23 novembro 2024
Relatos sobre demora, falta de ônibus ou desrespeito à determinação de passe livre no transporte público se proliferam neste domingo (30), mesmo após resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proibir a redução da frota no dia da eleição.
Os problemas se somam às abordagens de ônibus feitas pela Polícia Rodoviária Federal em desrespeito a decisão do TSE.
Em Mato Grosso, indígenas do Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, afirmam que não conseguiram votar em zonas eleitorais em Querência (MT), cidade a 717 km de Cuiabá, neste domingo (30).
Eles culpam o prefeito da cidade, Fernando Gorgen (DEM), apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), pelo que apontam ser uma menor disponibilidade de ônibus.
A redução do número de ônibus do primeiro para o segundo turno, segundo os indígenas, ocorreu após a percepção de que os moradores das aldeias dão maior apoio ao ex-presidente Lula (PT), que disputa a Presidência com Bolsonaro.
Segundo integrantes do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em Querência, uma parte dos ônibus com indígenas do Xingu chegou às seções de votação. O atraso teria ocorrido por piores condições das estradas, em comparação com o primeiro turno, segundo esses integrantes do tribunal.
O cacique Siranho Kaiabi, da aldeia Ilha Grande, afirma que apenas os moradores das aldeias mais próximas à cidade conseguiram votar. Os demais já desistiram de chegar a Querência para a votação.
Ao todo, são 3 mil indígenas de seis etnias na área de influência da cidade. As distâncias do município às aldeias variam de 80 a 210 km.
“Somos cidadãos também, e temos todo o direito de votar para escolher nossos representantes”, disse o cacique. “No primeiro turno, houve o suporte. Agora não estão mandando os ônibus nessas aldeias.”
O prefeito não respondeu aos questionamentos da reportagem.
No Rio de Janeiro, a Procuradoria Regional Eleitoral instaurou apuração para apurar denúncias de falta de ônibus em São Gonçalo, na região metropolitana.
Em nota, a prefeitura afirmou que a frota dos ônibus municipais está reforçada e que o trânsito segue intenso nas principais vias por conta do fluxo de eleitores.
O Tribunal Regional Eleitoral negou o problema na cidade, mas confirmou a presença de forças de segurança na avenida Brasil, na capital fluminense, e na ponte Rio-Niterói, outro local de engarrafamento. Trata-se de uma operação de “ocupação do território”, disse o presidente do órgão.
Em Belém, eleitores denunciaram à prefeitura problemas com os coletivos. A reclamação era de que os veículos não paravam em todos os pontos e demoravam a passar.
O prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) determinou que a guarda municipal e fiscais da Secretaria Municipal de Mobilidade garantam o passe livre e denunciem eventuais descumprimentos do decreto que visa facilitar acesso do eleitor às seções eleitorais.
No Amapá, a seccional local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) protocolou pela manhã no Tribunal Regional Eleitoral denúncia de falta de ônibus.
O desembargador do TRE João Guilherme Lages, juntamente com o juiz Paulo Madeira, disse ter constatado pessoalmente a ausência dos coletivos.
“O juiz Paulo Madeira e eu próprio, João Lages, fomos para as ruas e constatamos a veracidade da notícia. Não havia ônibus circulando em quantidade como deveria circular”, informou o desembargador.
Após averiguar a veracidade da denúncia, o TRE acionou a Justiça Eleitoral e a Polícia Federal, para se reunirem com os responsáveis das empresas de transporte público e a Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá (CTMAC).
A companhia se comprometeu a regularizar a circulação.
Também pela manhã, a decisão que garantia passagem gratuita no metrô de Belo Horizonte só foi cumprida após intervenção do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.
Ele determinou que a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) garanta a gratuidade e pediu esclarecimentos sobre por que a medida não foi cumprida no início do dia.
Em Pernambuco, eleitores da região metropolitana do Recife relataram dificuldades para circular no transporte público com a tarifa gratuita determinada pelo governo estadual.
A maioria dos relatos aponta que pode ter havido a cobrança do valor da passagem, atualmente em R$ 4,10, após passar o cartão VEM (Vale Eletrônico Metropolitano) na catraca.
Outros usuários disseram que tiveram dificuldades para entrar nos coletivos porque não tinham o cartão VEM em posse. No entanto, a gratuidade também vale para não tem o cartão.
A Urbana-PE, sindicato das empresas de ônibus, disse que “caso alguma passagem seja indevidamente cobrada, o valor será restituído aos cartões”.
Vinicius Sassine/Timóteo Lopes/Leonardo Vieceli/Lívia Almeida/José Matheus Santos/Folhapress