23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Se 2016 foi o ano que insistia em não terminar, talvez 2017 venha a ser lembrado como o ano que já começou velho. Não que o anoitecer ou a alvorada por si mesmos tenham o condão de modificar a realidade concreta, mas o ano novo ainda costuma ser visto como um marco para uma mudança de ciclo. Nós meio que mantivemos os mesmos rituais característicos das sociedades agrárias que nos precederam e acreditamos na renovação periódica da vida social de forma análoga à renovação da vida dos ciclos naturais. Seguimos repetindo os mesmos comportamentos supersticiosos na esperança de que um dia os resultados sejam diferentes. Assim, 2017 começa gritando que nossos problemas não foram levados embora pelas águas do mar junto com as flores brancas no ano novo e nem foram lavados pelo perfume de lavanda…
Não precisa muito esforço para percebermos os temas que nos afligem são os mesmos que estão postos desde sempre, sem que tenhamos sido capazes de produzir alternativas viáveis para sua superação. Há quanto tempo vivemos uma crise do modelo de segurança publica? Quem se lembra de quando começou a crise do nosso sistema político? Existe registro de algum momento no qual o transporte público tenha sido eficiente? E a crise da educação, oferecida como a mãe de todas as soluções para os problemas que nos atingem, quando ela começou? Mesmo quando respostas ou avanços são dados, eles acontecem em ritmo menor do que o de outros países em situação semelhante à nossa ou em magnitude inferior à de nossas necessidades.
No início de dezembro a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD) divulgou o resultado do mais recente período de avaliação do PISA (2015), acrônimo em inglês para seu programa internacional para avaliação de estudantes. Os resultados representam o desempenho de 29 milhões de estudantes, de quinze anos de idade, oriundos de 72 países diferentes, nas áreas de ciências, leitura, matemática e solução cooperativa de problemas. O relatório básico tem apenas 16 páginas disponíveis em inglês, Francês e Espanhol. Há ainda uma versão com uma avaliação específica sobre o Brasil, em Português. Vale a leitura.
Para não ir muito longe, ainda que o grau de escolarização dos jovens de 15 anos tenha aumentado, o desempenho dos alunos no Brasil está abaixo da média dos alunos em países da OCDE em ciências (401 pontos, comparados à média de 493 pontos), em leitura (407 pontos, comparados à média de 493 points) e em matemática (377 pontos, comparados à média de 490 pontos). Em ciências não temos avanços desde 2006 e em leitura paramos no ano 2000. A análise social desses números é obvia, nossos resultados expressam a pobreza e a desigualdade do país. Entretanto, esses números também podem ter uma leitura gerencial/econômica que é menos direta para os não iniciados, ainda que o sentido seja o mesmo da análise social. Ou seja, somos incapazes de competir em mercados globais porque o nível de produtividade de nossa força de trabalho é muito baixo. No seu conjunto ela é incapaz de desenvolver atividades de alto valor agregado que normalmente são intensivas de conhecimento. E isso nos coloca em um ciclo pouco virtuoso, baixa qualificação, trabalho manuais/primários, baixa remuneração=pobreza… Entra ano, sai ano e não rompemos esse ciclo. E não adianta jogar rosa para Iemanjá nem lavar a casa do Senhor do Bonfim.