Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Paulo Guedes 17 de setembro de 2020 | 08:01

Após ‘cartão vermelho’, Guedes passa a consultar Bolsonaro antes de lançar planos

economia

Depois de ser submetido a novo desgaste, o ministro Paulo Guedes (Economia) mudou a estratégia da pasta e quer que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dê aval a propostas, com líderes partidários, antes que elas comecem a ser divulgadas.

Na terça-feira (15), Bolsonaro ameaçou o time de Guedes com “cartão vermelho” caso fossem feitas propostas de criação do Renda Brasil com cortes em outros programas sociais.

Em meio à turbulência, Guedes chamou no início da noite desta quarta-feira (17) uma reunião no Ministério da Economia com os secretários da pasta. O encontro, presencial —modalidade que estava suspensa—, começou por volta das 19h e terminou às 23h. Após quatro horas, não houve declarações à imprensa. ?

A primeira iniciativa para alinhar o discurso será em torno da PEC (proposta de emenda à Constituição) que tratará de um imposto sobre transações nos moldes da extinta CPMF.

Como a Folha mostrou na terça, Guedes decidiu antecipar o cronograma da reforma tributária do governo, com medidas atreladas à recriação da CPMF.

Antes dessa decisão, Bolsonaro externou irritação com manchetes de jornais, entre elas a da Folha, segundo a qual o governo planejava revisar cerca de 2 milhões de benefícios destinados a idosos e pessoas com deficiência.

O rompante de Bolsonaro se deu porque o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, expôs o plano da pasta para congelar por dois anos o reajuste dos aposentados, reduzindo despesas públicas e abrindo espaço no Orçamento para o Renda Brasil.

A ideia era que o novo programa substituísse o Bolsa Família —marca de gestões petistas.

Integrantes do ministério dizem que o próprio Guedes já antecipou informações sobre medidas que ainda estavam em gestação.

Em agosto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusou o time do ministro da Economia de ter vazado a proposta antes de consultar Bolsonaro.

Na época, o presidente vetou a ideia de cortar o abono salarial (espécie de 14º salário pago pelo governo a trabalhadores formais de baixa renda) para bancar o Renda Brasil.

Por isso, a cúpula da equipe econômica quer submeter a PEC da nova CPMF a Bolsonaro para que ele determine o que quer, o que não quer e em que velocidade quer.

Sem um canal de comunicação com Maia, Guedes depende do núcleo político do governo para que uma proposta impopular, como a criação de um imposto semelhante à CPMF, tenha chance de avançar no Congresso.

Para as novas medidas, a equipe econômica quer se distanciar da articulação política com o Congresso, deixando a missão nas mãos da Secretaria de Governo, comandada por Luiz Eduardo Ramos, e dos líderes partidários.

Na Câmara, Maia já anunciou que tratará da agenda econômica apenas com Ramos, pois rompeu publicamente com Guedes.

Na Economia, auxiliares de Guedes têm elogiado o desempenho do novo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Folha de S.Paulo
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