24 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Passei os últimos dias tentando me lembrar dos tais cinco pactos propostos pelo governo federal como reação a agitação das ruas no mês de junho. Consegui recuperar do fundo da memória a imagem dos governadores calados, acuados em torno da mesa, enquanto a presidente empurrava guela abaixo os termos de sua proposta. Entretanto, por mais que tentasse não consegui ir além do tal pacto pela reforma política, aquele que já nasceu morto, e do qual ninguém mais fala.
Confesso que isso me deixou um pouco confuso, já que segui com bastante interesse os desenvolvimentos e as discussões postos em movimento pelas manifestações. Isso me levou a refletir sobre o porquê de não ter fixado essa informação (e outras). Testei algumas opções, experimentei diferentes raciocínios, mas acabei voltando sempre ao mesmo ponto: muita Propaganda (com P maiúsculo) e pouca política (bem minúscula mesmo).
A propaganda em si mesma não é um problema. Ela faz parte do jogo, tanto na política quanto na vida das organizações de trabalho, desde que usada com moderação. Em linhas gerais, ela consiste em um esforço consciente e sistemático voltado para influenciar o comportamento e as opiniões de certas pessoas ou grupos. Noberto Bobbio nos lembra que a propaganda difere de outros meios de persuasão quando sua ação busca realçar, principalmente, elementos emotivos recorrendo à estereótipos para por em relevo apenas aspectos parciais de uma questão, servindo à causa da manipulação das massas por parte de pequenos grupos. Reparem que por definição a propaganda não distingue orientação política sendo prática utilizada mancheias tanto por partidos de direita, quanto de esquerda.
Voltando ao “esquecimento” dos pactos, vemos que eles não são lembrados porque efetivamente não existiram de forma concreta. Sua proposição não foi parte de um desejável e saudável debate político sobre os rumos do nosso país, mas apenas a parte visível do trabalho de marketing de um grupo político que, neste momento, busca se perpetuar no poder. É importante recordar que as críticas que foram dirigidas aos governantes à época foram retrucadas aos gritos de “facismo” nos jornais, blogs e redes de relacionamento como parte de um movimento onde as vozes discordantes são sempre identificadas de forma genérica como “eles” que expressam os interesses das elites, sem que esses “eles” nunca sejam claramente identificados. Exatamente da forma como Bobbio prevê e define as ações de propaganda.
Talvez eu esteja ficando velho, mas diante dos grandes problemas e desafios que o país enfrenta acho que precisamos de mais soluções concretas para os problemas reais que enfrentamos no dia a dia e menos propaganda. Precisamos de mais política, no sentido de conciliação dos interesses divergentes e legítimos que devem coexistir na sociedade, e menos propaganda. Afinal, não é possível morar na propaganda do governo…