16 de outubro de 2016 | 18:03

Crise eleva tensão em áreas de fronteira da Venezuela

brasil

José Guerra começa o dia dobrando o pedaço de papelão que é sua cama no terminal rodoviário de Pacaraima, a última cidade de Roraima antes da fronteira com a Venezuela. Durante o processo, não tira os olhos de um caminhão estacionado poucos metros à frente, do outro lado da rua estreita que começa na BR-174 e termina após três quadras. Às 5h20, o venezuelano de Puerto Ordaz espera o motorista da carreta acordar para oferecer seus serviços de carregador. Por “15 ou 20 reais” a cada veículo atendido, segundo ele próprio, Guerra e outras dezenas de imigrantes trabalham transferindo alimentos que chegam de Boa Vista, Manaus e até cidades mais distantes. Os armazéns lotados vendem os produtos em fardos a venezuelanos que os levam em carros comuns ou pequenos caminhões. A escassez de alimentos no país vizinho movimenta os negócios de dezenas de comerciantes em Pacaraima – açúcar, arroz, farinha de trigo e produtos de higiene são os mais buscados. O fluxo intenso de venezuelanos preocupa o governo estadual de Roraima e o federal, que nos últimos dias coordenam ações para frear a intensificação de uma crise humana muito maior do que a que afetou o Acre com a chegada maciça de haitianos entre 2012 e 2013. Só em 2016, 1.805 venezuelanos atravessaram a fronteira por Pacaraima e pediram refúgio no Brasil. De 2010 a 2015, este número foi de apenas 1.096.

Estadão Conteúdo
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