Elias de Oliveira Sampaio

Políticas Públicas

Economista do Ministério da Economia. Mestre em Economia e Doutor em Administração Pública pela UFBA. Autor de diversos trabalhos acadêmicos e científicos, dentre eles o livro Política, Economia e Questões Raciais publicado - A Conjuntura e os Pontos Fora da Curva, 2014 a 2016 (2017) e Dialogando com Celso Furtado - Ensaios Sobre a Questão da Mão de Obra, O Subdesenvolvimento e as Desigualdades Raciais na Formação Econômica do Brasil (2019). Foi Secretário Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e Diretor-presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb), Subsecretário Municipal da Secretaria da Reparação de Salvador (Semur), Pesquisador Visitante do Departamento de Planejamento Urbano da Luskin Escola de Negócios Públicos da Universidade da Califó ;rnia em Los Angeles (UCLA), Professor Visitante do Mestrado em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Professor, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas e de Pesquisa e Pós-Graduação do Instituto de Educação Superior Unyahna de Salvador.

O legado de Zumbi está de volta à Fundação Cultural Palmares: Axé João Jorge!

A indicação de João Jorge Rodrigues, Presidente do Olodum, para presidir a Fundação Cultural Palmares a partir de 01 de janeiro de 2023 é, sem dúvidas, a mais importante e emblemática de desta primeira fase do Governo Lula III.

É óbvio que não estou aqui a desmerecer nenhuma das outras nomeações, a exemplo do extraordinário e corajoso movimento do Presidente Lula em indicar Anielle Franco para a Pasta de Promoção da Igualdade.

No entanto, o que para alguns pode parecer algo apenas coerente com o simbolismo progressista que emana dos discursos do PT e de Lula, ao meu ver pode significar um verdadeiro divisor de águas nos debates para as questões raciais no Brasil, não apenas do ponto de vista da Cultura, mas principalmente, para a ampla complexidade de ações que a cada dia são mais necessárias e urgentes para promoção da Inclusão, Diversidade e Equidade que o nosso país tanto precisa.

Observe-se com a devida ênfase, que o ataque sofrido pelo legado da Fundação Cultural Palmares por Bolsonaro e seu governo racista, a partir de ações institucionais muito objetivas contra o povo negro brasileiro, são plenamente comparáveis ao que fizera Joseph Goebbels do Ministério da Propaganda da Alemanha Nazista. Isto é, as ações em organismos na área de comunicação ou cultura não podem ser pensadas como algo pontual ou politicamente menor por se tratar de atividades vindas de entidades de tarefas transversais, como no caso da Alemanha sob Hitler ou de segundo escalão do Governo Federal, no caso de Bolsonaro.

Ao contrário, se para Hitler havia um Goebbels cúmplice de primeira hora do extermínio dos judeus, à frente de um “ministério não militar e sem armas”, a direção da Fundação Palmares sob Bolsonaro teve por objetivo atuar para desconstruir aquilo que Carl Jung poderia chamar de inconsciente coletivo étnico-racial brasileiro, a medida que suas ações foram voltadas para extirpar todo o conteúdo do legado do povo negro, partindo da desqualificação da existência do próprio Zumbi dos Palmares.

O ataque político aos nossos Heróis e Mitos, a partir de uma instituição como a Palmares, não é algo banal e muito menos burocrático, apenas. Por isso, a ação corretiva para mitigar esse conjunto de crimes de racismo, urdidos através da abusiva prática do racismo institucional, não pode ser relegada a uma questão secundária. É por isso, que na esteira da importância da indicação de Margareth Menezes como Ministra da Cultura, a de João Jorge como Presidente da Fundação Cultural Palmares, ao ver, se constitui sim, até o momento, no maior movimento antirracista deste governo e, ademais, se qualifica como uma condição necessária para o mais importante legado que a era Lula III poderá deixar para país, desde que, em ato continuo a esse brilhante ato, toda sua gestão se torne consciente de que o simbolismo da cultura não pode ficar restrito a estética, a ludicidade, ao entretenimento e a contemplação.

Ao contrário, é mandatório dotar o novo ministério de capacidade financeira e de governança em um patamar muito superior ao que já fora experimentado nos primeiros governos Lula e Dilma, considerando que as políticas públicas culturais de outrora, inclusive nos governos subnacionais do PT e da esquerda, já superaram curvas de aprendizado de gestão, as quais, não seriam razoáveis retroceder. Por seu turno, é preciso ter clareza que as ações criminosas e de terrorismos reais e digitais dos racistas em geral, e dos extremistas bolsonaristas em particular, tem sido voltada fortemente contra o nosso legado ético e cultural, haja visto o recente incêndio do monumento em homenagem a Mãe Stella de Oxóssi, em plena Salvador, Capital da Bahia.

Como não há nada no horizonte que indique que essas ações criminosas deixarão de existir no curto prazo, significa que se faz necessário a estruturação estratégica e diária de uma contraofensiva institucional de apropriada robustez.

É nesse contexto, que a ida de João Jorge para Palmares agrega um valor inestimado para se imprimir um modelo de gestão eficaz e efetivo para a própria Fundação em si, mas também para o próprio MinC e o governo como um todo. Com efeito, ter a frente daquela instituição um gestor que está há mais de trinta anos presidindo de forma exitosa o Olodum, o Bloco Afro do Pelourinho – “a Holding Cultural da Bahia” mais conhecida e respeitada do Planeta – se constitui numa oportunidade ímpar para quaisquer governos que se pretendam progressistas e verdadeiramente interessado em fazer um governo com Inclusão, Diversidade e Equidade.

Não obstante, o trabalho e o legado de João Jorge e a “Holding Cultural” que ele preside não têm sido reconhecidos tão somente no estrito âmbito da Cultura e do entretenimento, mas também, como atores sociais propositores e criadores de políticas públicas de promoção da igualdade racial, no âmbito governamental e não governamental com base na diversidade. Com efeito, ao lado de Antônio Carlos dos Santos – Vovô do Ilê Ayiê e suas respectivas instituições e todo o ecossistema sócio econômico e cultural afro da Bahia, João Jorge tem sido uma peça importante em processos muito objetivos de transformação político-institucional no nosso país em prol da igualdade e da democracia, uma vez que a mensagem do Olodum, caixa de ressonância de muitas de suas ideias e lutas – o reconhecimento dos Heróis de Búzios, por exemplo, tem chegado aos quatro cantos do mundo de forma muito eficiente.

Portanto, do ponto de vista institucional, não é apenas o mundo que conhece João Jorge Rodrigues, seu trabalho e seu legado à frente do Olodum. O mais importante neste momento é que a República, sob Lula III, o conhece muito e desde sempre! Logo, é assentado sobre esse reconhecimento político institucional que o legado de Zumbi voltará a estar na centralidade da Fundação Cultural Palmares e, quero crer, que a partir do Minc e demais pastas correlatas, em todo o próximo governo Lula.
Valeu Zumbi! Axé João Jorge!

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