23 novembro 2024
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
Salvador vivenciou uma semana de clima social perverso, contrário ao que todos nós esperamos. Direito de ir e vir cerceados pela greve dos policiais militares, que acarretou trágicas consequências à cidade e aos moradores. Além disso, paralisação relâmpago dos professores da rede estadual de ensino e dos policiais civis. Após testemunhar o caos nas ruas, cabe-nos questionar: é justo que a população seja vítima de um medo crescente, que pague com a própria vida por causa da insegurança (que poderia ser evitada), que os pais não tenham garantias que seus filhos possam continuar o ano letivo?
Os professores suspenderam as atividades por 24 horas e continuam na briga para ter reivindicações atendidas. Quando não há aulas, os pais da rede estadual ficam atônitos pois muitas vezes não contam com local alternativo e seguro para deixar a prole. Trabalhadores de baixa renda, subempregados ou desempregados desprovidos do direito de saber se os filhos terão assegurada a merenda escolar e se, mais tarde, poderão ter um futuro diferente e com maiores perspectivas.
As greves da rede escolar brecam as esperanças, jogam balde de água fria nos sonhos de muitas famílias que apostam na educação como a luz no final do túnel.
Esse ano na rede estadual da Bahia as aulas começaram em março (efeito da greve de 2011), quando nas outras redes o início foi em janeiro e, além disso, em menos de 30 dias letivos já ocorreram sete paralisações. Os profissionais da educação se posicionam contra um governo que trata com descaso o segmento.
A greve de 2011 na rede estadual durou mais de 100 dias, bagunçou o ano letivo de milhões de jovens e o calendário de milhares de professores e profissionais da educação.
Também não é a primeira vez que policiais militares, impacientes com a lentidão para análise de sua pauta, paralisam as atividades. Em 2012, a poucos dias do carnaval, a greve eclodiu com elevação do número de homicídios em 100%. Essa semana o número de assassinatos cresceu vertiginosamente, e os prejuízos são inúmeros. Quem paga essa conta?
A Bahia da propaganda tem a imagem incrementada pelo sistema HD em alta definição; tudo é muito bonito, colorido e festivo. Tudo flui de forma perfeita. Já a Bahia real sofre com greves, arrastões, saques, assaltos, roubos, pânico, violência.
Na Bahia real, após a PM voltar ao serviço, as aulas da rede estadual podem ser suspensas e os servidores poderão também cruzar os braços à espera de acordo. E agora, após visualizarmos nas redes sociais, na TV e nas ruas tantos absurdos, a Bahia real não ganha contornos ainda mais preocupantes? Tomara que, mais uma vez, os estudantes e suas famílias não sejam prejudicados e que a Bahia real imite a propaganda.