Foto: Marcos Corrêa/PR
Paulo Guedes 11 de novembro de 2020 | 08:35

Guedes ensaia tom otimista, mas dados enfraquecem discurso

economia

O ministro Paulo Guedes (Economia) demonstrou nesta terça-feira (10) um tom otimista ao falar sobre a situação do país e o cenário pós-Covid. Ele disse que a perda de empregos não foi tão forte como em anos anteriores, afirmou que o governo vai fazer quatro privatizações em 2021 e celebrou a queda dos juros ao fazer um balanço sobre sua gestão.

O tom agradou investidores que participaram de uma teleconferência do ministro com a agência Bloomberg, mas também foi alvo de críticas. Dados e o próprio histórico do governo na agenda econômica enfraquecem o discurso do ministro.

Sobre a situação do desemprego, por exemplo, Guedes afirmou que o país está em situação melhor do que o observado no fim do governo de Dilma Rousseff e início do de Michel Temer. “Perdemos menos empregos neste ano do que na recessão de 2015. E perdemos menos neste ano, com toda essa pandemia, do que em 2016”, disse.

Pelos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mede apenas o emprego formal, o ministro acerta. Em 2015, foram 729 mil empregos perdidos até setembro. Em 2016, houve uma perda de 683 mil postos no mesmo período. Neste ano, o número está negativo em 558 mil.

Mas os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que são mais amplos por englobarem também o mercado informal, mostram que a situação está pior em 2020.

A taxa de desocupação no Brasil foi de 13,8%, no trimestre encerrado em julho de 2020 (mais recente, pela Pnad Contínua). Em 2016, foi de 11,3% em julho e 12% outubro. Em 2015, foi de 8,3% e 9%, respectivamente.

Como o IBGE interpreta como desocupadas somente as pessoas sem trabalho que estão procurando emprego, a taxa pode ter indicado nos últimos meses uma situação do mercado melhor que a real. Isso porque, com a pandemia e atividades fechadas, muitas pessoas pararam de procurar emprego.

Técnicos do IBGE e do Ministério da Economia veem um aumento na taxa agora e em 2021, com a volta das atividades e a maior procura por trabalho. A visão foi corroborada recentemente por Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia.

Mesmo assim, Guedes diz que outros dados indicam uma recuperação em V na economia brasileira, como o movimento medido por notas fiscais eletrônicas.

Em meio ao otimismo, Guedes afirmou que o governo vai retomar a agenda de reformas e que quatro grandes privatizações serão feitas até dezembro de 2021. Seriam elas Correios, Eletrobras, Porto de Santos e PPSA (dos contratos do pré-sal).

As vendas, no entanto, são prometidas desde a campanha eleitoral. No começo de julho, Guedes disse: “Nós vamos fazer quatro grandes privatizações nos próximos 30, 60, 90 dias”. Um mês depois, ele repetiu o prazo: “nos próximos 30 a 60 dias”.

Agora, o prazo ficou para daqui um ano e, segundo ele, as propostas devem ser apresentadas ao Congresso em 30 a 60 dias.

Folha de S.Paulo
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