25 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Preciso reconhecer que a máquina de propaganda governamental me deixou muito balançado com o tal programa “Mais Médico”. Os números são tão grandiosos, milhares de UPAs, dezenas de milhares de vagas, bilhões em recursos, são tantas as promessas e tão significativas as “realizações”, que me senti culpado por não acreditar naquilo que o marqueteiro de plantão mandou dizer.
Foi amparado na tentativa de extirpar a culpa que senti por desconfiar dos poderosos de plantão que resolvi, à moda São Tomé, comparar o nosso Sistema Único de Saúde com o seu congênere da Inglaterra, o NHS. Afinal, se um ex-presidente disse que a saúde no Brasil já era quase de primeiro mundo, nada mais natural! Entretanto, como uma comparação entre estrutura, equipamentos e financiamento não é possível no escopo deste texto de quinta, resolvi adotar uma estratégia mais heterodoxa e me restringi aos sites dos dois sistemas. Parti da premissa de que os sites são uma das mais acessíveis fontes de informação ao usuário, são portas de entrada no sistema e expressam concepções de gestão, principalmente pelo tipo de informação que dispõem.
Após ”cuidadosa e detalhada” avaliação fica claro que o site do SUS tem a cara da retórica governamental, são dezenas de links que levam à documentos, idéias, estratégias, concepções e…nada mais. Não que a leitura não seja importante, é. Mas para quem tem dor de barriga ou dor de dente, parar para ler a página do SUS não ajuda em nada.
Já o site do NHS é completamente voltado para o usuário do serviço de saúde. Ainda que elementos de política, estrutura e concepção possam ser encontrados, salta aos olhos coisas como o “localizador de serviços”, que indica a unidade de saúde mais próxima do seu endereço; lá você também encontra orientações concretas de como proceder em relação às principais doenças (sintomas e tratamentos); tem um índice de medicamentos e seu uso associado à cada tio de doença para o qual ele pode ser prescrito; e, um dos meus preferidos, um programa de checagem de sintomas. Nele você indica o que está sentido e, de forma interativa, recebe orientação de como proceder, desde cuidados domésticos e orientação de procurar um serviço de emergência. Tudo isso com apenas com um clique.
Para não dizer que o nosso site é inútil, depois de muito buscar, identifiquei no site do SUS uma orientação sobre índice de massa corporal. No site tem a fórmula para você fazer o cálculo e uma tabela, graficamente bastante ruim, com a indicação de como o resultado deve ser lido. Todavia, o mesmo serviço no site inglês, é um aplicativo onde você entra com seus dados e o site calcula o resultado para você. A informação é apresentada em uma escala que combina cor e o resultado para uma melhor visualização e vem com os links para cuidados de saúde…
Esse processo investigativo foi bastante enriquecedor, por vários motivos: primeiro permitiu que eu exorcizasse o fantasma da culpa que sentia por duvidar dos planos mirabolantes de nossos grandes líderes; segundo, mostrou que mesmo nas coisas básicas e simples nós ainda temos muito, muito, o que andar; e terceiro, deixou claro que o problema não se resolverá apenas com a injeção de mais recursos no sistema. É fundamental que eles sejam bem usados e que o critério básico de uso deve ser a solução do problema do usuário. Afinal, não deve custar caro fazer um site decente…