8 junho 2025
Testemunhas indicadas pelo ex-ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno afirmaram ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se afastou do general a partir da segunda metade do mandato.
As declarações foram dadas no caso da trama golpista de 2022. A corte retomou nesta segunda-feira (26) as audiências de instrução do processo iniciadas na última semana.
A observação faz parte da estratégia da defesa de distanciar o general das supostas tratativas para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), intensificadas.
O capitão-de-mar-e-guerra Ricardo Ibsen Pennaforte de Campos foi chefe de gabinete de Heleno quando este foi ministro.
“Sim, observei que houve [diminuição de reuniões entre Heleno e Bolsonaro]. Posso colocar metade do mandato, não sei precisar o momento, mas houve menor participação do ministro no gabinete da Presidência do que na primeira metade”, disse.
Amilton Coutinho Ramos, então assessor especial de comunicação e imprensa no GSI, por sua vez, atribuiu o afastamento a uma questão partidária.
“Houve essa diminuição e pelo que testemunhei foi a parti da filiação do ex-presidente ao PL. O general Heleno assumiu publicamente resistência quanto à corrente majoritária no Congresso Nacional, e então ele perdeu espaço na sala do presidente. E isso o general entendeu muito bem. Continuou despachando os assuntos apenas do GSI, apoiando o presidente, viajando, mas realmente houve esse afastamento”, afirmou.
O coronel também disse que o ex-ministro defendia o voto impresso, mas não dentro do GSI.
Todas as testemunhas relataram terem trabalhado diretamente com Heleno, e afirmaram que ele ordenou dar andamento à transição normalmente após a derrota nas eleições, que manteve pessoal de governos anteriores nos quadros do GSI, que nunca tratou de nada relacionado a minuta de golpe ou politizou o órgão.
Também nesta segunda, o ex-ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro (PL) Marcelo Queiroga voltou a defender as declarações de teor golpista de Bolsonaro na reunião ministerial de julho de 2022.
“Foi uma reunião em que o presidente Bolsonaro fez uma fala muito assertiva, conclamando os ministros, que deveriam se empenhar dentro do projeto, não como ministros, mas como cidadãos. E cada um que fazia parte do governo estava ali porque acreditava naquele governo, para que nós nos empenhássemos, porque nós não poderíamos, como cidadãos brasileiros, permitir o retorno desse grupo que voltou ao governo”, disse Queiroga.
No início da reunião, Bolsonaro ordenou que seus auxiliares repetissem falas, sem provas, sobre fraudes nas urnas eletrônicas, disse que ia colocar o seu exército na rua e que a Justiça estava preparando a vitória de Lula na “fraude”.
“Aquilo ali era uma fala de uma liderança política muito assertiva e muito afirmativa, como é o presidente Jair Bolsonaro, dentro do padrão do que ele fazia o juízo de valor em outras ocasiões e até mesmo publicamente”, afirmou o ex-ministro.
Ana Pompeu/Folhapress