23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Nos textos da área de gestão, o quadro de mudanças e desafios enfrentados pelas organizações na atualidade se explica a partir da confluência de três revoluções distintas, mas que se interpenetram e se retroalimentam de forma contínua, em um ritmo cada vez mais frenético: a da microinformática com o advento e a ubiquidade dos computadores e sistemas informatizados; a do barateamento dos custos dos transportes que permite o deslocamento de pessoas e produtos pelo globo em escala nunca antes vista; e a das comunicações que permite a conexão imediata e instantânea entre pessoas e equipamentos em um ritmo 24/7 (vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana) das mais variadas formas com um baixíssimo custo.
Um dos aspectos mais significativos desse processo é a rápida obsolescência de técnicas, equipamentos, profissões e até setores inteiros que, sob impacto da tecnologia, vão agonizando e caminhando rapidamente para a extinção total. Os exemplos são muitos e estão aí para quem quiser ver. Uma matéria publicada hoje no site da BBC dá conta de que o número de carros que transportam pessoas com base no aplicativo Uber, já supera a quantidade de dos taxis amarelos na cidade de Nova York. Nesta mesma direção, os aplicativos para chamar taxis, como o easytaxi, por exemplo, são a sentença de morte das cooperativas. A indústria fonográfica já não existe mais e hoje, são raras as lojas que músicas que podem ser encontradas nos centros urbanos. Música é dada de graça ou compartilhada com os amigos. Para as bandas o negócio são os shows ao vivo. Poderíamos seguir nessa toada de indefinidamente lembrando do Netflix e do seu impacto sobre o aluguel de filmes e séries, e das tecnologias como impressão 3D e suas aplicações tanto industriais quanto domésticas apenas para nos mantermos nos exemplos mais conhecidos.
Um dos maiores problemas associados à difusão das tecnologias talvez seja a dificuldade que algumas pessoas e/ou organizações demonstram em reconhecer a sua presença, o seu impacto nas atividades já organizadas e o “apego” às formas tradicionais de fazer e se comportar. No plano individual, a resistência se manifestará em rápida defasagem de conhecimentos, habilidades e atitudes para lidar com a novidade tecnológica; no plano dos grupos, os impactos provavelmente serão sentidos na forma de organizar o trabalho e nos padrões de interação entre as pessoas; e no plano organizacional, as dificuldades de adaptação serão vistas na perda de competitividade, na qualidade dos serviços prestados e na morte/esclerose precoce das organizações.
Gostemos ou não, a tecnologia está ai e veio para ficar. Ainda que a resistência cultural à mudança seja necessária até como uma maneira de humanizar o processo de adoção das novas tecnologias na forma, por exemplo, dos ambientalismos, do movimento slow e da contracultura, não podemos nos furtar, enquanto sociedade, a seguir por este caminho o mais rapidamente possível, sobre pena de condenarmos as gerações futuras ao atraso com significativa perda de bem estar social e de incapacidade de competição nos mercados globais. Será que doses maciças de tecnologia “na veia” não resolveriam alguns dos graves problemas sociais que hoje enfrentamos?