Foto: Polícia Federal
Quem vai comprar um carro, uma casa, não carrega mala de dinheiro, diz o presidente do Coaf, Antônio Gustavo Rodrigues, que defende a proibição de pagamentos em dinheiro acima de R$ 30 mil 20 de setembro de 2017 | 10:27

Pagamento em espécie é motivo de preocupação em todo o mundo, diz Coaf

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O presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Antônio Gustavo Rodrigues, disse ontem (19) que, apesar da evolução tecnológica e das novas ferramentas de segurança oferecidas pelos bancos, ainda há enorme preocupação com o uso do dinheiro em espécie, que não é rastreável. Por isso, em palestra no 7º Congresso de Combate e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo, Antônio Gustavo destacou que é preciso tomar medidas para restringir a circulação e proibir ou dificultar a adoção de pagamentos em dinheiro. “Isso para qualquer pagamento. Se você vai comprar um carro, uma casa, não vai ficar carregando mala de dinheiro. Para qualquer tipo de pagamento, não é razoável que uma pessoa carregue grandes quantidades de moeda. Em princípio, eu diria que devia ser proibido pagar em dinheiro a partir de R$ 30 mil. Até mesmo menos do que isso já é muito dinheiro para ficar carregando. Devíamos seguir o exemplo de outros países e ter leis proibindo pagamentos acima desse valor em dinheiro”, afirmou Antônio Gustavo. Ele ressaltou ainda que é preciso haver sinergia entre os órgãos reguladores e os regulados para que a troca de informações contínua permita o combate efetivo à lavagem de dinheiro. “Apesar de o Coaf [conselho ligado ao Ministério da Fazenda] não ser regulador, interage tanto com reguladores quanto com regulados, especialmente na área da lavagem de dinheiro, que requer muita troca de informações e entendimento para que processos identifiquem situações que permitam ao Coaf trabalhar e assim ajudar a polícia e o Ministério Público”. Segundo Antônio Gustavo, como unidade de inteligência financeira, o Coaf trabalha recebendo informações de vários setores econômicos, principalmente os bancos e quanto mais essas instituições forem capazes de detectar situações suspeitas e informar o Coaf, melhores serão as informações para a polícia e o Ministério Público. “Tivemos uma enorme evolução nos sistemas brasileiros, mas é preciso uma ótima relação entre o Banco Central e os bancos para que esse trabalho seja cada vez melhor, porque, do outro lado, tem sempre o bandido querendo esconder, burlar ou evitar a norma. Eles [bandidos] estão sempre inventando novas formas, e nós temos de estar sempre conversando para descobrir essas novas formas e tampar os buracos”, disse Antônio Gustavo. Para o presidente do Coaf, os sistemas de segurança e de detecção de fraudes estão avançados, e cada vez que se descobre alguém “guardando dinheiro no apartamento”, quer dizer que essa pessoa não quis colocar o dinheiro no banco justamente por saber que poderia ser pego. “Depois que o criminoso está com o dinheiro, ele vai querer lavar esses valores; então, já vai cometer um segundo crime. Estamos trabalhando na segunda fase. Se esse sistema não estivesse funcionando, os criminosos que estão guardando dinheiro em espécie, estariam colocando no banco. Se eles não colocam, já é um sinal de que o sistema está funcionando”, acrescentou. Antônio Gustavo ressaltou que o banco precisa conhecer bem seu cliente, já que bilhões de transações são feitas diariamente e nem sempre é possível perceber o crime em todas elas. Em algumas situações, porém; a transação chama a atenção: “Há momentos em que o custo de conhecer um empresário que movimenta R$ 100 mil vai ser o mesmo de conhecer o trabalhador informal que ganha R$ 1.000. Então, é preciso ter um esquema de análise de risco para saber onde alocar recurso. Isso não é surpresa, a própria receita trabalha assim”.

Flávia Albuquerque, Agência Brasil
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