31 março 2025
Paulo Arantes, professor sênior do Departamento de Filosofia da USP, se notabilizou por suas análises críticas das contradições do capitalismo brasileiro e da arquitetura política concebida pelo lulismo.
Agora, no terceiro mês do terceiro mandato de Lula, ele diz que nunca foi tão a favor de um governo. Em sua avaliação, o presidente tem pouca margem para fazer algo diferente das políticas dos governos anteriores do PT, sintetizadas por ele na ideia de redução de danos: o esfriamento dos conflitos sociais latentes em um país tão desigual por meio do Bolsa Família e de outros programa sociais, por exemplo.
Neste episódio, ele diz não ter certeza que Lula vai conseguir chegar ao fim do ano no Planalto ou cumprir todo o mandato e que seu governo já terá tido sucesso se for capaz de adiar um eventual retorno da extrema direita ao poder.
Transformar a preservação da Amazônia em um negócio rentável, diz o autor, pode ser o melhor instrumento para Lula comprar tempo em um cenário de desaceleração econômica e pressão política, à semelhança do que o ciclo de valorização das commodities nos mercados internacionais nos anos 2000 proporcionou aos dois primeiros mandatos do petista.
Em fevereiro, Arantes lançou em livro um ensaio publicado no início dos anos 2000, “A Fratura Brasileira do Mundo” (editora 34), que trata do debate sobre a brasilianização dos países desenvolvidos. Na conversa, o autor falou sobre a evolução dessa ideia, que expressa a piora das condições econômicas e sociais do capitalismo central, que se tornaria mais parecido com o Brasil.
Arantes também discutiu a interpretação de pesquisadores como Gabriel Feltran, Miguel Lago e Rodrigo Nunes, que analisam o bolsonarismo como um universo de empreendedores fortemente ligados a uma economia de pilhagem e a ilegalismos de todo tipo.
Eduardo Sombini / Folha de São Paulo