21 novembro 2024
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, elogiou nesta sexta-feira (12) a escolha do presidente Lula (PT) de indicar o ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça.
À reportagem o dirigente do partido de Jair Bolsonaro classificou Lewandowski como homem de bem e de comportamento firme.
“Lewandowski tinha tudo para ir pro Ministério da Justiça. Ele é preparado, homem de bem, homem que sempre teve comportamento firme. [Lula] Acertou, como não. Como no caso do [Cristiano] Zanin, não foi boa indicação?”, disse.
O presidente do PL elogiou a escolha do então advogado de Lula para a vaga do STF no ano passado.
“Na segurança, vai ter que investir muito nisso. Os municípios, os estados e o governo federal. A situação tá caminhando muito mal no Brasil”, completou.
O presidente anunciou, oficialmente, na quinta-feira (11) a indicação do magistrado aposentado para comandar o Ministério da Justiça.
Valdemar lembrou de quando Lula nomeou Lewandowski para o Supremo, em 2006. O PL tinha, no primeiro mandato do petista, a Vice-Presidência da República, com José Alencar.
Ele disse que à época, José Alencar quis saber do então indicado ministro, de quem tinha pouco conhecimento. Valdemar, que é de São Paulo assim como Lewandowski, disse que ele era um “homem muito sério”. Agora, repete o elogio.
O dirigente do PL foi condenado no STF no escândalo do mensalão e, à época, foi beneficiado por voto de Lewandowski. O então ministro do Supremo mudou posicionamento que havia feito pela condenação de Valdemar pelo crime de formação de quadrilha. Ao alterar o entendimento, houve empate em relação a esse crime, o que beneficiou o à época réu. Ele acabou condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva e cumpriu pena no caso.
Nos bastidores, outros bolsonaristas também foram elogiosos ao ex-ministro do Supremo. A avaliação é de que ele tem bom trato e pode ser mais aberto ao diálogo com oposição.
Porém duas ex-autoridades da Lava Jato que entraram na política —o deputado cassado Deltan Dallagnol (Novo-PR) e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR)— reagiram com críticas e ironias ao anúncio da ida de Lewandowski para o governo Lula.
Nos últimos dias, o presidente do PL virou alvo nas redes sociais de apoiadores de Bolsonaro por falar bem das gestões passadas de Lula, hoje seu adversário eleitoral. Mas ele se disse à reportagem que que foi mal compreendido e chama de “fake” o conteúdo que circula. Não por negar os elogios, mas por considerar que o trecho da entrevista, concedida em dezembro, foi tirado de contexto.
No vídeo, Valdemar afirma que Lula tem prestígio e é fenômeno por “chegar onde chegou”. A declaração foi dada ao jornal O Diário, da região de Mogi das Cruzes (SP), e compartilhada nesta sexta-feira (12) até por petistas. Apoiadores de Bolsonaro, por sua vez, reagiram: “Comunista”, disse um internauta.
“O que eu falei do Lula, eu falei porque é verdade. Se eu não falar a verdade, perco a credibilidade, que é o que me resta na política. Ninguém pode negar que ele foi bom presidente. Ele elegeu a Dilma [Rousseff]. Só que eu tava fazendo comparação: o Lula tem prestígio, Bolsonaro tem uma coisa que ninguém tem no planeta, carisma”, disse.
“Eles [extrema direita] descem o cacete em mim quando eu falo isso. [Mas] Tivemos o vice do Lula, José Alencar, que era de direita. Participamos do governo. Como é que vou falar mal do Lula? Se eu falar, não sou um cara sério”, completou.
Valdemar diz ainda que a repercussão do vídeo foi “coisa do PT”, e minimizou o episódio, dizendo que Bolsonaro nem ligou para ele por isso.
Mais ainda, o dirigente afirmou que ele e o ex-presidente torcem pelo sucesso do governo, pelo bem do país, mas criticou medidas econômicas do Lula 3.
“Estamos torcendo para ele acertar, porque estamos querendo ver o Brasil ir bem. [Mas] Acho difícil, temos que fazer economia, poupar, não gastar dinheiro do governo para fazermos o que precisamos fazer, investir em saúde, educação, segurança pública. Segurança está barbaridade”, disse.
Nas redes sociais, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) postou o trecho do vídeo em que Valdemar dá a entrevista. O parlamentar afirma que só acreditaria que Valdemar elogiava Lula se visse o vídeo. Depois de compartilhar a entrevista, escreve “Não tem como! O Lula é o cara!”.
Abaixo da publicação de Lindbergh, alguns usuários criticam a postura de Valdemar. “Esperrar [sic] o que dele? Você não conhece o pssado [sic] desse senhor? Eles eram amigos no mesmo lado!”, afirma um usuário.
No trecho da entrevista que viralizou, Valdemar afirma que Lula não tem comparação com Bolsonaro e que o presidente petista é “camarada do povo”.
“O Lula é completamente diferente do Bolsonaro”, afirma.
Valdemar também elogia a atuação de Lula em governos anteriores. Segundo ele, o petista é diferente de Bolsonaro porque tem prestígio, embora não tenha “o carisma que Bolsonaro tem”. “O Lula tem prestígio. Popularidade. Ele é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro não. O Bolsonaro teve um mandato só”.
Valdemar também afirmou que o hoje senador Moro errou na condenação de Lula na Lava Jato. O hoje parlamentar foi considerado parcial na sua atuação como juiz nos processos envolvendo o ex-presidente, preso em 2018 acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-juiz da Lava Jato deixou a magistratura para se tornar ministro da Justiça no governo Bolsonaro.
Depois, Moro saiu do cargo acusando o ex-presidente de interferir na PF, ensaiou uma candidatura a presidente da República e acabou se elegendo como senador. Agora, enfrenta um processo de cassação, sob a acusação de abuso de poder econômico na campanha eleitoral.
“Se ele [Lula] errou em alguma coisa, ele tinha que ser condenado tudo dentro da lei. O Moro errou. O Moro superou os limites da lei. E ninguém imaginava que o Moro queria ser presidente da República”, afirmou Valdemar na entrevista a O Diário.
“Quando eu falo isso [a respeito de Moro], o pessoal da direita fica bravo comigo. Amanhã é um cacete em cima de mim na internet, mas é verdade”, afirmou.
Valdemar citou a condução coercitiva de Lula para depor, em 2016, como um exemplo de má conduta do ex-juiz e disse que Moro “passou do limite da lei para aparecer, para ser candidato a presidente”. O presidente do PL ainda disse que o ex-juiz “vai pagar caro” pela conduta e que vai ser cassado.
MORO E DELTAN
O senador e Deltan compararam a escolha de Lula pelo ministro aposentado Ricardo Lewandowski à ida de Moro para o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro
A iniciativa de Moro de deixar a magistratura para entrar na política foi um dos motivos que levaram o STF a declarar que ele agiu de modo parcial, o que levou à anulação das provas coletadas na Lava Jato nos processos contra o hoje presidente.
Na quinta, o senador publicou em rede social que aceitar cargos em ministérios “não é e nunca deveria ter sido causa de suspeição”.
Já Deltan citou, na mesma rede, um conjunto de decisões favoráveis a Lula e ao PT, como o acesso de arquivos hackeados da Operação Spoofing e o despacho contra o uso de provas do acordo de colaboração da Odebrecht.
Mencionou ainda casos julgados pelo magistrado aposentado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e disse que as determinações serviram de base “para diversas decisões do TSE que beneficiaram a candidatura de Lula durante a corrida eleitoral”.
“Agora que Lewandowski se tornou ministro da Justiça de Lula, as decisões que ele tomou em benefício de Lula e do PT serão anuladas? Lewandowski terá sua parcialidade pró-Lula e pró-PT reconhecida?”, afirmou Deltan, ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato.
Marianna Holanda/Ana Gabriela Oliveira Lima/Folhapress