28 junho 2025
Um ano após Luiz Antonio Bonat substituir Sergio Moro como responsável pela Lava Jato de Curitiba, o número de processos à espera de sentença na 13ª Vara Federal da capital paranaense duplicou. Nesse período, o magistrado deu apenas uma sentença da operação.
Bonat assumiu como titular da vara no dia 6 de março do ano passado e herdou 25 ações penais da Lava Jato, segundo dados da própria Justiça Federal. Em março de 2020, perto do primeiro aniversário de Bonat no antigo gabinete de Moro, já são 51 ações penais da operação aguardando suas decisões.
Esse número leva em conta processos cujas denúncias do Ministério Público Federal já foram acolhidas. Não foram contabilizados inquéritos e ações sob sigilo, suspensas ou divididas em mais de uma.
Bonat é visto por advogados que trabalham na operação como um magistrado com perfil diferente do seu antecessor em relação ao ritmo que impõe aos processos. Embora também tenha um histórico de decisões rígidas em relação a crimes de colarinho branco, costuma ser mais aberto aos pedidos das defesas, que normalmente demandam mais prazo processual.
Em 19 de fevereiro, veio a primeira e única sentença da Lava Jato sob Bonat até agora. Ele condenou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto a sete anos e meio de prisão, por corrupção, e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque a seis anos e meio, por corrupção e lavagem de dinheiro em processo envolvendo o estaleiro Jurong, de Singapura.
Ambos já haviam sido condenados em outros processos por Moro. Esse processo tramitava na Vara desde 2017.
Ao assumir, o juiz ficou responsável pelo maior processo da operação em Curitiba, a ação oriunda da 56ª fase, deflagrada em 2018, que apurou a construção de um edifício que seria a sede Petrobras na Bahia, batizado de Torre Pituba.
Com 42 réus, incluindo delatores da OAS e Odebrecht, além de nomes ligados ao PT, o processo consumiu boa parte do tempo de Bonat, com audiências que tomaram dias inteiros. Os réus já foram ouvidos, mas deve haver novos interrogatórios de acusados, e não há previsão para um desfecho do caso.
O ritmo acelerado de promulgação de sentenças foi uma das marcas da Lava Jato em seus primeiros anos, o que, ao mesmo tempo em que aumentava a popularidade de autoridades envolvidas na operação, despertava uma série de críticas das defesas, que falavam em açodamento.
De março de 2014, quando foi deflagrada a primeira fase da Lava Jato, até novembro de 2018, quando deixou a magistratura, Moro expediu 46 sentenças na operação, algumas delas em um prazo de cinco meses entre a abertura e o ato final.
Contribuía para isso a dedicação quase exclusiva do hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro aos casos da operação.
Hoje, as atribuições que antigamente eram de Moro estão divididas entre dois juízes. Bonat cuida de ações penais abertas, e a juíza substituta da vara, Gabriela Hardt, é a responsável por despachar em inquéritos e procedimentos paralelos relacionados às investigações, como medidas cautelares tomadas contra suspeitos.
Essa divisão de tarefas foi definida em portaria do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que administra a Justiça Federal em primeira instância no Sul do país, e é válida pelo menos até maio.
O acúmulo de novos casos na Lava Jato também tem a ver com a produtividade do Ministério Público, que em 2019 apresentou 29 denúncias (acusações formais), recorde desde 2014.
Folha de S.Paulo