23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Quando nos voltamos para o debate político atual é possível percebermos que as principais soluções propostas para os impasses que enfrentamos são construídas em torno de dois polos principais: de um lado encontramos aqueles que dizem que a saída se dará por mais Estado. Do outro lado temos os que acreditam que a opção é o mercado. Estado e mercado funcionando plena a adequadamente são essenciais, mas confesso que essa discussão me produz um incomodo e fico sempre com a impressão de que falta algo que equilibre (e de certa forma qualifique) essa equação.
Essa semana, ainda estou sob o impacto da participação no VII Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho (VII CBPOT) que foi realizado na semana passada, em Brasília. Maior e mais importante evento de minha área de atuação profissional, o congresso foi um sucesso absoluto, tanto do ponto de vista de organização quanto em função da qualidade das atividades apresentadas. Como membro da sociedade científica que promoveu o evento, tive a oportunidade de acompanhar de perto todas as atividades das pessoas e equipes relacionadas com a sua organização. Foram dois anos de intensa atividade e dedicação.
Em condições normais de temperatura e pressão, eu tenderia a avaliar o congresso (ou qualquer outro evento) como uma atividade científica, pura e simplesmente, mas este ano, talvez pela posição que ocupo, talvez pelo clima político em que vivemos, um aspecto novo chamou minha atenção: o congresso como a materialização dos esforços de um segmento da sociedade cível organizada, nesse caso específico, da Associação Brasileira de Psicologia organizacional e do Trabalho (SBPOT) que, além do congresso, criou e mantem uma revista científica que, por sua vez, para ser sustentada se vale de recursos de royalties da venda de conjunto de livros publicados por alguns de seus membros. Entre estes livros encontram-se alguns best sellers da área nos últimos dez anos, livros que tem sido responsáveis diretos pela formação de inúmeros profissionais!!!!
O envolvimento na associação chamou minha atenção para o esforço, a dedicação, o engajamento e, mais importante de tudo, os resultados que podem ser produzidos quando um grupo de pessoas resolve livre e espontaneamente se associar em torno de um propósito comum. É interessante ver como esse tipo de empreendimento cresce de forma orgânica, de baixo para cima, baseado relações de amor, respeito e responsabilidade, estabelecendo relações duradouras capazes de atribuir aos seus membros um conjunto de vantagens (específicas) que se materializam na forma de redes de relacionamento, conhecimentos, habilidades específicas e boa vontade. Estar voluntariamente nesse tipo de associação, participar de algo maior que o indivíduo, colaborar na construção de algo no qual você acredita é fonte de orgulho, satisfação pessoal, mas também de divertimento! A livre associação não se constrói sob o poder do Estado, nem serve ao interesse do capital. Ele se organiza na base da solidariedade entre os indivíduos e favorece a coesão social.
Hoje acredito fortemente que essa equação que busca soluções para os graves problemas que enfrentamos somente estará adequadamente balanceada quando o termo sociedade civil livremente organizada estiver presente!