Foto: Ricardo Brandt
Acesso à PF em Curitiba, onde Lula está preso 16 de julho de 2018 | 06:50

Em 100 dias, Lula fez da cela seu comitê de campanha e de resistência

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O inverno fez a temperatura despencar em Curitiba: na última quarta-feira os termômetros chegaram perto de zero grau durante a madrugada. Nesses dias, Luiz Inácio Lula da Silva mantém fechadas o vão das duas janelas da sala transformada em cela, na sede da Polícia Federal, onde está preso e condenado há 100 dias – completos nesta segunda-feira, 16. A estratégia para aplacar o frio cortante isola acusticamente o ambiente e torna inaudível os gritos diários de “bom dia, boa tarde e boa noite presidente Lula” – dos poucos manifestantes que ainda resistem em vigília acampados no entorno do prédio, em resistência e solidariedade ao petista. Na última quinta-feira, com os termômetros em queda e em meio à cerração um pequeno e resistente grupo de manifestantes do entorno da PF gritava: “Tá muito frio, não é moçada, mas pelo Lula a gente enfrenta até geada”. Lula reclama do frio da capital paranaense. E aguarda nova sentença do juiz federal Sérgio Moro (a do caso de propina da Odebrecht no terreno do Instituto Lula), as as definições impostas pelo calendário eleitoral. A convenção partidária está marcada para o dia 28 e falta um mês para o dia final para o registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – o prazo é 15 de agosto. Mais magro do que estava quando chegou preso de helicóptero, na noite de 7 de abril, mas sem demostrar abatimento, Lula – o mais importante preso da Lava Jato – transformou sua “cela” em comitê político, eleitoral e de resistência. Do cubículo de 15 metros quadrados, o petista dita as estratégias e os passos ao partido e aliados. Mesmo com as chances de concorrer ao terceiro mandato cada vez mais remotas, o ex-presidente buscar evitar que o isolamento da prisão ofusque sua liderança política e eleitoral – mesmo preso o petista segue bem a frente dos atuais pré-candidatos. “Os objetivos dessa prisão ilegal, que eram isolá-lo e levá-lo ao esquecimento, e tentar construir uma candidatura alternativa, não foram cumpridos”, afirma o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) – um dos autores do pedido de liberdade, concedido pelo desembargador do plantão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) Rogério Favreto, revertido depois e estopim de uma polêmica ainda não superada na Lava Jato.

Estadão
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