23 dezembro 2024
Ernesto é mestre em Administração Estratégica e trabalha com foco em desenvolvimento turístico desde 2001. Foi professor de disciplinas de Planejamento Turístico e Políticas Públicas de Turismo na Faculdade Visconde de Cairu e na Factur. Foi secretário municipal em Itaparica e sub-secretário em Salvador. É sócio da SOBRETURISMO CONSULTORIA, empresa especializada em projetos de desenvolvimento setorial, com inúmeros trabalhos na Bahia e no Piauí, sempre na área de turismo e economia criativa. Ele escreve às sextas-feiras neste Política Livre.
Um dia desses fui entrevistado por um casal de professores espanhóis que estava aqui fazendo uma pesquisa encomendada pela Janela do Mundo, leia-se Carlinhos Brown. Eles estavam interessados em saber o que existe de especial em Salvador e o que faz um cidadão de qualquer parte do mundo se dirigir à nossa capital para fazer turismo. Aqui pra nós, em certo momento da entrevista, percebi que ele, o professor, estava estarrecido com o estado de conservação de nossa cidade. Percepções à parte, respondi que o turista vem a Salvador fazer três coisas com mais intensidade e que nossa cidade teria muito mais a oferecer, se fosse bem trabalhada.
Primeiro o turista vem aqui fazer negócios. Não podemos esquecer que Salvador é a terceira capital do Brasil e que concentra um enorme movimento de negócios de todos os setores da economia, não somente da própria cidade, mas de toda a Bahia e, às vezes, até do Nordeste brasileiro. Muitos desses visitantes chegam do interior do estado para tratar de assuntos comerciais e financeiros que a capital do estado possibilita. Outros vêm de longe vender seus produtos e serviços e comprar nossas commodities. Aliados aos negócios vêm os eventos setoriais, que ajudam a inflar o fluxo de turistas.
Outra joia da cidade é a orla oceânica e a Baia de Todos os Santos. Por mais mal cuidadas que sejam nossas praias, não podemos esquecer que o verão é a nossa alta estação e as pessoas vêm a Salvador por causa das praias e do ambiente litorâneo. Inquestionavelmente o turismo de Sol e Praia é muito forte em todo o Nordeste e Salvador faz parte desse cenário veronil.
Como terceiro e mais complexo elemento de minha resposta, os aspectos culturais da cidade, com destaque para a arquitetura histórica, a música, as festas populares e o jeito baiano de ser. Eu explico: o pelourinho exerce um fascínio sobre os visitantes. Eles adoram a paisagem, as imagens, as igrejas e tudo mais. Sujo e maltrapilho, o Pelô ainda traz turistas para Salvador. Outro aspecto cultural que merece destaque é a música aqui produzida, desde Caetano Veloso e Gilberto Gil, para os mais antigos, mas, sobretudo, Ivete Sangalo e Carlinhos Brow, para os mais jovens. Esses dois arrebentam no cenário musical e o turista vem com a ideia de terra da musica e da dança.
Junto com a música, as festas populares de Salvador são outras joias da coroa, sobretudo o carnaval, a festa do Bonfim e a de Yemanjá. Joias que precisam de polimento, mas são joias. E por fim falei do jeito de ser, meio europeu, meio africano. Eles, os espanhóis, me perguntaram como isso se dava no dia a dia da cidade. Eu olhei em volta e mostrei, on line, como as mulheres estavam vestidas naquele momento, com roupas de pano amarrado no pescoço, sandálias de couro, com seus grandes e coloridos colares, como elas falavam e gesticulavam. Os homens aqui usam colares de contas por baixo da camisa, fitinhas do bonfim, roupas brancas nas sextas feiras e por ai vai. Nós somos diferentes de todos os brasileiros, disse eu, e isso se percebe nas ruas, nos bares, nas igrejas, nas crenças, nos gestos, na forma de se relacionar etc. Esse ambiente de sincretismo às vezes passa despercebido pelo próprio baiano, mas está em tudo e faz parte do dia a dia da cidade, da música aos hábitos, da roupa às gírias.
Se eu fosse pensar em outros elementos que atraem visitantes para Salvador, eu diria que a culinária também compõe a atração e a proximidade com outras regiões, sobretudo a Costa dos Coqueiros, ajuda muito. Sobre as joias esquecidas que dariam uma grande força no fluxo turístico estão os parques naturais e as praças. Eu não entendo o Parque da Cidade e o de Pituaçu do jeito que são tratados pelos governos. Realmente não entendo. E nossas praças, como poderiam ser mais bem aproveitadas como espaço de lazer, entretenimento e encontro de gerações, moradores e turistas, mas do jeito que estão e melhor ficar longe.
E se a pergunta dos espanhóis fosse direcionada para você leitor, qual seria a sua resposta?