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O presidente Lula (PT) cumprimenta o seu homólogo chinês, Xi Jinping, 20 de novembro de 2024 | 13:07

Lula diz que Brasil e China colocam diálogo em primeiro lugar em mundo de conflitos

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (20) que Brasil e China colocam diálogo em primeiro lugar num mundo de conflitos.

Ele destacou ainda a relação de comércio entre os dois países, e afirmou que a parceria “excederá expectativas”.

“Em mundo de conflitos armados e tensões geopolíticas, China e Brasil colocam a paz, a diplomacia e o diálogo em primeiro lugar”, disse.

“Estou confiante que a parceria que o presidente Xi e eu firmamos hoje excederá expectativas e reverberá o caminho para uma nova etapa do relacionamento bilateral”, completou.

A declaração foi dada durante pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada, após assinatura de acordos com o presidente chinês, Xi Jinping.

Xi terá ainda um jantar em sua homenagem no Palácio do Itamaraty, no fim do dia, com convidados do governo, empresários e representantes da sociedade civil.

A recepção no Alvorada é incomum. O local é de mais difícil acesso, distante de outros prédios e com hotel do chinês a cerca de 1km. A visita de Xi Jinping, que chegou do Rio de Janeiro a Brasília na véspera, envolveu questões de segurança como reservar o hotel inteiro para sua delegação.

Como a Folha mostrou, apesar das pressões chinesas nos últimos meses, o governo brasileiro não deve assinar a Nova Rota da Seda —guarda-chuva de projetos de investimentos chineses. Apesar disso, os dois líderes assinaram uma série de acordos nesta que é a visita mais esperada do ano. Eram esperados acordos nas áreas de comunicação, infraestrutura e finanças.

O ingresso brasileiro na Nova Rota da Seda seria uma sinalização política negativa aos Estados Unidos, rival geopolítico da China e que terá na Casa Branca a partir de janeiro Donald Trump, favorável a sanções e tarifas para isolar Pequim do mercado global.

O aprofundamento das relações com a China, por outro lado, abre mais espaço para investimentos e comércio com o país asiático, enquanto Trump prometeu, durante a campanha, impor tarifas a produtos importados mesmo de aliados.

O anúncio da entrada do Brasil no projeto chinês de investimentos é há anos uma demanda da China que permeou a discussão de acordos entre os países e dividiu o governo brasileiro.

Integrantes do governo que acompanharam as negociações disseram que, no saldo geral, não seria positivo para o Brasil aderir à iniciativa, que hoje tem poucos países de peso. Além disso, nas mais recentes rodadas de conversa entre os dois países, os chineses teriam demonstrado que não seria mais tão vital a adesão à proposta, mas sim parcerias em investimentos de diferentes frentes.

Há uma avaliação na diplomacia brasileira de que o Brasil não precisa necessariamente aderir ao projeto para acessar investimentos chineses, dada sua posição como maior país latino-americano e grande exportador principalmente de alimentos para a China —que pressiona para que Brasília declare entrada no projeto.

A pressão, mas em sentido oposto à de Pequim, vem também do outro lado do contencioso geopolítico. No final de outubro, Katherine Tai, representante de Comércio dos EUA, afirmou em evento em São Paulo que o Brasil deveria pesar os riscos de aderir à iniciativa chinesa, mencionando questões de soberania nacional.

A China já é principal parceiro comercial do Brasil e, diante da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o fortalecimento da relação entre os dois países tornou-se ainda mais necessário.

O anúncio da entrada do Brasil no projeto chinês de investimentos é há anos uma demanda da China que permeou a discussão de acordos entre os países e dividiu o governo brasileiro.

Em artigo publicado na Folha, Xi falou em “reforço das sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil”— no único parágrafo que mencionava a Nova Rota da Seda.

“No contexto de evolução rápida da nova rodada da revolução científica e tecnológica e transformação industrial, os nossos países devem agarrar as oportunidades futuras. Vamos promover continuamente o reforço das sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil, fortalecer constantemente a natureza estratégica, global e criativa da cooperação mutuamente benéfica China-Brasil, criar mais projetos exemplares que atendam a demandas futuras e trazem benefícios duradouros aos povos, e impulsionar o desenvolvimento comum dos nossos países e das nossas regiões”, escreveu Xi.

Marianna Holanda e Guilherme Botacini,, Folhapress
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