23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Uma dimensão fundamental, e virtualmente esquecida, da atual ambiente de crise é a perda de legitimidade dos agentes políticos, o que pode ser percebido na expressão #não me representa, largamente difundida no país a partir das manifestações de 2013.
Ao contrário do que muitos pensam a crise política não se resolverá pela saída do poder ou da vida pública (por renúncia, cassação ou não reeleição) dos seus agentes mais ilustres, como a presidente Dilma, o Deputado Cunha, o Senador Renan, por exemplo, ou de qualquer outro político. Também não se resolverá com a prisão de alguns empreiteiros. E tampouco se encaminhará para resolução pela aprovação de medidas com forte apelo popular, sejam elas quais forem.
Por outro lado, o desmonte dos esquemas de corrupção parece reforçar e aprofundar alguns elementos fundamentais desse processo ao reforçar: 1) a percepção de que o sistema político tradicional não consegue dar expressão aos anseios e necessidades dos mais diversos grupos sociais; 2) a percepção de que o sistema foi cooptado por interesses coorporativos próprios sendo inerentemente corrupto e absurdamente caro.
Antes de mais nada, é preciso registrar que esse processo de desencantamento político não é exclusividade nossa sendo observado em vários outros países mundo afora, como na Espanha com a criação do partido Podemos que, apesar de ter surgido 2014, derrotou nas urnas todas as tradicionais legendas do establishment político espanhol, justamente por canalizar esse sentimento de descolamento dos partidos tradicionais da seus eleitores. Entretanto, isso não nos isenta da necessidade de buscarmos alternativas por dentro do sistema, sob pena de cairmos nos braços, mais uma vez, do velho populismo oligárquico latino.
Ainda que as soluções sejam complexas, nada nos impede de pensarmos algumas alternativas. Quando falamos em reforma política logo vem a mente questões como parlamentarismo, cláusula de barreira e financiamento público de campanha. Entretanto, creio que existem muitos outros temas igualmente importantes, que merecem um olhar mais cuidadoso. Precisamos olhar para nossas estruturas e práticas políticas perguntando: que objetivo atendem? Essa é a melhor maneira de fazer? Onde queremos chegar com isso?
Exemplos que se prestam a essa forma de avaliação podem ser encontrados em todos os lugares. Basta olharmos, por
exemplo, para os milhares de pequenos municípios brasileiros Qual o sentido da existência de funções separadas de executivo e legislativo nessas cidades, muitas das quais não tem nem renda própria? Exatamente sobre o que legislam os vereadores que dispõem de gabinetes, assessores e verbas disso daquilo e daquilo outro? Precisa ser assim?
Não custa lembrar que até muito recentemente a constituição estabelecia que somente seriam remunerados vereadores de cidades com mais de cem mil habitantes sendo essa atividade era considerada serviço público relevante!!! De repente, esse é um bom lugar para começar uma reforma…ou não!