confirmou o retrocesso.

Baseado nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o relatório revelou resultados preocupantes e desanimadores para um país que tem enormes desafios a superar. E se interpretado com a calma necessária aponta, de fato, para a realidade sem maquiagem, sugerindo que a atual politica social e de distribuição de renda do governo federal está se esvaindo. O índice de analfabetos passou de 8,6 % para 8,7%. Do ponto de vista estatístico não parece problema. Mas é. Representa um aumento de quase 300 mil brasileiros inseridos no universo dos que não sabem ler nem escrever.

E são os brasileiros que vivem no nordeste que puxaram o índice para baixo. A nossa região concentra mais da metade dos analfabetos do país. Por aqui a taxa subiu para 17,4% com alta de meio ponto percentual entre 2011 e 2012.

Ainda temos 13 milhões de analfabetos. Com esses números dificilmente o Brasil alcançará a meta firmada com a ONU de diminuir a proporção de analfabetos para 6,7% da população até 2015. O que significaria, na prática, reduzir esse contingente para 2,6 milhões de pessoas. E o que fazer com outros 10 milhões de analfabetos? Precisaríamos acelerar e muito as campanhas de alfabetização – mas com a determinação de tratar o assunto com o máximo de responsabilidade e eficácia e não apenas ensinar o aluno a decorar as letras para assinar o próprio nome.

Os números do Pnad surgem depois da universalização das matrículas no ensino fundamental, consideradas uma das maiores conquistas do país durante as décadas de 1990 e 2000, que acenavam para a melhoria significativa da educação. Passados anos, ainda não caminhamos com a segurança necessária rumo à uma educação básica eficiente.

Não somos capazes de formar capital humano para fazer saltar os níveis mais sofisticados de produção que uma nação almeja. Com milhões de adultos tropegamente treinados para leitura e escrita de uma mensagem simples não podemos dizer que satisfazemos um mercado de trabalho cada vez mais exigente e de aprendizagem continuada.

A educação brasileira está no caminho inverso. Uma importante fatia da população à margem do processo econômico reforça a desigualdade social no país. A política educacional adotada defendeu a democratização do ensino superior, a criação de novas universidades, no entanto, se mostra incapaz de oferecer as condições necessárias para que dezenas de milhões de pessoas possam se emancipar econômica e socialmente; largar o peixe de tamanho limitado para agarrar o anzol e mergulhá-lo em oceanos de possibilidades…..

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