10 junho 2025
O ex-presidente Michel Temer deu mais um passo nesta quinta-feira, 22, para avançar nas articulações por uma chapa única de centro-direita em 2026. Por mais de duas horas, recebeu em sua casa, em São Paulo, o ex-presidente José Sarney. Segundo apurou a Coluna do Estadão, eles discutiram a construção de um projeto para o País, batizado de Movimento Brasil.
Considerados hábeis articuladores, os dois já criticaram publicamente a radicalização no País nos últimos anos. No encontro desta quinta, os emedebistas reforçaram o diálogo sobre o cenário político brasileiro para a corrida ao Palácio do Planalto.
Em recente evento sobre os “40 anos de Democracia no Brasil”, por exemplo, Sarney classificou como lamentável a polarização política e disse acreditar que “faltam muitas” lideranças políticas no País atualmente.
“Não subsiste de maneira nenhuma que o País possa aceitar uma casa dividida. A população não aceita. Nós queremos união e, ao mesmo tempo, a solução dos nossos problemas de uma maneira consensual, não através do ódio”, disse na ocasião.
Temer, por sua vez, já disse que vê a democracia no Brasil como “consolidada” e avalia que a pacificação deve possibilitar avanços para o País no futuro. Com o Movimento Brasil, ele tenta dar uma nova dimensão à direita, cujo maior líder no Brasil, Jair Bolsonaro, está inelegível, e busca construir acordo entre os cinco governadores presidenciáveis da direita – Tarcísio de Freitas (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Junior (Paraná) – para viabilizar candidatura única. Na última segunda-feira, 19, por exemplo, se encontrou com Eduardo Leite, recém filiado ao PSD.
Sarney, entretanto, já disse várias vezes que é aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Sou amigo pessoal do Lula, gosto muito dele. De maneira que, se o Lula for candidato, sou da opinião que nós devemos apoiar o Lula”, afirmou em entrevista à repórter Mônica Gugliano, no final de 2024. “E ele está fazendo um bom governo, não tá? Tá. Como sempre fez em outros mandatos”, emendou, na ocasião. O cenário, à época, entretanto, não apontava tamanha insatisfação da população com o atual governo Lula.
A queda de popularidade de Lula, que deve sofrer mais um baque após o escândalo do roubo de aposentados e pensionistas do INSS, na avaliação de Temer pode levar o petista a repensar uma eventual candidatura à reeleição.
Como Sarney é considerado uma espécie de oráculo da política, a aposta é que Lula também deverá ouvi-lo em algum momento antes de tomar tal decisão. Por diversas vezes em sua trajetória na Presidência, o petista buscou aconselhamento.
Roseann Kennedy/Estadão