23 novembro 2024
A União Europeia espera que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, trabalhe para “consolidar a democracia” no Brasil e enviará, nas próximas horas, uma carta para o felicitar e indicar que Bruxelas que aprofundar a parceria que conta com o País. Uma carta de praxe será enviada pelo presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Junker, ainda hoje. “O Brasil é um parceiro importante e também nas negociações com o Mercosul”, disse uma porta-voz da Comissão, Natasha Bertaud. “A UE espera fortalecer a parceria com o novo governo”, afirmou. “Evidentemente, respeitamos a escolha democrática do povo brasileiro. O Brasil é um país democrático com instituições sólidas e esperamos de todos os futuros presidentes do País que trabalhem para consolidar a democracia ao benefício do povo brasileiro”, afirmou a porta-voz. A eleição no Brasil foi o principal assunto da coletiva de imprensa diária que a Comissão Europeia organiza em Bruxelas, com perguntas de jornalistas de diferentes partes do continente e . Bruxelas, porém, se recusou a comentar quanto à posição de Bolsonaro sobre o acordo de Paris, sobre o clima. Questionada, a Comissão evitou fazer comparações entre Bolsonaro e líderes populistas que ganham terreno pelo continente. “Não vamos entrar no domínio dos sentimentos. Essa comparação não leva a nada”, insistiu a porta-voz, que deixou claro que não iria dar seu “sentimento” sobre a vitória do candidato do PSL. “Não vamos entrar no debate sobre como sentimos ou não sentimos. Essa é uma eleição democrática”, pontuou, evitando o qualificar de “populista”. “Vamos esperar que o presidente escolha seu governo e anuncie seu programa e agenda para sua presidência. Vamos continuar a trabalhar sobre essa base”, insistiu. Numa nota de imprensa enviada separadamente, a UE relembrou que o Brasil é um “parceiro de muitos anos em assuntos bilaterais e multilaterais”. “Temos uma ampla agenda de cooperação em áreas como comércio, ciência, tecnologia, energia, clima e direitos humanos”, indicou. Outro aspecto destacado foi a negociação com o Mercosul. “A UE está pronta para continuar a fortalecer sua parceria com o novo governo”, disse. “Estamos prontos para continuar a trabalhar de forma conjunta com o novo governo para fazer avançar nossos interesses comuns”, completou. Considerado por Bruxelas como um “parceiro estratégico”, o Brasil tem sido alvo de grande interesse por parte das multinacionais europeias. Mas, para a UE, a importância do País vai além de ser um grande mercado. Com o desembarque de Donald Trump na Casa Branca, líderes europeus se apressaram para tentar fechar um acordo comercial com o Mercosul, inclusive para dar uma sinalização clara de que Bruxelas quer fortalecer um sistema multilateral. O Brasil, portanto, era visto como uma peça importante nesse redesenhar do cenário internacional. As duas capitais chegaram a fazer propostas conjuntas para lidar com desequilíbrios no comércio mundial e acelerou-se as negociações para um acordo, depois de 18 anos de fracassos. Mas o governo de Michel Temer vai terminar sem conseguir fechar o tratado diante da resistência de setores protecionistas tanto da Europa como do Mercosul. No setor de direitos humanos, a UE tem demonstrado preocupação. Em março deste ano, partidos europeus enviaram uma carta para a Comissão Europeia exigindo que bloco condenasse o assassinato da vereadora Marielle Franco e que as autoridades em Bruxelas suspendessem as negociações comerciais para fechar um acordo de livre comércio entre a Europa e o Mercosul. O pedido de suspensão das negociações ainda foi solicitado por outros grupos do Parlamento Europeu, em especial a aliança de 52 euro deputados que formam parte da Esquerda Europeia Unida. “Pedimos para a Comissão uma suspensão imediata das negociações com o Mercosul até que haja o fim da violência e intimidação contra a oposição política e defensores de direitos humanos”, declararam os partidos da aliança de esquerda. Na carta, os deputados do partido espanhol insistiram que a Europa deve exigir que o Brasil faça “uma investigação independente, rápida e exaustiva que permita chegar à verdade e Justiça”. O documento foi enviado para a Alta Representante para Assuntos Exteriores da Europa, Federica Mogherini. No ano passado, numa carta sigilosa, Mogherini indicou que a Europa está preocupada com a violência contra indígenas e ambientalistas no Brasil e chegou a enviar missões a regiões de conflitos no País para examinar a situação. A informação constava de uma carta confidencial assinada pela própria chefe da diplomacia da Europa, em que ela se dirige a parlamentares europeus. Federica admitiu que a violência é por vezes “letal” no Brasil. “Isso está frequentemente associado a conflitos por terras, assim como pressões que indígenas, quilombolas e ambientalistas estão expostos em algumas partes do País”, escreveu. “A Europa tem repetidamente apelado por investigações sobre os assassinatos de líderes indígenas ou ataques sobre comunidades indígenas, assim como um reforço da proteção dessas comunidades”, disse Federica, que ocupa um dos cargos políticos mais influentes hoje no mundo.
Estadão