31 outubro 2024
O resultado da madrugada desta quarta-feira (10/08), quando o Senado, por 59 votos (73,75%) a 21 (26,25%) aprovou o relatório do senador aecista Antônio Anastasia (PSDB-MG) e tornou ré, por crime de responsabilidade, a presidente eleita Dilma Rousseff (PT), deixa evidente que a direita está irredutível. As tentativas de um entendimento, de uma repactuação, inclusive com a realização de nova eleição presidencial, parecem sem forças suficientes para salvar a democracia brasileira.
As elites nacionais, sempre irracionalmente submissas aos interesses do grande capital internacional, botam pé firme. Seguem consultoria estrangeira e rejeitam qualquer possibilidade de uma negociação. Aprovaram a continuidade do processo golpista e, provavelmente, reafirmarão o impeachment, na votação final, com uma vantagem bem superior aos dois terços e mais um exigidos pela Constituição.
A opção pelo golpe está mantida, embora o Ministério Público Federal tenha concluído que pedalada fiscal não é crime de responsabilidade e apesar dos riscos que sempre resultam de toda e qualquer ruptura institucional. As forças conservadoras se sentem fortalecidas, inclusive porque contam com o apoio das instituições, que deveriam defender a democracia, e a cumplicidade irresponsável de grande parte da mídia comercial.
Aceitar novas eleições é colocar em risco todo o processo golpista. A tendência seria uma nova derrota, a quinta seguida. As pesquisas apontam a vitória de Lula, mesmo com todo linchamento midiático e qualquer que seja o candidato adversário. Mas, também passam para as elites o recado de que é indispensável prendê-lo, e como ainda não conseguiram provas para tanto, nova eleição presidencial agora seria um tiro no pé.
Bem ou mal, aprovado ou rejeitado, Michel Temer (PMDB-SP) está aí para fazer o serviço sujo que interessa ao grande capital internacional. No plano externo, entregar o pré-sal às grandes petrolíferas transnacionais, sabotar o Mercosul e, principalmente, o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
No plano interno, impor o neoliberalismo de forma ainda mais radical do que na época de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Privatizar tudo que ainda resta da riqueza nacional e extinguir históricos direitos trabalhistas sob o falso argumento de redução do chamado “custo Brasil”.
Por enquanto, a tirania e o arbítrio estão vencendo as liberdades democráticas e o Estado de direito. Anestesiados nos últimos anos, os movimentos sociais, infelizmente, não demonstram capacidade para uma resistência à altura. O golpe jurídico-parlamentar-midiático caminha a galope, em ritmo acelerado. Tomara que ainda seja possível a retomada da mobilização popular, a tempo de salvar o Brasil. A democracia agoniza.
* Rogaciano Medeiros é jornalista.