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Ministro da Previdência, Carlos Lupi 29 de abril de 2024 | 08:47

Entrevista – Carlos Lupi: ‘O PDT não tem alianças automáticas com nenhum lado’

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Embora licenciado do comando nacional do partido para exercer a função de ministro da Previdência, Carlos Lupi segue dando as cartas no PDT. Na sexta-feira (26), ele esteve em Salvador para se reunir com correligionários do partido e com as duas principais lideranças do União Brasil no Estado: o prefeito Bruno Reis e o antecessor ACM Neto. Na pauta, as eleições de 2024.

Embora tenha ido a uma agência do INSS, o objetivo da visita foi partidário. Lupi pediu a Bruno Reis que mantenha a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) na chapa à reeleição. Além disso, em conversa com a imprensa baiana, surpreendeu e lançou o presidente da legenda no Estado, o deputado federal Félix Mendonça Júnior, como candidato ao Senado em 2026.

Na conversa com ACM Neto, solicitada pelo líder da oposição na Bahia, o objetivo foi acalmar os ânimos na relação Félix e o ex-prefeito, que ficou estremecida após a saída da vereadora de Lauro de Freitas Débora Régis, pré-candidata ao Executivo municipal, do PDT para o União Brasil. Lupi, no entanto, não descarta dialogar com o PT também na Bahia.

Confira abaixo a íntegra da entrevista, gravada entre as agendas e entrevistas de Carlos Lupi em Salvador.

Política Livre – Um dos maiores problemas que o senhor enfrenta como ministro da Previdência é a fila de pessoas em busca de atendimento nas agências do INSS. Como isso está sendo enfrentado?

Carlos Lupi – A Previdência tinha acabado no governo anterior, era apenas uma secretaria dentro do Ministério da Economia. Foram feitos vários programas para, em vez de resolver a situação dos pedidos dos aposentados e pensionistas, aumentaram os problemas. Era um descaso. Nós estamos conseguindo mudar isso. Até dezembro de 2022, chegamos a ter um estoque de fila com uma média de mais de 10 dias de espera nacional. No Nordeste, mais de 200 dias de espera de mais de 2,4 milhões de pessoas. Era o tempo que as pessoas aguardavam para ter algum resultado. Hoje, a média nacional está em 43 dias e a fila é de 1,416 milhão, sendo que todo mês entra um milhão de pedidos novos. Então, na verdade a nossa fila real está em 416 mil aguardando em média.

 

“Os motivos (da saída de Débora Régis) ainda são uma incógnita para mim. Mas de fato foi decepcionante, sobretudo em se tratando de alguém que pediu e sempre contou com o nosso apoio.”

 

E a situação hoje no Nordeste?

Aqui, são 55 dias, maior que a média nacional. Mas aqui na Bahia, especificamente, o dado é melhor porque são 28 dias de média de espera. E isso é o primeiro resultado eu a gente conseguiu alcançar pelos esforços dos comandos de gestão para dar uma resposta a sociedade. Fiz questão de, nessa agenda em Salvador, visitar a sede do INSS aqui e acompanhar de perto a situação. Estamos monitorando tudo de perto.

Uma das decisões do ministério que levantaram alguma polêmica no início do governo Lula (PT), sobretudo com os bancos e a área econômica, foi a redução dos juros do consignado. O senhor prevê novas quedas?

Já reduzimos de novo, após aprovação há alguns dias do Conselho Nacional da Previdência Social. Agora os juros são de, no máximo, 1,68%, o menor percentual da nossa história. Com a redução da taxa Selic, isso foi possível e aceito pelo governo e pela área econômica. E estamos adotando uma série de outras medidas e programas para melhorar a vida dos aposentados e pensionistas, a exemplo do investimento no atendimento remoto. Precisamos dar cada vez mais dignidade a essas pessoas, e é para isso que aceitei ser ministro da Previdência.

Um dos primeiros compromissos do senhor em Salvador foi um encontro com o ex-prefeito ACM Neto (União), na quinta à noite. A reunião foi para acalmar os ânimos entre o comando do PDT da Bahia e o União Brasil após a disputa pela filiação da vereadora e pré-candidata da oposição em Lauro de Freitas, Débora Régis, que deixou o ninho pedetista e agora está no partido de Neto?

Estive com o ex-prefeito, com quem já conversei e me encontrei diversas vezes em outras ocasiões, e ele me garantiu que não procurou a vereadora para se filiar (ao União Brasil). Ele me disse que foi uma decisão dela, pelos motivos dela. Se ela quis sair, é um direito dela. Os motivos ainda são uma incógnita para mim. Mas de fato foi decepcionante, sobretudo em se tratando de alguém que pediu e sempre contou com o nosso apoio.

Mas o fato de o União Brasil ter aceitado a filiação da vereadora abala a relação com o PDT?

Eu acho que esse movimento de saída não foi ético. Nós não faríamos o mesmo com qualquer quadro do União Brasil. Não acho que é a parte mais coerente e ética fazer isso. Mas o mais grave para mim é ficar com quem não quer ficar. Não existe casamento quando só um dos lados quer. Tem uma música famosa lá no Rio de Janeiro do Nelson Cavaquinho que diz assim: “siga seu caminho que eu quero passar com a minha dor’.

 

“Temos uma excelente relação com Neto, como também temos com o PT. Afinal, somos da base do governo e eu sou ministro do presidente Lula.”

 

O presidente do PDT da Bahia, deputado federal Félix Mendonça Júnior, já disse que está tudo “zerado” para 2026 no que se refere a aliança com o União Brasil…

Olhe, o PDT não tem alianças automáticas com nenhum lado. Temos uma excelente relação com Neto, como também temos com o PT. Afinal, somos da base do governo e eu sou ministro do presidente Lula. Mas o PDT não está obrigatoriamente atrelado a um lado ou outro. Estamos pensando agora nas eleições de 2024, em eleger o maior número de vereadores, vice-prefeitos e prefeitos. Nos municípios em que não for viável termos candidatos na majoritária, vamos fazer alianças que façam com que o partido cresça, como é o caso de Salvador, onde estamos torcendo e trabalhando para que o prefeito Bruno Reis (União) vença no primeiro turno.

O senhor também esteve com Bruno Reis. A vice-prefeita Ana Paula Matos, que é do PDT, foi oficialmente indicada para permanecer na chapa nas eleições deste ano?

Nós já temos a nossa decisão de apoiar Bruno Reis. E a Ana Paula é uma das maiores lideranças femininas do nosso partido e do país. Até pelo fato de ela já ser a vice, é o nome natural. Mas a decisão cabe ao prefeito e também ao conjunto de partidos da base. É o que nós queremos, mas também não podemos colocar a faca no peito de ninguém. O desejo do PDT é esse, e vamos esperar a decisão. O prazo final para o prefeito decidir são as convenções, entre julho e agosto, e vamos continuar reivindicando esse espaço. Esperamos que Ana Paula seja escolhida, até porque é um excelente quadro e tem ajudado Bruno.

 

“O que Leo (Prates) já manifestou para mim é o desejo de ser candidato a prefeito. E ele tem legitimidade eleitoral e política para isso.”

 

O nome do deputado federal Leo Prates, que também chegou a se colocar como alternativa para a vice em 2024, então fica como alternativa para as eleições majoritárias de 2028?

O que colocamos par Léo, nós e eu particularmente, é que ele é uma liderança que teve quase 90 mil votos apenas em Salvador. Então, temos que respeitar quem tem voto. Ele é um nome natural que o partido tem para qualquer projeto futuro. E o que Leo já manifestou para mim é o desejo de ser candidato a prefeito. E ele tem legitimidade eleitoral e política para isso. Mas até chegar a 2028 ainda temos a eleição deste ano e a de 2026. Nosso foco agora é trabalhar pela reeleição de Bruno e ampliar nossa bancada de vereadores em Salvador.

O PDT também tem planos de ter candidatura própria a governador na Bahia em 2026?

O objetivo de qualquer partido é, sempre que possível, ter candidatura própria. Se não houver condições, fazemos aliança. No caso de 2026 o meu desejo é que o deputado Félix seja candidato a senador. Eu estou lançando, nem falei com ele. É um nome natural também. Se depender de mim, o Félix vai ser candidato ao Senado e eu tenho falado isso a ele. Não estou dizendo que está definido que ele vai concorrer, mas o partido político que não vive dos seus projetos, morre.

Félix seria candidato no grupo de ACM Neto?

Como eu disse antes, temos ainda a eleição de 2024 pela frente e depois disso vamos tratar de 2026. O PDT pode seguir conversando com Neto. Pode conversar com o adversário também, e eu não teria como dizer o contrário, afinal sou ministro do governo Lula. Isso será tratado lá na frente.

Estando na base de Lula, o PDT terá candidato a presidente em 202? O ex-governador Ciro Gomes segue como opção?

Temos que refletir a realidade de cada momento e 2026 ainda está longe. Agora o momento é de tratarmos das eleições municipais. Ciro é um amigo que fala o que pensa, e precisamos ter diversidade de pensamento no Brasil, isso é importante. É uma das pessoas mais inteligente que conheço. Mas não é hora de decidir sobre isso.

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