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Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa,e Joseph Blatter, presidente da entidade 07 de junho de 2015 | 08:15

Em meio à crise na Fifa, Joseph Blatter tenta limpar seu nome

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O drible mais espetacular do ano já tem dono. Ele não é de Messi ou Cristiano Ronaldo. Mas sim de Joseph Blatter, que anunciou nesta semana o fim de seu mandato, acuado e pressionado por patrocinadores e polícia. Mas, no estilo que o marcou por 40 anos, o cartola não deixou o poder e, nos bastidores, prepara o que muitos já chamam de golpe. Ele fechou um acordo que garante sua saída, mas o permite tempo para apagar qualquer rastro de irregularidades e construir um sucessor que possa o blindar por mais uma década, possivelmente a última de sua vida. Acima de tudo, porém, ele promete uma reforma na Fifa para dar mais poder a africanos, latino-americanos e asiáticos, enfraquecendo a Uefa e colocando um limite à influência de grandes federações. Assessorado por seus advogados, Blatter em nenhum momento em seu discurso usou a palavra “renúncia”. Apenas indicou que entregaria seu mandato e continuaria trabalhando para uma reforma da Fifa. Entre seus aliados, ninguém espera que ele se mantenha no poder diante do risco de uma investigação nos Estados Unidos e da pressão dos patrocinadores. Mas, na prática, ele retirou de si parte da pressão e abriu caminho para montar uma estrutura que o continue blindado. “Blatter não jogou a toalha simplesmente sob pressão”, afirmou François Carrard, ex-diretor-geral do Comitê Olímpico Internacional (COI) e velho amigo do suíço. “A imprensa e outros atores subestimam a inteligência de Blatter”, atacou. “Ao fixar um congresso extraordinário no qual ele entregará seu mandato, ele mostra que vai sair quando ele achar adequado. Isso pode ocorrer em março de 2016, coincidentemente quando ele cumpre 80 anos”, disse. “Mesmo que ele não se anuncie como candidato, ele vai tentar uma reforma e preparar sua sucessão. Ele agirá rapidamente”, disse o ex-dirigente. No centro de sua proposta está a reforma da Fifa. Mas fontes próximas ao suíço confirmam que a meta é a de enfraquecer a Uefa. Hoje, o Comitê Executivo da Fifa tem seus nomes escolhidos pelas confederações regionais. Blatter quer que o voto seja das 209 federações nacionais, justamente no formato onde ele sabe que melhor pode influenciar e barganhar votos. “Na prática, o que Blatter está fazendo é um golpe branco”, disse uma fonte em Zurique, na condição de anonimato. “Ele deixará o cargo. Mas não permitirá que os europeus vençam”.

Jamil Chade, Agência Estado
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