Radar do Poder: Os viajantes baianos, o “migué” de ACM Neto, o grude de Pancadinha e a política com pamonha
radar do poder | 18 junho 2025
Missões de luxo
Onze deputados da bancada baiana na Câmara Federal receberam, em 2025, R$163.533,05 em diárias correspondentes a viagens oficiais ao exterior, segundo levantamento feito pela Radar do Poder no portal oficial do Legislativo. Além disso, a Casa gastou R$ 232.401,75 na aquisição de passagens aéreas para esses mesmos parlamentares, inclusive em classe executiva. O deputado José Rocha (União) ocupa o topo da lista das despesas pagas pelo contribuinte. Em duas viagens internacionais, recebeu R$ 21.361,76 em diárias e torrou R$ 57.669,09 em passagens.

Rumo ao Uzbequistão
Em maio, José Rocha acompanhou o ministro do Turismo, Celso Sabino, em uma viagem de três dias à Espanha para a reunião do conselho da ONU ligado ao setor. Em abril, ficou seis dias no Uzbequistão, na Ásia, onde participou da Assembleia da União Interparlamentar (UIP). Fez as duas viagens na primeira classe de voos comerciais. O deputado Cláudio Cajado (PP) é outro que curte um programa internacional. Ele embolsou R$ 21.337,94 em diárias internacionais em 2025, esteve neste mesmo evento e em outros compromissos no Uzbequistão em uma agenda de 11 dias. Só as passagens de classe executiva custaram R$ 40.008,15.
Quedinha pelo Oriente
Outro que esteve no Uzbequistão em abril foi o deputado Jonga Bacelar (PL) – só que ele viajou em classe econômica, ao custo de R$ 28.626,02 ida e volta – o parlamentar já recebeu R$ 20.473,38 em diárias internacionais este ano, computando uma ida a Portugal. Quem também andou pelas bandas do Oriente em 2025 foi o deputado Félix Mendonça Júnior (PDT), que passou nove dias em missão oficial na Turquia em maio – o pedetista recebeu R$ 12.454,80 em diárias e as passagens para todos os trechos custaram R$ 28.732,77.
Carona presidencial
A lista dos viajantes baianos inclui dois parlamentares que acompanharam o presidente Lula (PT) em agendas no exterior em voos da Força Aérea Brasileira (FAB) – a Câmara só gastou com diárias nesses casos. O deputado Elmar Nascimento (União) foi a Moscou, na Rússia, e a Pequim, na China, com o mandatário da Nação, em maio. Para isso, recebeu R$ 12.476,20 a mais no salário. Já o deputado Daniel Almeida (PCdoB) esteve apenas na China e foi contemplado com R$8.523,62. Elmar não teve sorte no convescote, porque atribuíram primeiro a ele o vazamento do episódio com Janja, antes de responsabilizarem o ministro Rui Costa (Casa Civil).

Da Suíça aos EUA
Na relação há, ainda, o deputado Leo Prates (PDT), que passou 11 dias na Suíça em eventos internacionais relacionados a desastres ambientais e trabalho – as passagens somaram R$ 9.563,81 e as diárias, R$ 12.497,60. Já a deputada Roberta Roma, que faturou R$ 17.043,35 em valores por missões no exterior este ano, esteve por seis dias em Nova York, nos EUA, alegando participar de reuniões consulares e seminários, enquanto em abril visitou Buenos Aires, na Argentina, para uma agenda relacionada ao agro – as despesas com passagem custaram R$ 14.828,64 ao erário.
De Cuba à França
Também foram contemplados com os benefícios os deputados Valmir Assunção (PT), que esteve sete dias em Cuba; Márcio Marinho (Republicanos), que ficou oito dias na Espanha e Bélgica; e Neto Carleto, que passou cinco dias na França. Todos alegaram participações em congressos, eventos ou reuniões para justificar as despesas extras. O valor da diária internacional paga pela Câmara para os parlamentares é de R$ 2.490,96, limitada a cinco por viagem.
Irônico
O ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) abusou da ironia numa entrevista concedida a uma rádio de Jequié, na terça (17), ao dizer que não “viu” nenhum prefeito do grupo político dele migrar para a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Quatro gestores do próprio União Brasil já afirmaram abertamente ter feito o movimento: Tonho de Zé de Agdônio (Santa Maria da Vitória), Saulo Islan (Itagi), Agamenon Coelho (Araças) e Gel da Farmácia (Buerarema). Outros estão em processo de negociação política com o governo, mas, como sempre acontece, de olho no favoritismo de Neto nas pesquisas.

Preço da adesão
É o caso, por exemplo, do prefeito de Mata de São João, Bira da Barra. Na mesmo dia em que ACM Neto deu a entrevista em Jequié, o gestor, também do União Brasil, declarou em uma rádio da cidade que muda de lado se o governador construir a estrada que liga a sede do município ao litoral, numa demonstração de chantagem explícita que já enche o saco de Jerônimo Rodrigues (PT). “Se a estrada acontecer, eu estou colado com ele. Quem apoia a minha cidade, tem o meu apoio”, pontuou. Bira afirmou que outros governadores prometeram realizar a obra e não cumpriram, inclusive na gestão do antecessor João Gualberto (PSDB).

Fase da conquista
Do União Brasil, quem segue negociando a adesão ao governo é o prefeito de Cairu, Hildécio Meireles. À coluna, ele voltou a admitir apoiar a reeleição de Jerônimo por conta das obras feitas pelo governo no arquipélago. Embora não seja do mesmo partido, outro aliado de peso de ACM Neto que pode deixar o palanque da oposição é o gestor de Jequié, Zé Cocá (PP), bastante elogiado pelo ex-prefeito de Salvador na entrevista à rádio da cidade. Cocá busca, inclusive, ter liberdade para escolher quem apoiar em 2026 para seguir no ninho pepista após a formação da federação com o União Brasil. Mas também Cocá analisa as pesquisas, nas quais Neto lidera.
Pancadinha grudado
O deputado estadual Pancadinha (Solidariedade) até largou a mão de ACM Neto, mas a de Elmar Nascimento ele não desgruda nem com reza braba. Agora na base de Jerônimo, o deputado do Solidariedade continua colado no parlamentar, que também costuma fazer acenos ao PT baiano, mas, por enquanto, segue no campo oposicionista. Em Itabuna, já tem gente dizendo que, se depender de Pancadinha, Elmar vira até secretário de Estado. Vai que cola.

Política com pamonha
O senador Angelo Coronel (PSD) fez uma visita surpresa à Assembleia, Casa que já presidiu, e foi tietado por servidores e deputados na confraternização de São João, na nesta terça (17). O parlamentar, que tem sua “bancada” cativa, circulou animado e reencontrou aliados — inclusive o presidente da Câmara de Salvador, Carlos Muniz (PSDB), que agora bate ponto semanal no Legislativo estadual firmando os passos do filho homônimo, que pretende lançar como candidato a deputado federal. Política e pamonha, tudo no mesmo balaio.

Indústria na tela
A TV Assembleia firmou convênio com a Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) para exibir conteúdos relacionados ao segmento em sua programação. A parceria, assinada pela diretora da Fundação Paulo Jackson, Michele Gramacho, e pelo presidente da Fieb, Carlos Henrique Passos, prevê produções conjuntas com foco no setor produtivo do estado. A vigência é de dois anos.
Quebra de decoro
Corregedor da Câmara de Salvador, o vereador Alexandre Aleluia (PL) finalmente recebeu uma representação por quebra de decoro parlamentar contra o colega Hamilton Assis (PSOL) por conta do episódio da invasão ao Centro Cultural da Casa. Só que o pedido de perda de mandato não foi movido por um vereador. Coube a um cidadão comum, de nome Pedro Ivo Cortes, ingressar com a ação, num movimento que o alvo atribui à bancada do prefeito Bruno Reis (União),

Recomeço em agosto
A representação já foi aceita e será encaminhada por Aleluia ao Conselho de Ética da Câmara, instalado ontem (17), antes do início extraoficial do recesso de meio de ano, que oficialmente só deveria começar em julho. Por ser o corregedor, o próprio Aleluia foi indicado para presidir o colegiado, que tem sete membros titulares e igual número de suplentes. O processo só deve andar em agosto, quando os edis retornam das férias. Hamilton terá um prazo de cinco sessões legislativas para apresentar defesa.
De olho
Não tem ficado nada boa a relação entre os deputados e alguns secretários estaduais que já anunciaram candidaturas ao Legislativo no ano que vem. Por enquanto, o campeão de reclamações é o titular da Infraestrutura, Sérgio Brito, cuja desenvoltura no uso da máquina, segundo virtuais concorrentes, beira a irresponsabilidade. Mas há outros na fila sobre os quais relatórios também tem sido produzidos para entrega oportuna a Jerônimo.
Pitacos
* Das 15 cidades da Bahia que mais gastaram na contratação de artistas para o São João, três estão em situação de emergência por conta da estiagem: Senhor do Bonfim (R$ 5,3 milhões), Quijingue (R$ 5,2 milhões) e Tucano (R$ 4,3 milhões).
* O prefeito de Candeal, Júnior Batata (Avante), cancelou a festa de São João na cidade alegando que a gestão tem sofrido com precatórios e dívidas com a Receita Federal. Culpou os antecessores.
* Já o prefeito de Ilhéus, Valderico Júnior (União), destinou R$ 2,3 milhões para o São João antecipado mesmo tendo herdado uma dívida bilionária com a União relativa a precatórios, débitos fiscais e pendências com o INSS.

* Sobre Ilhéus, o ex-prefeito Jabes Ribeiro, atual secretário-geral do PP baiano, revelou, em entrevista a uma rádio da cidade, que ficou ao lado de Valderico no último pleito em troca do apoio do prefeito a um candidato pepista a deputado federal em 2026.
* Jabes, que tentou ser o postulante da oposição ao PT à Prefeitura ilheense, afirmou mais: que Valderico não foi simpático à proposta, mas o acordo foi bancado por ACM Neto. O beneficiado deve ser Cacá Leão (PP), hoje secretário de Governo em Salvador.
* O deputado Neto Carletto (PP) decidiu transformar a tribuna da Câmara Federal em extensão da Câmara de Vereadores de Eunápolis. Dos 15 pronunciamentos do parlamentar em plenário, seis foram sobre o município de quase 120 mil habitantes.
* Nos discursos, Carletto não poupa críticas ao prefeito Robério Oliveira (PSD), de quem é adversário, a exemplo do que ocorreu na semana passada, quando o deputado atacou a “precariedade” da saúde e da educação na cidade.
* O detalhe é que até agora ninguém levantou a voz para defender o prefeito de Eunápolis. Nem mesmo os colegas do PSD.
* Ao criticar a insegurança em Salvador no plenário da Assembleia, nesta terça (17), o deputado Matheus Ferreira (MDB), que parece ainda engatinhar nos rudimentos da política, acabou recebendo uma aula básica do colega Robinho (União): segurança pública é dever do Estado, não da Prefeitura.
* Robinho disse que culpar a Prefeitura é desviar do verdadeiro responsável. Só faltou dizer que o pai de Matheus, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), deveria reduzir o número de PMs que fazem a própria segurança para que a corporação tenha mais efetivo nas ruas. Aliás, Matheus também.