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O presidente da Argentina, Javier Milei 23 de abril de 2024 | 19:06

Cortes de Javier Milei na educação levam milhares a protestos na Argentina

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Dezenas de milhares de pessoas protestam nesta terça-feira (23) na Argentina em grande marcha contra os cortes de verba para a universidade pública, em manifestação que é uma das maiores até o momento contra a política de reformas e ajustes do presidente ultraliberal Javier Milei.

Em Buenos Aires, estudantes, professores e opositores se agruparam em torno das sedes das 13 faculdades da Universidade de Buenos Aires (UBA) —que recentemente declarou emergência orçamentária— e tomaram as ruas que levavam à Praça de Maio.

Os manifestantes levantavam livros como sinal de protesto e cartazes que diziam “Milei ou educação” e “a universidade lutando também está ensinando”, além de frases e imagens da tirinha “Mafalda”, do cartunista argentino Quino.

“Isto é importante para nós que estudamos e que trabalhamos, porque a educação pública levanta um país”, disse à AFP Nicolás Villagra, 24, estudante da UBA em meio a cantos e gritos dos manifestantes.

Nas principais cidades do país, alunos, ex-alunos e docentes das 57 universidades nacionais sob gestão estatal convocaram uma marcha “em defesa da educação universitária pública e gratuita”.

Centrais sindicais e partidos opositores de todo o espectro político aderiram à convocação, os professores universitários acompanharam a mobilização com uma greve, e universidades privadas se uniram ao protesto.

Em Córdoba, cidade no centro do país e sede de grande universidade homônima, dezenas de milhares de estudantes também lotaram as ruas.

Outras universidades além da UBA se declararam em emergência orçamentária depois que o governo decidiu repetir para este ano o mesmo orçamento de 2023 para o setor, apesar da inflação anual que em março atingiu quase 290%.

“Não esperem a saída da mão do gasto público”, afirmou Milei na segunda-feira (22) ao anunciar em pronunciamento que as contas públicas registraram superávit no primeiro trimestre, embora ao preço de milhares de demissões e do colapso da atividade econômica e do consumo.

Na semana passada, o presidente concordou com elevar em 70% as verbas de gastos de funcionamento em março e mais 70% em maio, nas palavras dele, além de uma quantia extraordinária para hospitais universitários. O governo considera, com isso, que a discussão está resolvida, segundo o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, nesta terça.

Os gastos de funcionamento excluem salários dos professores, que representam 90% do orçamento universitário.

“Das quatro categorias de professores, três caíram abaixo da linha da pobreza”, afirmou o reitor da Universidade Nacional de San Luis, Víctor Moriñigo, ao relatar uma escala salarial docente cujo piso é de 100 mil pesos mensais (cerca de R$ 590).

Além da estagnação do orçamento, há o aumento de despesas. As tarifas de energia, por exemplo, subiram 500% este mês, colocando as universidades à beira da paralisia, disseram autoridades.

“No ritmo em que nos estão dando dinheiro, só poderemos funcionar de dois a três meses”, assegurou o reitor da Universidade de Buenos Aires (UBA), Ricardo Gelpi.

Para Rubén Arena, professor e formado na faculdade de Ciências Econômicas, o protesto busca “defender o futuro da Argentina e muitas gerações que poderão ter acesso a uma educação de excelência”.

O corte de gastos é necessário, disse ele, “mas não como está sendo ajustado nas universidades, que permitem um movimento social ascendente”.

Milei questionou a transparência do uso dos fundos e a qualidade do ensino ao sugerir que as universidades públicas “são usadas para fazer negócios obscuros e doutrinar”, conforme escreveu no X no fim de semana.

“Não podemos colocar em dúvida 200 anos de história. Mesmo com um orçamento muito baixo, a UBA está entre as três melhores da América Latina”, apontou o decano da Faculdade de Medicina da universidade, Luis Brusco.

Aproximadamente 2,2 milhões de pessoas estudam no sistema universitário público, escolhido por 80% dos alunos em relação às instituições privadas, em um país com quase metade de seus 47 milhões de habitantes na pobreza.

O sistema estatal de ensino superior desfruta de grande prestígio acadêmico e foi berço dos cinco prêmios Nobel da Argentina, três deles em ciências exatas, além de desenvolvimentos científicos e tecnológicos reconhecidos mundialmente.

Na semana passada, vários prédios dependentes da UBA tiveram que racionar o uso de elevadores, apagar luzes em espaços comuns, reduzir o uso de água quente e limitar os horários das bibliotecas de programas de extensão universitária, como parte das medidas de emergência.

Folhapress
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