Foto: Edilson Rodrigues/Arquivo/Agência Senado
Jaques Wagner 01 de maio de 2025 | 08:11

O PT tem o dever moral de marchar com o candidato de Wagner, por Raul Monteiro*

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Apesar do reconhecido talento político, admitido até por adversários, o senador Jaques Wagner (PT) não tem sido exatamente bem sucedido em suas últimas iniciativas. A manutenção de Éden Valadares como presidente estadual do partido, nos últimos seis anos, que culminou na desistência do liderado de disputar a reeleição em decorrência de um profundo desgaste interno, pode ser colocada entre as investidas de cujo resultado o senador não deve se orgulhar muito hoje. O isolamento das bases desde que chegou ao Senado também é outro elemento de sua trajetória abertamente criticado por correligionários.

A ponto de muitos desconfiarem de que há pelo menos uma geração que não se lembra sequer de que ele foi governador por dois mandatos e que sua eleição, em 2006, representou uma inflexão na história política do Estado, ao encerrar o ciclo protagonizado pela liderança autocrática do ex-senador ACM. De todos os equívocos atribuídos ao senador, no entanto, talvez não haja hoje um que reverbere tanto e tão negativamente contra ele dentro do próprio PT quanto a sua decisão de ter destroçado a sigla na capital para apoiar o patético candidato do MDB à Prefeitura de Salvador nas eleições passadas, de 2024.

De fato, poucas vezes se viu um político tão experiente e hábil fazer uma aposta tão desastrosa e de consequências tão nefastas para o seu partido e grupo político, desconsiderando todas as advertências que não apenas o bom senso, mas vários aliados fizeram questão de lhe dirigir abertamente. No entanto, nem o último erro de Wagner, ainda que qualitativamente importante, pode ser usado como argumento para questionar o direito do senador de fazer, pela segunda vez, o presidente do PT no Estado, como ele planeja agora, ao apresentar o representante do MST Tássio Brito, da corrente EPS, como candidato.

Não apenas por causa da trajetória marcada pelo sucesso inédito de ter conseguido tomar o poder do carlismo e, ao mesmo tempo, colocar o PT definitivamente no comando do Estado, onde se encontra até hoje, quase 20 anos e dois governadores depois, como pelo papel fundamental que exerceu no ano em que o partido seguramente enfrentou sua primeira grande crise na Bahia. Era 2022 e, acossado pelo caso dos respiradores, o hoje ministro Rui Costa (Casa Civil), que cometera o erro, não se sabe se deliberado ou não, de nunca ter pensado num nome para sucedê-lo, decidiu que era a hora de tentar salvar a própria pele obtendo a chamada imunidade parlamentar.

Para tanto, na surdina, montou um plano com o seu então vice-governador, João Leão (PP), pelo qual renunciaria e lhe passaria o governo para poder disputar o Senado, acordo cujo resultado mais provável era o de que o PT perdesse o governo – para o aliado ou para a oposição. Wagner descobriu a tramoia, bateu na mesa e exigiu que o partido tivesse candidato, salvando, como se sabe, toda a Nação petista da derrota. Se o PT acha que o feito foi pequeno, definitivamente não tem a gratidão entre suas qualidades. Mas se é um partido reconhecido a quem o defende, deveria entender hoje que marchar com o nome sugerido por Wagner é, no mínimo, um dever moral.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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