23 dezembro 2024
Ernesto é mestre em Administração Estratégica e trabalha com foco em desenvolvimento turístico desde 2001. Foi professor de disciplinas de Planejamento Turístico e Políticas Públicas de Turismo na Faculdade Visconde de Cairu e na Factur. Foi secretário municipal em Itaparica e sub-secretário em Salvador. É sócio da SOBRETURISMO CONSULTORIA, empresa especializada em projetos de desenvolvimento setorial, com inúmeros trabalhos na Bahia e no Piauí, sempre na área de turismo e economia criativa. Ele escreve às sextas-feiras neste Política Livre.
Aconteceu nos dias 22 e 23 de outubro de 2013, em Porto Alegre, a Conferência Brasileira de Turismo Criativo. Estive lá com minhas sócias Manuela Scaldaferri e Rejane Mira, da Sobreturismo Consultoria, conferindo as novidades e confirmando nossos conceitos. A Prefeitura da capital dos gaúchos realizou um belíssimo evento, elegante e com profundidade.
Organizado em dois dias, teve estrelas internacionais, como Greg Richards, criador do conceito de turismo criativo, Caroline Couret, da rede internacional de turismo criativo, e Sylvie Canal, do site creativeparis.info, como ancoras do conteúdo discutido. As experiências de Paris e Barcelona, celeiros do turismo cultural mundial e que agora se voltam para as atividades criativas que envolvem o turista foram algumas das riquezas apresentadas. Além dos estrangeiros, nomes de peso e figuras carimbadas da economia criativa brasileira, como Caio Luis Carvalho, Ana Carla Fonseca, Claudia Leitão e Lala Deheinzelin também marcaram presença, além de nomes mais regionais do sul do Brasil. As conferências e painéis trataram da nova geração do turismo criativo, as redes do turismo, economia e turismo criativo, inovação, experiências exitosas internacionais e brasileiras, cidades e territórios criativos e muito mais. A liderança maior do evento, o secretario de turismo de Porto Alegre, Luis Fernando Moraes, apresentou o projeto de turismo criativo de Porto Alegre, metodologia que pretende ser responsável pelo desenvolvimento do turismo criativo de sua cidade. O evento teve estrutura simples, mas com tudo o que precisa ter para um evento alcançar os seus objetivos. A cereja do bolo foi o Teatro São Pedro, maravilhoso equipamento cultural dos gaúchos.
As experiências exitosas que mais me chamaram a atenção se relacionam com a promoção das atividades já existentes, sobretudo em cidades criativas de padrão mundial. O caso de Paris, apresentado pela Sylvie Canal, refere-se a um portal que reúne mais de 500 ofertas criativas classificadas em oito categorias, como design, fotografia, culinária, jardinagem e cultura, selecionados sob alguns critérios, como preço e língua estrangeira, mas, sobretudo, prezando pela qualidade dos serviços ali divulgados. No início, a busca foi por proporcionar alternativas turísticas que não fossem meramente contemplativas, mas que apresentassem uma oportunidade mais participativa e que envolvessem o encontro de franceses e visitantes. Sylvie disse que se inspirou no caso de Barcelona e que não seguiu uma metodologia estruturada, mas foi realizando aos poucos a avaliação e inclusão das oficinas no portal. Atualmente estão evoluindo de um mero site informativo para passar a comercializar os produtos no próprio site. O objetivo dessas ofertas turísticas criativas é deixar o próprio turista ser o ator principal do sua jornada. Pensa-se em criar um selo que ateste quanto à qualidade dos serviços criativos divulgados. No mesmo sentido vem o barcelonacriativa.info, portal das atividades e serviços criativos que ocorrem em Barcelona. Com o propósito de aproximar artistas locais, moradores e visitantes, o portal apresenta as opções de oficinas e estágios que podem ser realizados na cidade. Com o intuído de mostrar uma cidade mais criativa e efervescente, mas fora dos padrões turísticos convencionais, o portal promove visitação nos bairros onde moram os artistas e isso agrada muito aos visitantes, que se sentem verdadeiramente participantes da vida cotidiana local. Caroline chegou a dizer que somos todos alunos do turismo criativo, no sentido de que estamos todos aprendendo juntos a proporcionar experiências criativas mais relevantes e impactantes para visitantes e moradores.
Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal de Turismo, sob a batuta de Luis Fernando Moraes, trilha o mesmo caminho, com a identificação e sensibilização de parceiros, qualificação e divulgação de oficinas e atividades criativas para moradores e visitantes. O mérito da capital gaúcha está em ter começado a caminhar e já colhe os primeiros frutos. A própria conferência já indica um caminho de sucesso que está sendo construído. Por outro lado, Porto Alegre possui problemas, como um receptivo desatencioso e, muitas vezes, áspero com o visitante. Nesses três dias que passei na capital do churrasco, colecionei alguns casos de mau atendimento, sendo alguns engraçadíssimos. No mais, o caminho está traçado para o desenvolvimento do turismo criativo e as palmas vão para o secretário municipal, Luis Fernando Moraes.
Agora, voltando para Salvador, trago aprendizados e, sobretudo, a convicção de que estamos avançados no caminho do turismo criativo. Aqui, não apenas a prefeitura está ligada na economia criativa, mas, sobretudo, o Sebrae Bahia, que está à frente de projeto que já apresenta seus primeiros resultados. O Projeto Estruturante da Economia Criativa, realizado com recursos do Sebrae Nacional e do Sebrae Bahia, inclui ações em Territórios Criativos e tem metodologia própria para identificar e desenvolver atrações criativas, passando pelas pesquisas, qualificações e promoção das atividades e pontos de visitação criativa em cada território. Bairros como Candeal, Santo Antônio, Curuzu, Bonfim, Ribeira e Rio Vermelho participam desse projeto, que está em total aderência com o que se faz mundo afora e inova em questões fundamentais como a governança compartilhada nos territórios. Além de territórios em Salvador, cidades como Cachoeira, Ilhéus e Porto Seguro estão incluídas no projeto estruturante da economia criativa.
Música, pintura, teatro, gastronomia, artesanato, poesia e tantos saberes criativos que temos na Bahia fazem do nosso Estado o mais rico em possibilidades para desenvolver sua economia com base na criatividade e ainda fazer um turismo que desenvolva o local, promova a criatividade de todos, integre os territórios da cidade e que, sobretudo, gere relações e vínculos entre o visitante e as pessoas da terra.