Foto: Felipe Rau / Estadão
Trecho do Rodoanel Norte, alvo da Operação Pedra no Caminho 24 de agosto de 2018 | 07:15

Gerente da Caixa diz que empresa de obra no Rodoanel devolvia dinheiro em espécie

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Em depoimento à Operação Pedra no Caminho, o gerente regional da Superintendência da Caixa Econômica Federal, em Santana, bairro da zona Norte de São Paulo, Rafael Campagnucci Pereira, afirmou que uma empresa ligada às obras do Rodoanel Norte recebia valores de grandes construtoras, sacava e devolvia metade do dinheiro às empreiteiras. O gerente declarou que essa informação lhe foi passada pelo dono da própria empresa, a Catita Terraplanagem, durante uma reunião no banco. Pedra no Caminho investiga fraudes no Rodoanel Norte. A operação culminou com uma denúncia contra 14 investigados e também com a abertura de novas frentes de apuração. As declarações de Campagnucci foram prestadas em 26 de junho de 2017, no Ministério Público Federal. O gerente declarou que a Catita havia se tornado, na época, ‘um dos maiores devedores da Superintendência’ e foi convocada uma reunião com objetivo de adimplência. “A empresa Catita Terraplenagem possui, em dívidas entre as três agências da Caixa Econômica Federal sob a superintendência do depoente, cerca de R$ 2,5 milhões; que tiveram uma reunião com a empresa Catita Terraplenagem, com objetivo de verificar se a empresa tinha condições de renegociar suas dívidas”, relatou o gerente da Caixa. Campagnucci disse aos investigadores que a reunião ocorreu em 2 de junho de 2016. O gerente contou que, além dele, estiveram no encontro uma gestora da plataforma de Adimplência da Superintendência de Santana, um gerente geral de uma agência da Caixa e o empresário Nestor Pinheiro Santos e seus filhos Janaína Teixeira Santos e Jairo Teixeira Santos, pela Catita. “Perceberam que a Catita Terraplenagem tinha o mesmo faturamento de dois anos atrás, do momento em que foi feita a dívida, de modo que não conseguiria pagar a renegociação”, afirmou Rafael Campagnucci. “Neste momento, ao que pareceu até que meio a contragosto dos filhos, o senhor Nestor revela que ‘há uma situação que não sabia se poderia falar, mas que prestava serviços para as grandes construtoras OAS e Camargo Corrêa, e que tinha a combinação com eles de ter que devolver metade dos valores às construtoras’; que Nestor relatou que recebia o valor das construtoras, tinha que sacá-los e devolver metade dos valores; e que tinha que fazer os pagamentos às construtoras em espécie; que se referiu aos serviços prestados pela Catita Terraplenagem nas obras do Rodoanel Trecho Norte.” Campagnucci disse ao Ministério Público Federal que decidiu noticiar o órgão sobre a reunião com os sócios da Catira depois de ouvir ‘notícias na imprensa sobre o Trecho Norte do Rodoanel’. Além do gerente, outra funcionária da Caixa que esteve na reunião falou à Procuradoria. “Participou da reunião de 2 de junho de 2016, nas dependências da Superintendência de Santana, e que tal reunião lhe pareceu muito ‘estranha’, porque os dois sócios ficaram calados, pois quem conduziu a reunião pela empresa foi Nestor Pinheiro Santos”, contou a gestora da plataforma de Adimplência do banco Tatiana Silva Prestes. “Nestor Pinheiro Santos relatou uma situação que deixou a depoente muito surpresa e assustada: ‘que tinha que devolver metade dos valores para as construtoras para quem prestava serviço, citando a OAS e a Camargo Corrêa’, e por isso o faturamento da Catita não condizia com os documentos comprobatórios de faturamento que apresentavam; e quando deixou de receber dessas empresas o faturamento deles diminuiu; que se referiu aos serviços prestados pela Catita Terraplenagem na obra do Rodoanel Trecho Norte.” Ao Ministério Público Federal, Tatiana também contou que ‘a empresa fez à época uma proposta para Caixa mas eles queriam pagar uma parcela de valor muito reduzido’. Segundo a gerente, ‘os contratos da empresa continuam em execução, para tentar retomar os equipamentos que foram financiados à empresa’.

Estadão
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