Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Banco Central 17 de março de 2021 | 07:38

Setor produtivo diz que aumento forte de juros pode ser precipitado

economia

O risco de estouro da meta de inflação deste ano entrou no radar dos investidores. Muitos economistas, no entanto, avaliam que o repique dos índices de preços ao consumidor é temporário e não demanda uma ação do Banco Central neste momento de incertezas sobre os impactos da pandemia na economia brasileira.

A preocupação com a alta de juros se dá principalmente no setor produtivo, que vê riscos de uma piora na situação financeira de empresas e famílias, inclusive com risco de aumento da inadimplência e cortes de investimentos.

O Boletim Focus do BC publicado nesta semana mostra que as projeções dos economistas consultados são de um IPCA (índice oficial de inflação ao consumidor) de 4,60% neste ano. Entre as cinco instituições com maior percentual de acerto nas projeções, a estimativa é de 5,12%. A meta de inflação é de 3,75%, com intervalo de tolerância de até 5,25%.

Nesta quarta-feira (17), o Copom (Comitê de Política Monetária) discute uma possível elevação da taxa Selic, atualmente em 2% ao ano. A expectativa majoritária no mercado financeiro é de uma alta para até 2,75%, chegando a 4,5% no final do ano.

“Se o Banco Central é independente de verdade, não precisa dar satisfação ao mercado. Aumentar muito os juros agora é desnecessário. A inflação vai cair. Pode subir 0,25 [ponto percentual] agora, esperar e, talvez mais 0,25 depois para mostrar que está atento à inflação”, afirma Carlos Thadeu de Freitas, chefe da Divisão Econômica da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Para o economista, que já foi diretor do BC, é provável que o IPCA fique próximo de 5% neste ano, mas a expectativa é de queda em 2022, em um cenário em que a inflação de serviços continuará baixa por conta da falta de demanda.

Freitas afirma que, em 2020, o auxílio emergencial contribuiu para que houvesse repasses dos preços do atacado para o varejo, mas que o valor previsto para o benefício neste ano representa pouco mais de 2% das vendas do varejo.

“É necessário subir um pouco os juros para o BC mostrar que está atendo, para que a inflação não fuja do controle, mas o governo tem de ser expansionista, não pode ser contracionista. Em outros países, o juro vai ficar baixo.”

Jonathas Goulart, gerente de Estudos Econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), afirma que o Brasil vive um novo pico de casos de Covid-19 que está fazendo com que a atividade econômica mostre novamente sinais de fraqueza e deve impedir mais repasses de pressão de custos para os preços ao consumidor.

Para ele, enquanto não houver clareza sobre o que está acontecendo na economia real, qualquer decisão de aumento de juros pode ser precipitada. Por isso, seria melhor que o BC esperasse mais tempo para avaliar o cenário.

Eduardo Cucolo/Folhapress
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