Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Ultrapassando os Limites do Bom Senso

Quem acreditou que passada a eleição tudo voltaria a ser como dantes no quartel de Abrantes, se enganou redondamente. Pelo andar da carruagem existem motivos de sobra para acreditarmos que coisa pior vem por aí. Se por um lado, a oposição parece disposta manter a pressão sobre o governo, como nuncaantesnahistóriadestepaís, por outro lado, as hostes governistas dão claras indicações de que a tal estória de diálogo foi apenas conversa para boi dormir e que estamos na iminência de uma guerra total. A resolução política da executiva do PT deixou claro que o não há diálogo possível, que seu objetivo é a hegemonia na sociedade e que a guerra será travada no campo cultural. O PT chamou a militância às armas (midiáticas), em um post no facebook, e declarou Aécio como comandante do exercito oposicionista.

Ainda que vários analistas achem que a polarização política é positiva, representando o vigor da democracia, continuo a insistir na questão de que limites precisam ser observados sobre pena do embate ideológico degenerar em tragédia.

Esta semana um destes limites foi ultrapassado. No dia 02 de Novembro o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) publicou na sua página do facebook a charge abaixo, a propósito das manifestações que surgiram em São Paulo marcando uma nova fase de oposição ao governo Dilma. Em referência direta e explícita aos manifestantes o deputado escreve… (sic) “neandertais são mais civilizados do que essa gente ressentida e odiosa que quer solapar a democracia e o estado de direito”. A imagem é eloquente e fala por si mesma.

Sob o manto da defesa da democracia o deputado se opõe àqueles que pensam de forma diferente da dele e reproduz, não sei se de forma intencional ou inadvertidamente, o que há de mais odioso e preconceituoso na propaganda que é a desumanização do outro, do que pensa diferente, daquele que é diferente de nós. Esse tipo de ação só tem paralelo na propaganda de guerra onde, ao retirarmos as características humanas dos inimigos, tornamos mais fácil a sua destruição já que ele é diferente de nós.

É exatamente isso o que vemos dois cartazes de propaganda da Segunda Guerra Mundial onde esta mesma lógica está em plena ação. No primeiro cartaz, os alemães são descritos como as bestas brutas e representados por um animal que mostra as garras e segura um tacape. No segundo caso, vemos uma imagem depreciativa dos japoneses onde traços físicos são deformados e exagerados de modo a reforçar estereótipos e preconceitos. Poderia seguir mostrando cartazes onde judeus são apresentados com características malévolas ou brasileiros são representados como macacos na Guerra do Paraguai, mas creio que já deixei claro o meu ponto.

No momento em que este texto está sendo escrito, a charge absurdamente discriminatória e preconceituosa do deputado já havia sido reproduzida mais de 19 mil vezes tendo recidibo mais de 40 mil curtidas no seu site.
Não conheço o deputado Jean Wyllys, mas é triste tê-lo como o agente de deste tipo de propaganda. Ele que tem uma trajetória marcada pela defesa dos direitos e interesses de minórias que historicamente têm sido alvo de ações discriminatórias e preconceituosas deveria entender o alcance e o efeitos que imagens deste tipo têm sobre as pessoas e as relações sociais. Ainda que o confronto ideológico seja duro e a polarização política um fato, imagens como esta ultrapassam todos os limites do bom senso e da convivência democrática merecendo o nosso mais veemente repúdio.

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