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Presidente estadual do PT, Éden Valadares 02 de maio de 2023 | 07:46

Entrevista – Éden Valadares: “Em Salvador, Camaçari, Feira e Conquista a estratégia é reunir a base já no primeiro turno em 2024”

exclusivas

No quarto ano como presidente do PT da Bahia e com mandato renovado até 2025, Éden Valadares coloca como principal missão à frente do partido ajudar a garantir a governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Isso envolve fazer concessões a aliados, antigos e novos, inclusive nas disputas eleitorais de 2024 e na distribuição de espaços de poder.

Nesta entrevista exclusiva, Éden, que tem apenas 41 anos de idade e começou a trajetória de militância no movimento estudantil, defende a tese de que a base de Jerônimo deve ter uma única candidatura desde a largada nos municípios onde houver segundo turno. Ele garante que o PT também está disposto a apoiar – e isso vale para Salvador -, onde faz críticas à gestão do prefeito Bruno Reis (União Brasil).

Segundo ele, “em cidades onde há previsão de segundo turno, como Salvador, Vitória da Conquista e Feira de Santana, e talvez entre Camaçari, a depender do eleitorado, o entendimento do PT é que a estratégia mais acertada é reunir a base já no primeiro turno”.

Ainda sobre 2024, Éden adianta que em Camaçari, por exemplo, o secretário de Relações Institucionais (Serin), Luiz Caetano (PT), deverá disputar o pleito.

“O fundamental para o PT, vou insistir, não é garantir a sua opinião, e sim conseguir a unidade no grupo de Jerônimo nas cidades que têm previsão de segundo turno e nas demais, porque queremos que Lula e o governador ganhem as eleições em todos os municípios da Bahia”, afirma.

Nesse papo de cerca de 30 minutos, o presidente do PT da Bahia também comenta sobre insatisfações na base do governo estadual, a presença de tradicionais adversários em cargos entregues por Lula, as ações do MST e a diferença de estilo entre Jerônimo e os antecessores, os atuais senador Jaques Wagner (PT) e ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). De ambos, Éden foi coordenador de campanha ao Executivo estadual.

A este Política Livre, ele também conta que o deputado federal Elmar Nascimento, do União Brasil, tem incomodado a militância petista com indicações na Codevasf. “Se eu disser que não incomoda a minha militância, a minha base, o meu partido, eu estaria mentindo para você. A gente entende que tem um certo desconforto sim, pois não é tranquilo virar para as bases do PT e dizer que quem apoiou Bolsonaro vai governar com a gente”, assegura.

A respeito de uma CPI para investigar as invasões de terra feitas pelo MST, Éden sugere: “Se tiver que ter CPI para investigar as ocupações de terra feitas pelo MST, antes deveria haver uma outra da grilagem de terra”.

Confira!

Política Livre – O PT decidiu que não haverá eleição para o comando dos diretórios nacional e estaduais em 2023, o que automaticamente manteve você, que está na presidência do partido na Bahia desde o final de 2019, no posto por mais dois anos. Por que não houve disputa interna, que é uma das marcas da legenda?

Eden Valadares – O diretório nacional prorrogou os mandatos da presidente (nacional) Gleise Hoffmann (PR) e dos diretórios estaduais entendendo que o momento é de foco na reconstrução do país e na governabilidade do governo do presidente Lula (PT). Por isso decidiu que as eleições internas no PT serão somente em 2025 e nosso mandato, que se encerraria este ano, foi prorrogado até julho de 2025.

Quais serão as prioridades aqui na Bahia nesses dois anos?

Garantir a governabilidade do presidente Lula e do governador Jerônimo Rodrigues (PT) são os maiores desafios. É claro que no meio do caminho tem uma eleição municipal. Mas é com esse entendimento que o PT vai se movimentar e se organizar. Claro que queremos eleger o maior número de prefeitos, de prefeitas, de vereadores e vereadoras, pois a vontade é que Lula e Jerônimo vençam as eleições em todas as cidades da Bahia com candidatos do PT ou de partidos aliados.

Você comanda o partido em um momento novo, que é a questão da federação com o PV e o PCdoB, constituída para a disputa das eleições de 2022 e que tem prazo de validade de pelo menos quatro anos. É difícil conciliar os interesses de três partidos em uma única direção?

Não vejo dificuldade, vejo desafio. Nós do PT da Bahia apoiamos o instituto da federação com os camaradas do PCdoB e do PV. Entendemos que a conjuntura política do Brasil no ano passado, de defesa da candidatura de Lula, mas, sobretudo, de derrotar a política de inspiração fascista e autoritária representada pelo ex-presidente (Jair Bolsonaro, do PL), exigia do PT a flexibilização e a construção da federação.

Temos dialogado muito. Quase que semanalmente fazemos reunião da federação com os presidentes Davidson Magalhães (PCdoB) e Ivanilson Gomes (PV), nossas executivas também têm conversado e a ideia é que a gente consiga construir uma harmonia em cada município.

É difícil, a Bahia tem 417 cidades, o PT está organizado em 360 – e esperamos chegar em todas –, o PCdoB e o PV também são partidos enraizados, mas a gente tem estimulado as direções municipais a conversarem. É uma novidade, um desafio que nos empolga. No começo, cada partido vai se organizando para assim irmos organizando a federação.

Qual será o critério para definir candidaturas a prefeitos em municípios onde dois ou até três partidos da federação tenham nomes colocados? Em Vitória da Conquista, por exemplo, o PCdoB tem pleiteado nas últimas eleições essa posição majoritária no campo da esquerda com o PT.

O que a gente tem combinado até agora é que só há uma regra… Porque não há um estatuto da federação que tenha regimento sobre como deve funcionar nos municípios. Então, há um estatuto nacional, mas não há regulamentação para municípios e estados. A gente tem tratado no debate político, na busca do consenso e pelo bom senso. Um pacto que temos é o que a gente chama de naturalidade. Se já há um prefeito do PT, PV ou PCdoB é natural que ele seja candidato à reeleição, se puder.

Agora, onde a gente já fez disputas e um desses partidos já está historicamente bem posicionado, também entendemos que há naturalidade, como é o exemplo de Feira de Santana e Vitória da Conquista. Respeitamos a constituição do PCdoB, que é um partido grande e orgânico em Conquista, mas a alternativa ao poder é o PT. Então, estamos trabalhando lá a candidatura do deputado federal Waldenor Pereira e temos dialogado com o PCdoB para construir a unidade não só na federação, mas na base de Jerônimo.

Esperamos que em cidades onde há previsão de segundo turno, como Salvador, Vitória da Conquista e Feira de Santana, e talvez entre Camaçari, a depender do eleitorado, o entendimento do PT é que trabalhemos não mais a tática eleitoral de forçar um segundo turno com mais de uma candidatura do grupo do governador. Entendemos que a estratégia mais acertada é reunir a base já no primeiro turno.

Caso não haja entendimento na escolha do candidato da federação em um município, quem dará a palavra final, já que não existe um regramento?

Em não havendo consenso, a instância estadual, formada pelos presidentes do PT, PCdoB e PV, vai tentar interferir no sentido de ajudar para formar esse consenso. Mas, em última instância, o diretório nacional da federação arbitra. Nós esperamos, e é um trabalho difícil, que não exista uma guerra de recursos. Se a gente continuar atuando com cumplicidade, companheirismo e maturidade, isso aí vai ser um resquício. O bom senso deve prevalecer.

Você citou Camaçari anteriormente. O candidato a prefeito do PT e da federação será o secretário de Relações Institucionais, o petista Luiz Caetano?

Vai ser o secretário e ex-prefeito do município, ex-deputado e companheiro Luiz Caetano.

Mas ele ainda não se coloca como candidato e diz que ainda é cedo…

Rapaz, ele não se coloca porque é um cara mais sabido do que eu e você. Mas o querer do PT e da sociedade de Camaçari é pela volta de Caetano.

Em Salvador, o PCdoB tem como nome forte para a disputa o da deputada estadual Olívia Santana. O PV ventila lançar o deputado federal Bacelar. Além disso, outros partidos da base também pleiteiam o direito de lançar nomes, como o PSB e o MDB. Será possível uma única candidatura da base já no primeiro turno, coisa que não aconteceu em 2020, por exemplo?

Essa é a opinião do PT. Achamos que essa deve ser a tática. Nós já apresentamos essa opinião aos partidos aliados. Nas duas últimas semanas fiz rodadas de conversa com todos os presidentes de partido e com o governador Jerônimo Rodrigues e falamos sobre isso. É uma opinião preliminar do PT, mas não uma imposição. O governador é quem conduz e coordena esse processo. Essa semana tem reunião do Conselho Político e vamos discutir o assunto.

Mas o fundamental para o PT, vou insistir, não é garantir a sua opinião, e sim conseguir a unidade no grupo de Jerônimo nas cidades que têm previsão de segundo turno e nas demais porque queremos que Lula e o governador ganhem as eleições em todos os municípios da Bahia.

Qual deve ser o critério para a definição dessa candidatura única da base do governo na capital?

Alguns elementos têm que ser preenchidos. Primeiro, o nome precisa ter o aval e o compromisso do próprio governador, alguém que tenha relação estreita e a confiança de Jerônimo. Segundo, que demonstre à cidade que seja uma candidatura para valer, que vamos disputar as eleições para vencer. E, terceiro, alguém que tenha relação orgânica com a cidade, que conheça o município, as mazelas que a população tem enfrentado e que seja capaz de liderar o processo de transformação. Isso vale para Salvador, mas também para Feira, Conquista e as outras cidades.

Essa estratégia visa também o projeto de reeleição de Jerônimo em 2026, fortalecendo a base nas maiores cidades, justamente onde o ex-prefeito ACM Neto (União) teve um desempenho melhor em 2022?

A eleição municipal tem uma relação com as eleições gerais, mas não é algo tão determinante. Nós elegemos o governador do Estado quando tivemos 90 prefeitos e quando tivemos 32. Então, não é uma relação tão imediata. Insisto: a política que o PT levará para os partidos, para o governador, é de maturidade, tranquilidade e responsabilidade. O fundamental para nós é garantir a unidade do grupo e, repito, que Jerônimo e Lula vençam as eleições em todas as cidades da Bahia.

Você falou em nomes do PT para Vitória da Conquista e Camaçari. Quais os colocados pelo partido na disputa em Salvador?

Olha, a gente não debateu isso formalmente. É prematuro se o PT começar a discutir nomes antes de definirmos a política que o governador quer, que o grupo político quer. Quando ele diz que tem muitos nomes preparados é porque o resultado das urnas demonstrou isso. O deputado estadual Robinson Almeida (PT) foi muito bem votado na capital, assim como as companheiras Vilma Reis e Maria Marighella. São lideranças que reúnem esses requisitos que falei: têm relação orgânica com o PT e com o governador e conhecem a cidade, já foram testadas nas urnas. Mas esse negócio do nome é a última coisa que vamos debater.

Então você concorda com as críticas do ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), seu aliado e do governador, à decisão da executiva municipal do PT de lançar justamente esses três nomes em Salvador e anunciar uma candidatura própria?

Olha, o que o PT de Salvador fez foi um debate, uma discussão. O diretório municipal captou ali o sentimento da militância de ter uma candidatura própria, mas não houve uma resolução, uma decisão formal do PT, e eu cheguei a comentar isso. Estamos longe dessa definição. Não faríamos qualquer tipo de resolução com o governador fora do Brasil. Esse processo será iniciado na quinta-feira próxima, na reunião do Conselho Político. Mas as críticas que foram feitas são bem-vindas e temos que saber lidar com elas.

Nós não vamos atropelar o processo. Nós vamos conversar. Onde o PT estiver bem posicionado, vamos pedir o apoio da base. Onde o aliado tiver melhor posicionado, nós vamos trabalhar para apoiar. Nesse sentido que admito para você que nós entendemos que o PT se posiciona melhor que os aliados em Camaçari, com Caetano, em Feira de Santana, com Zé Neto (deputado federal) e em Conquista, com Waldenor. Vamos trabalhar para ter a unidade em torno dessas candidaturas. Em Salvador estamos dispostos a dialogar.

O PT então admite a possibilidade de apoiar, por exemplo, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que deseja ser o candidato da base em Salvador?

O PT não está obrigado e nem proibido de ter candidatura. Vai depender do debate do Conselho Político e do entendimento dos partidos sob a coordenação do governador Jerônimo. Se os aliados entendem que a candidatura tem que ser do 13, a gente tem um conjunto de lideranças dispostas e preparadas para assumir uma candidatura. Caso o entendimento do Conselho Político e do governador é que deva ser uma candidatura de um outro aliado, o PT do mesmo jeito que tem disposição de ser apoiado tem a disposição de apoiar.

Na sua opinião, faz sentido a especulação de que o prefeito Bruno Reis (União) poderia romper com ACM Neto e ter a reeleição apoiada por Lula e, consequentemente, pelo PT?

Pessoalmente não acredito nisso. Não acredito que a relação de ACM Neto com Bruno Reis vá se deteriorar a esse ponto. Eu não duvido é que, se Bruno Reis continuar enfraquecido ou não conseguir construir uma viabilidade maior de sua candidatura, o ex-prefeito volte a querer ser prefeito de Salvador e seja candidato. Agora, não aposto na briga entre eles e também não gosto de ficar organizando time alheio.

Tem preferência de adversário? As pesquisas recentes mostram que ACM Neto seria muito mais difícil de ser batido, embora o candidato natural do grupo seja Bruno Reis.

Não tenho preferência de adversário. E eles erram muito quando tentam escolher do lado de cá. Quando o PT escolheu Jerônimo Rodrigues como nosso candidato, fizeram pouco caso, anunciaram a vitória prematuramente e quando a urna abriu deu no que deu. O que nós do PT entendemos, e já disse anteriormente, é que temos de adotar uma outra tática de unificar a base do governador já no primeiro turno para fazer uma disputa com mais fôlego em Salvador e nas cidades que têm dois turnos.

Qual a avaliação que você faz da gestão de Bruno Reis até aqui?

Eu acho que Salvador não tem uma gestão focada no combate às desigualdades, em acolher, em desenvolver a cidade para todos, e não somente para uma parte. É uma gestão que se caracterizou por uma certa pasteurização do espaço público, que tenta transformar tudo em Shopping Barra, mas voltada ao circuito Ondina-Corredor da Vitória, e não consegue acolher o conjunto dos desafios do povo soteropolitano. Não é à toa que Salvador é a terceira cidade do país em número de extremamente pobres, o desemprego continua muito elevado e a cidade vive da informalidade porque não consegue gerar oportunidades para seu povo. Acho que a cidade merece uma gestão que foque nos mais pobres e não somente em fazer obra bonitinha para inglês ver.

Além das eleições, o governador também deve discutir na reunião do Conselho Político a distribuição de cargos entre os aliados. O PV tem se queixado publicamente que não foi contemplado. O partido é o patinho feio da federação?

Vai acontecer. O PV foi um partido importante na campanha e é importante na nossa governabilidade e será muito bem-vindo por inteiro no governo. Digamos assim: 99,9% está resolvido. Falta só um detalhezinho ai.

Além do PV, alguns deputados se queixaram reservadamente da demora do governador em agendar a reunião do Conselho Político para tratar das eleições e da distribuição dos cargos no interior. Na sua opinião, houve demora ou está no tempo certo?

Na minha opinião, está dentro do prazo. A gente tem que controlar a ansiedade. A sociedade não está falando de eleição. Só quem está falando de eleição são vocês jornalistas, articulistas e os dirigentes partidários, deputados e prefeitos. A cabeça da população está voltada para a geração de emprego, de renda, de prosperidade, para que a gente possa ter um país mais unido e reconstruir os direitos que infelizmente foram tirados de nós nos governos Bolsonaro e Michel Temer (MDB-SP). Então eu acho que está dentro do prazo, sim. O governador tem uma posição que é reconhecida publicamente, que é do diálogo, da conversa, que topa convencer e ser convencido. Como fiz uma rodada de conversas com partidos aliados, ele também está fazendo, que vai culminar na reunião do Conselho Político na quinta-feira.

O PT está satisfeito com o critério que será aplicado pelo governador na distribuição de cargos regionais e municipais? Como revelamos, será o mesmo adotado pelo antecessor, o atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), privilegiando os aliados de primeira hora e a votação deputados estaduais eleitos.

Bom, oficialmente o critério será apresentado na reunião do Conselho Político. Mas o que nos foi dito pelo governador e secretários é que provavelmente será esse critério. Repare, toda vez que a gente tenta traduzir a política em algo matemático, aritmético, alguma contradição você vai encontrar. Mas estamos satisfeitos. Nós entendemos que participar do governo, contribuir com o governo, é um propósito. A gente ganha a eleição para isso, para mudar a vida do povo, e isso se faz participando do governo para se poder adotar políticas públicas. Estamos há 17 anos em um governo de continuidade, então não tem muita novidade nessa coisa de espaços regionais. É a gente poder alinhar competência técnica com capacidade política e ajudar o governador a seguir mudando a Bahia.

Os novos aliados, aqueles que não apoiaram Jerônimo em 2022, também reivindicam ocupar esses espaços dentro de uma cota pessoal do governador. Um deles é o PP, cujos deputados estaduais já aderiram à base aliada. A vitória do deputado federal Mário Negromonte Júnior na disputa interna pepista facilita ou dificulta essas conversas?

Olha, eu não gosto de organizar partido alheio, como não gosto que ninguém organize o nosso porque a gente tem uma dinâmica e eles têm a deles. Eu acho que nós estamos desafiados a garantir uma boa governabilidade para Jerônimo e Lula. E aí nossa militância e nossa direção precisam ter maturidade e entender que a gente não governa sozinho. Claro que agente não pode dar prioridade a quem não votou em Lula e nem Jerônimo em detrimento daqueles que votaram. Quem chega primeiro encontra água limpa.

Então, é ter sabedoria de dialogar e construir o consenso com quem estava com a gente desde o começo e depois ter maturidade de reconhecer que a gente precisa alargar as relações políticas. Se Lula for governar somente com os deputados que votaram nele não vai construir maioria no Congresso. Na Assembleia Legislativa da Bahia, a eleição foi quase um empate entre deputados da oposição e da situação, então a gente precisa alargar. Então, atendendo a esse critério de quem chegou primeiro tem prioridade, todos os nossos aliados são muito bem-vindos.

Perguntei sobre Mário Júnior porque sabemos que o oponente na disputa interna pelo comando do PP foi o ex-deputado federal Ronaldo Carletto, que é amigo de Lula e muito próximo do senador Jaques Wagner (PT), de Rui Costa. Aliás, embora tenha sido suplente na disputa pelo Senado em 2022 na chapa do seu principal oponente, você acha que Carletto votou em ACM Neto ou Jerônimo para governador?

Você sabe que o eleitor na frente na urna dá uma vontade de trair… Melhor você perguntar ao deputado Carletto.

Ronaldo Carletto vai assumir mesmo o comando do Avante na Bahia? Como fica o deputado federal Sargento Isidório, atual presidente do partido e aliado de primeira hora de Jerônimo?

Eu vou insistir que evito comentar a organização de partido alheio. Isidório é sim um aliado de primeira hora, alguém que por quem pessoalmente tenho um carinho grande. Ele tem uma relação história com Luis Tibé (presidente nacional do Avante). Sempre foi aliado. E, se ele estiver disposto a absorver Carletto e a turma que está vindo para a base com Carletto, espero que eles encontrem um meio termo e todos saiam felizes dessa história. Não gostaria de ter nem Carletto e nem Isidório magoados com o governo. Mas essa é uma política do governo e não do PT.

Parte do PL, partido de Bolsonaro, aderiu ao governo Jerônimo na Assembleia Legislativa. No plano federal, o deputado Jonga Bacelar, que também é do PL e apoiou Bolsonaro, se aproxima do governo Lula. Isso não soa contraditório para o PT?

Seria contraditório se a gente trouxesse essas lideranças para se filiarem ao PT. Mas para ser base de Lula ou de Jerônimo não vejo contradição. Repito: nós não vamos conseguir governar somente com deputados que votaram em Lula ou Jerônimo. Infelizmente, o jeito que a gente organiza as eleições no Brasil, com esse presidencialismo de coalizão, acontece muito de o presidente ou governador se eleger e sem maioria parlamentar. Então, é natural que se busque maioria na Câmara Federal, no Senado e na Assembleia.

Só haveria contradição se a gente convidasse essas lideranças para estarem no PT ou na federação. Aliás, no PT e na federação a gente adotou alguns critérios para balizar essa coisa de filiação de prefeitos, ex-prefeitos, candidatos a prefeito, deputados. Primeiro tem que passar por um debate no município, com a direção local, para ter acordo, entendimento. Segundo, não filiaremos na federação ou no PT quem não votou em Lula ou Jerônimo. Respeitamos os critérios dos outros partidos da base. E para ajudar Lula e Jerônimo os novos aliados são bem-vindos.

Mas o PT articulou para o deputado federal Elmar Nascimento, do União Brasil, não assumir um ministério no governo Lula. Entretanto, o parlamentar, seu adversário na Bahia, vai manter o controle da Codevasf, inclusive, tudo indica, em uma das superintendências na Bahia. Isso não incomoda?

Se eu disser que não incomoda a minha militância, a minha base, o meu partido, eu estaria mentindo para você. Claro que gera um certo desconforto, mas insisto: estamos há 17 anos no governo do Estado e no quinto mandato na Presidência da República, então não há estreitismo por parte do PT. A gente entende que tem um certo desconforto sim, pois não é tranquilo virar para as bases do PT e dizer que quem apoiou Bolsonaro vai governar com a gente.

Mas com relação às eleições municipais, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Uma coisa é o União Brasil ajudar o presidente Lula, como parece que se propõe em Brasília. Outra coisa são as eleições municipais. Aqui tem o risco no chão. A política da Bahia é polarizada principalmente entre o PT e os herdeiros do carlismo, que já foi DEM, PFL… eles mudam de nome para ver se o povo esquece das maldades que eles fizeram. Nas eleições municipais estaremos de um lado e eles do outro.

Você falou aí em 17 anos do PT na Bahia, e tem uma participação nessa história, uma vez que trabalhou e conviveu com Wagner, com Rui Costa e agora com Jerônimo. Qual a diferença de estilo entre os três?

Eu tenho uma sorte na vida e costumo dizer que fiz minha escola política com Zezéu Ribeiro (ex-vereador de Salvador e ex-deputado federal pelo PT), de quem sinto uma enorme falta, e fiz a minha faculdade e pós-graduação com Wagner. Eu acho que eles têm estilos diferentes, sim. Wagner é um cara mais do diálogo, da conversa. Otto Alencar, meu senador, mas também o médico que está cuidando do meu joelho desde que rompi um ligamento, faz uma analogia que acho interessante.

Ele diz que Wagner é como se fosse um médico de saúde da família, aquele que conversa muito, que quer saber do histórico do paciente, que olha a garganta, aperta a barriga. Já Rui Costa é o cirurgião: ele entra na sala, opera e vai embora. Já Jerônimo reúne as melhores qualidades de um e de outro. Jerônimo tem essa coisa meio que de trabalhar o dia todo, de domingo a domingo, que é uma característica de Rui Costa, mas ele também preza pelo diálogo e pela conversa, que é uma característica de Wagner. É uma boa síntese dessas nossas duas grandes lideranças.

Você foi um dos críticos da criação de uma CPI na Assembleia Legislativa para investigar as ações do MST no Estado. Como encarou o fato de que alguns aliados tradicionais do PT baiano assinaram em favor da comissão de investigação?

Eu me posicionei contra, e acho que acertadamente, porque inclusive o parecer da assessoria jurídica da Assembleia foi ao encontro do que a gente pensava, que nem havia fato determinado. É um pedido de CPI que reiteradamente aparece porque há, no fundo, uma disputa ideológica. Se tiver que ter CPI para investigar as ocupações de terra feitas pelo MST, antes deveria haver uma outra da grilagem de terra.

Só há MST e mobilização para ocupação de terra porque temos um processo histórico e profundo que determina a desigualdade social no Brasil, marcado pela escravidão e pelo racismo e pela concentração de terra e falta de democratização no acesso à terra. Então, o MST faz a sua luta, eventualmente aqui e ali comete exageros, mas quem não comete erros? Enquanto o Brasil não enfrentar essa questão do acesso à terra a gente vai continuar nessa encruzilhada.

E sobre o apoio de aliados do PT baiano à CPI, a exemplo de parte dos deputados estaduais do PSD? Insatisfação com o governo, ideologia ou ambos?

Não sei se há insatisfação com o governo, que está apenas se iniciando, então acho que seria prematuro. Acredito que sejam questões ideológicas. O senador Otto e o PSD são aliados históricos, mas obviamente em algumas questões a gente diverge, temos opiniões diferentes. Essa coisa da democratização da terra parecer ser um desses pontos de divergência.

A CPI do MST na Câmara Federal foi criada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), junto com outras duas, a das Americanas e a da manipulação dos resultados de partidas de futebol. Ainda vai ter a CPI Mista do Congresso sobre os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro. Teme que tantas investigações parlamentares possam paralisar o governo Lula?

É a quinta vez que instalam uma CPI do MST no Congresso Nacional. Obviamente que há uma questão política aí, que não há fato determinado, mas questão ideológica de fundo que tem a ver com a estrutura da desigualdade no Brasil, como falei antes. A parte mais conservadora do Congresso prefere criminalizar o movimento social a enfrentar a questão da reforma agrária.

Em geral, a CPI é um instrumento da oposição, e não do governo. Espero que o Congresso não fique parado por conta dessas comissões. O que o povo quer é reforma política, a reforma tributária, é voltar a ter possibilidade de gerar emprego, garantir direitos dos trabalhadores, aumentar o poder de compra da população e enfrentar as desigualdades do país. O Lula foi eleito para recuperar a prosperidade e o caminho do desenvolvimento, e não ficar preso em debate político como gosta a turma bolsonarista, fazendo cortina de fumaça, ao invés de discutir os problemas do país.

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