19 de junho de 2015 | 19:30

Ex-funcionário da Conmebol denuncia propina do Japão a Leoz por sede de 2002

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O Japão pagou US$ 1,5 milhão para que os países sul-americanos votassem para que o Mundial de 2002 ocorresse no país asiático – organizou junto com a Coreia do Sul. Mas o dinheiro jamais entrou na conta das federações e foi desviado pelo então presidente da Conmebol, o paraguaio Nicolás Leoz, que o repartiu entre seus assessores mais próximos. A denúncia foi publicada nesta sexta-feira pelo jornal espanhol AS a partir de um ex-funcionário da Conmebol, que pede anonimato por temor de ser perseguido. Segundo a fonte, ele teve de sair do Paraguai temendo por sua vida e de sua família e hoje vive na Espanha. Seu testemunho revela desvios milionários de dinheiro para as contas pessoais de Leoz, hoje em prisão domiciliar e aguardando extradição aos Estados Unidos. Segundo o delator, suas contas se confundiam com a da instituição sul-americana, com sede em Assunção e que até pouco tempo tinha imunidade diplomática. Em seu relato, o delator que trabalhou por uma década e meia na Conmebol conta como transferências de todo o mundo chegavam até as contas de Leoz em Assunção, no Brasil, Estados Unidos e no Panamá. “Às vezes, para maquiar as operações, usavam laranjas e alguns de seus familiares”, disse. Uma delas era a esposa de Leoz, María Clemência. Uma das denúncias se refere a um valor de US$ 1,5 milhão enviado pelos organizadores japoneses para que a Conmebol distribuísse aos cartolas da região por seu apoio ao país na sede de 2002. O dinheiro teria sido enviado na época pelo presidente da Federação Japonesa, Ken Naganuma, já falecido. Mas esse dinheiro se distribuiu de outra forma: US$ 1,2 milhão para a conta de Leoz, US$ 200 mil para seu secretário-geral, Eduardo de Luca, e US$ 100 mil para Zorana Dannis, que fazia a ligação com a Fifa. No caso de Leoz, o dinheiro foi depositado em sua conta pessoal 1596/2 da agência do Banco do Brasil de Assunção. Outros valores foram para o Northern Trust International Bank, de Nova Iorque e o Citibank em New Jersey. Segundo o delator, essa teria sido “uma das operações”. “Mas outras mais ocorreram, nem todas passaram por mim”, explicou. “Essas eram práticas habituais e seguidas”. MEDO – O ex-funcionário acredita que, depois das prisões, chegou a vez de ele contar sua história. “Carreguei isso por muito tempo”, disse. “Deixei o Paraguai preocupado”, contou. “Quando eu queria parar de fazer o trabalho que eles me pediam, dos subornos, o problema começou”, disse. “Eles passaram a me observar, carros sem placas me seguiam e meu telefone tocava”, insistiu. O delator conta que, mesmo quando já estava fora do Paraguai, tiros foram disparados contra sua casa. Sua fuga ocorreu depois que foi orientado por um senador. Para ele, a sede da Conmebol, com imunidade diplomática, “era o lugar mais seguro do Paraguai”. “Mas trabalhar dentro dela significava riscos”.

Estadão Conteúdo
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