Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Arquivo
Moeda americana subiu 0,35% nesta quinta-feira (22), cotado a R$ 5,660 22 de maio de 2025 | 17:25

Dólar fecha em alta e Bolsa cai após anúncio de congelamento de gastos do governo

economia

O dólar subiu 0,35% nesta quinta-feira (22), cotado a R$ 5,660, investidores atentos ao cenário fiscal do Brasil e dos Estados Unidos.

Os últimos momentos do pregão repercutiram a divulgação do relatório de receitas e despesas do governo federal, que anunciou congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas e um aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para reforçar a arrecadação. Antes, o foco estava no pacote tributário do governo Donald Trump, que prevê alta na dívida pública.

Após o anúncio do relatório, os ativos locais chegaram a registrar melhora, mas pioraram logo depois. O dólar reverteu as perdas, e a Bolsa, que antes subia, fechou em queda de 0,29%, a 137.478 pontos, segundo dados preliminares.

O congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas do Orçamento de 2025 mira cumprir o limite de gastos do arcabouço fiscal e a meta de resultado primário fixada para este ano. O objetivo é de déficit zero, mas tem uma margem de tolerância que permite resultado negativo de até R$ 31 bilhões.

O valor congelado reflete o efeito total da combinação entre bloqueio, feito para compensar o aumento de outras despesas obrigatórias (como benefícios previdenciários), e contingenciamento, necessário quando há frustração na expectativa de arrecadação.

No relatório de avaliação de receitas e despesas do 2º bimestre, a equipe econômica indicou a necessidade de bloquear R$ 10,6 bilhões para respeitar o limite de gastos do arcabouço. Também será preciso contingenciar outros R$ 20,7 bilhões para cumprir a meta.

O Executivo, além disso, vai aumentar o IOF para reforçar a arrecadação, mas as mudanças só serão detalhadas após às 17h, seguindo o protocolo do Ministério da Fazenda. Diante das especulações no mercado financeiro, o ministro Fernando Haddad limitou-se a dizer que não haverá impacto sobre dividendos enviados ao exterior.

Em entrevista coletiva, o chefe da Fazenda disse que não há como prever agora como será a execução do Orçamento e se haverá possibilidade de reverter parte do contingenciamento, mas que o governo vai monitorar os números e, se necessário, adotar novas medidas.

“Esse é um primeiro conjunto de medidas. Não preciso esperar o próximo bimestral para trabalhar naquilo que for necessário para o cumprimento da meta”, disse. Segundo ele, ainda há “algumas questões” que estão pendentes de deliberação do presidente.

O relatório “mostrou um controle parcial por parte do governo, que está preso entre gastos obrigatórios e algum nível de estímulo para grupos sociais, foco de pressão nas despesas”, diz Thiago Lourenço, economista da Manchester Investimentos.

“A visão não foi muito positiva. Não é um déficit absurdo, mas é um pouco frustrante para o mercado, que esperava déficit primário zero.” A falta de informações sobre o IOF também inspirou volatilidade entre os investidores.

O anúncio do relatório fiscal tencionou um cenário já avesso ao risco, sobretudo por causa do projeto de lei de Donald Trump.

A Câmara dos EUA aprovou o pacote que viabiliza grande parte das promessas de campanha de Trump. A votação foi de 215 a 214 votos, com todos os democratas e dois republicanos votando contra. Um terceiro republicano votou “presente”.

A legislação, que ainda precisa passar pelo Senado para ser aprovada em definitivo, mira reduzir impostos e direcionar mais recursos para as Forças Armadas e seguranças de fronteira. A conta será paga com cortes no Medicaid, assistência alimentar, educação e programas de energia limpa, aumentando significativamente os déficits federais e o número de pessoas sem seguro de saúde.

A projeção é que o projeto eleve em cerca de US$ 3,8 trilhões (R$ 21,46 trilhões) a dívida de US$ 36,2 trilhões (R$ 204,3 trilhões) do governo federal ao longo da próxima década, de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso.

Com a aprovação na Câmara, os títulos do Tesouro dos EUA retomaram o movimento de perdas. O rendimento do “treasury” de 30 anos, um indicador dos custos de empréstimos do governo no longo prazo, estava em 5,13%, o nível mais alto desde outubro de 2023. A rentabilidade é inversamente proporcional aos preços, isto é, os investidores estão pagando menos e exigindo mais retornos para dar o voto de confiança de que os EUA honrarão as dívidas.

O de 20 anos também subia, a 5,14%, o nível mais alto também desde novembro de 2023. Já o de dez anos, mais monitorado pelo mercado, estava em 4,590%, um ligeiro recuo em relação aos 4,595% do dia anterior.

Os apelidados “vigilantes dos treasuries” começaram a rondar os mercados em meio às suspeitas sobre a situação fiscal dos EUA. Esses investidores “protestam” contra políticas consideradas inflacionárias através da venda de títulos, aumentando, assim, os rendimentos. A busca é por impor disciplina fiscal sobre as autoridades do governo.

O movimento foi reforçado depois que a Moody’s, na semana passada, tornou-se a última das principais agências de classificação de crédito a rebaixar a nota dos EUA, da máxima Aaa para Aa1.

Parte do movimento de deterioração das taxas foi contido após Christopher Waller, membro do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), afirmar que há espaço para cortes nos juros ainda neste ano.

Em entrevista à Fox Business, Waller disse que o afrouxamento depende de onde a política tarifária dos Estados Unidos se estabelecerá. Se as taxas do presidente atingirem o limite inferior da faixa dos níveis agressivos anunciados no início da guerra comercial, então a perspectiva parece sólida.

“Se conseguirmos reduzir as tarifas para perto de 10% e tudo isso for selado, concluído e entregue em algum lugar até julho, estaremos em uma boa posição para fazer cortes nos juros durante a segunda metade do ano.”

O diretor não disse como ou quando ele espera que o início do afrouxamento da taxa de juros, hoje na banda de 4,25% e 4,5%.

Folhapress
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