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Desembargador José Rotondano resolveu fazer uma despedida em solenidade de posse do sucessor no TRE 29 de março de 2019 | 10:13

Rotondano força barra para discursar em posse de sucessor e é alvejado por atitude e biometria

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Não contou com a aprovação de alguns desembargadores, juízes e funcionários do TRE a atitude do desembargador José Rotondano de pedir para quebrar o protocolo e discursar na solenidade de posse de seu sucessor no Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Jatahy Fonseca, ontem, no sede do órgão.

Primeiro, porque há um entendimento consensual de que a posse é uma festa exclusiva do empossado, para o qual devem se voltar todos os holofotes. Depois, porque o espaço para a despedida já tinha sido usado por Rotondano no dia anterior, no mesmo auditório do TRE.

Para completar, além de a quebra da regra ter sido considerada inédita, Rotondano usou como pretexto para falar a necessidade de fazer uma saudação ao colega que o sucedia, embora no discurso, lido do púlpito, tenha se concentrado exclusivamente na exaltação de suas realizações à frente do TRE.

Ainda que considerada, portanto, um logro, a intervenção provavelmente não teria ampliado tanto o desconforto se o desembargador não tivesse destacado com orgulho, entre os feitos de sua gestão, o avanço do processo de biometria no Estado.

Ocorre que, especialmente funcionários da Corte, são muito críticos da metodologia aplicada pelo ex-presidente para bater as metas de biometrizados, que, conforme ele mesmo fez questão de ressaltar no discurso, deu à Bahia a posição de campeã em números absolutos na conversão de eleitores.

Alegam que não apenas eles, encarregados de operacionalizar o processo, como, principalmente, os eleitores, em especial os mais pobres, tiveram que pagar um preço altíssimo para atingir os objetivos do ex-presidente, cobrado, na avaliação deles, pelas filas quilométricas que se formaram durante o processo.

“O ex-presidente deveria reconhecer o quanto funcionários e eleitores choraram nas filas, às vezes por mais de um dia, aguardando a sua hora num contexto de falta de estrutura e esforço sobre-humano”, disse uma funcionária do TRE a este Política Livre, no momento em que Rotondano pediu permissão para chorar enquanto discursava.

Ao término da solenidade, ela se aproximou discretamente para informar que a reportagem deveria ter visto a onda de alegria que percorreu o TRE no momento em que espalhou-se pelos corredores que, numa entrevista antes do evento, o novo presidente anunciou que a biometria prosseguiria, mas não mais de forma tão traumática.

A declaração foi interpretada como uma demonstração de sensibilidade de Jatahy com relação à necessidade de encerrar uma era de sacrifícios “desnecessários”, impostos a funcionários e à sociedade por uma liderança que muitos descobriram como autoritária do ex-presidente.

Perguntada sobre as palmas com que, pelo menos em dois momentos, Rotondano teve seu discurso interrompido, a mesma funcionária disse que não eram naturais. “São de uma claque, tão artificiais quanto as lágrimas”, disse, virando-se para o local em que o ex-presidente se encontrava.

Ela fez questão de lembrar de uma postagem feita pelo ex-presidente nas redes sociais, de sunga, ao lado de uma prancha de surf, na mansão da cantora Ivete Sangalo, na Praia do Forte, enquanto os funcionários perdiam noites e finais de semana no ápice da confusão provocada pelo processo de biometria. “Foi o auge do desrespeito”, recordou.

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